segunda-feira, 31 de março de 2014

Cinquenta anos e outra história


50 anos. Esse foi o tempo em que jovens de todo o Brasil foram às ruas em prol de algo que para nós tem sido essenciais na constituição de um país forte e soberano: a democracia. Há meio século o Brasil encontrava-se numa encruzilhada histórica: de um lado, a necessidade de dar vazão às necessidades da maioria da população brasileira, representadas na reformas de base, propostas por João Goulart; do outro, o enfrentamento ao “espectro do comunismo” feito por uma aliança civil-militar-empresarial, cujos setores da mídia contribuíram com grande responsabilidade para momentos aviltantes da história de nosso país.

Foram vinte anos em que as liberdades individuais e coletivas eram ameaçadas cotidianamente; em que jovens como nós, não poderiam se reunir, manifestar suas vontades e anseios de uma juventude que conviveu com décadas de grande efervescência cultural e de grandes manifestações políticas mundo afora – como o maio de 68 na França.

O Brasil, assim como demais países da América Latina, foi alvo da experiência do Imperialismo estadunidense, cuja representação maior era a “Doutrina Monroe”, “a América para os americanos”. Essa perspectiva era oriunda da tentativa de uma classe dominante acabar com as conquistas obtidas pela classe trabalhadora pós Revolução de 1917. Direitos trabalhistas, das mulheres, de negros e demais setores da população, eram uma afronta à burguesia internacional.

Mesmo assim, com todos esses reveses, a juventude brasileira não se calou diante da repressão e da retirada de direitos. A juventude se manifestou na “’Passeata dos 100 mil”, se manifestou nos festivais de música, no cinema, nas peças engajadas como “Roda Viva” de Chico Buarque. A juventude cantou e desenhou através do CPC da UNE. Morreu e fez viver em cada um o sonho por um país democrático. Foi nessa toada que jovens foram perseguidos na Guerrilha do Araguaia; foi nessa toada que Edson Luís, de 16 anos, morreu a tiros. E foi por isso que a juventude permaneceu em alerta até a grande vitória das Diretas Já, da Constituinte com voto – este que fora proibido – aos 16 anos.

Hoje, numa nova encruzilhada histórica, em que é preciso decidir se damos continuidade às mudanças vividas pelo país nos últimos 11 anos, ou se retrocedemos àqueles que sob verniz democrático venderam a nação na década de 90. É preciso retomar as respostas aos anseios da maioria da população. Daqueles que querem ver um país com direitos a todos e a todas, em que as mulheres não sejam estupradas pelo simples motivo da roupa que vestem, em que homossexuais não precisam viver sob vigília, qual vivia-se na Ditadura.

Por isso, a juventude de hoje, filha daqueles que derramaram sangue na Ditadura, vai às ruas pedir pra que sejam realizadas as reformas que estão atrasadas no país há, no mínimo, um século. Reforma urbana, política, dos meios de comunicação, tributária, educacional, reforma agrária.

Hoje a juventude vai às ruas para que se implemente o Plano Nacional de Educação que garanta o investimento de 10% do PIB para a educação. Reformas que garantam a cidade para todos, e que garanta um país que reflita a heterogeneidade de uma população e de uma juventude que quer mais. De uma juventude que nunca se negou a ir pras ruas, em qualquer momento: seja naqueles de tempestade profunda, ou nos períodos cuja luta é por mais – MAIS democracia; MAIS desenvolvimento; MAIS direitos; MAIS Brasil, para MAIS brasileiros!


terça-feira, 25 de março de 2014

PCdoB - 92 anos


Petrobras, samba, candomblé, democracia, trabalhadores, reformas, revolução, sangue, entrega, combate à corrupção, Diretas, soberania, Copa do Mundo, Brasil. Se você já escutou essas expressões de maneira descontextualizada da história do povo brasileiro, com certeza não alcançará a dimensão que essas palavras têm para os comunistas do Brasil, ou melhor, em uma troca sintática, a importância que os comunistas têm para que essas palavras possam fazer parte do dia a dia do brasileiro, e que existam pessoas dispostas a debater o futuro, os rumos da nação.

Neste 25 de março, o PC do Brasil completa 92 anos, episódio cuja comemoração deve ser feita, de maneira irrefreável por militantes de um mundo mais justo. Comemora-se, sobretudo, porque identificamos, no PC do Brasil, mesmo após 92 anos de existência, sua capacidade de reinventar-se, de aliar, como todo partido de tipo leninista que se preze, a teoria e a prática. Neste partido de 92 anos, não há espaço para o diletantismo vazio de uma esquerda que não consegue enxergar as leis objetivas da natureza e da economia, nem há espaço para o pragmatismo e liberalismo daqueles que sucumbiram a uma derrota parcial do incipiente movimento comunista pelo mundo. Adaptar-se a realidade sem perder a essência, cumprir a tarefa de um marxista: desenvolver a teoria revolucionária.

Em meio a momentos de erupção política mundo afora, em que, de um lado a contraofensiva do neoliberalismo, perdido em uma crise profunda, e do outro, a esquerda radical, o PCdoB toma como essencial a luta pela soberania nacional. Assim, como diz Gramsci, contribui com maior peso na determinação da história do país. Desafiando-se a encontrar os caminhos que farão parte da emancipação do proletariado.

Herdamos a tradição daqueles que lutaram, guerrearam, com “pedras, noites e poemas”, ou com armas, com guerrilha. Herdamos a tradição daqueles que entenderam que um novo mundo é possível. Somos herdeiros de Astrojildo, Jorge Amado, Marighela, Prestes, Maurício Grabois, Pedro Pomar, Lincoln Oest, João Amazonas.

Está em nosso DNA a luta pela democracia; mas não a democracia demagógica à qual somos submetidos, não à aparência, e sim a essência de todos os fenômenos.

Nesses 92 anos de luta, o PC do Brasil faz da sua inventividade, ousadia e militância, armas para enfrentar o duro jogo da democracia burguesa, na qual o poder econômico define quem apita, na qual o simples fato de você ser negro, pobre, gay o descredencia de direitos básicos de uma sociedade amplamente desigual. Nesses 92 anos, erguemos a bandeira do socialismo com seu mastro fincado em solo brasileiro, escutando, sabendo e buscando soluções para os problemas da sociedade brasileira, num país cujas transições sempre se deram de maneira incompleta - abolição da escravatura, Independência, República - é preciso dar passos finais e iniciais para uma transição completa, a um novo ciclo civilizacional: o socialismo.

O Partido Comunista do Brasil, com os pés na realidade, não despreza trincheiras para acumular força, e por isso, congratula-se em fazer parte desse novo momento do Brasil, contribuindo com o sucesso do primeiro governo oriundo das forças populares desse país.

Mas o PCdoB não se furta de fazer as críticas necessárias, de ampliar as conquistas. Por isso, não se cansa de defender um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, que garanta Reformas Estruturais que poderiam ter sido feitas há muito mais tempo. É preciso garantir a qualidade de vida nas cidades, uma comunicação condizente com a pluralidade do nosso povo, uma educação digna para os filhos dos trabalhadores, terra pra quem quiser plantar, saúde e segurança para todos. Para isso, temos um exército enraizado, sobretudo de jovens, mulheres, trabalhadores e intelectualidade progressista, que entende que desenvolver a nação é caminho para um país justo e soberano.

Sem modelo único, sem dogmatismos, estamos vivos e prontos para mais 92 anos de luta.


            Parabéns, PCdoB!

sábado, 22 de março de 2014

O Brasil, nestes 50 anos

Por Emir Sader, em seu blog.




O golpe cortou um relativamente breve período democrático, de menos de duas décadas. Tinha sido um tempo traumático para a direita, derrotada três vezes nas eleições presidenciais e frustrada quando triunfou pela única vez.
Ela tinha tido que conviver com um clima relativamente aberto de disputas, com partidos de esquerda, sindicatos, greves, grandes concentrações populares, começo de sindicalização no campo. Desde a fundação da Escola Superior de Guerra - por dois dos próceres golpistas de 1964, Golbery e Castelo Branco -, que os militares, apoiados na Doutrina de Segurança Nacional, se puseram a tramar golpes, até sua consumação em 1964.

Desde então o país viveu o período ditatorial de 21 anos, uma chamada transição democrática de 5 anos do governo Sarney, o período neoliberal de Collor, Itamar e FHC, de 12 anos e os governos do PT, do Lula e da Dilma, cujos 12 anos completam o cinqüentenário desde o golpe.

A ditadura representou a restauração do férreo domínio do grande capital nacional de internacional, com um modelo exportador e de consumo de luxo, amparado num regime de terror. Depois da derrota, pela repressão, da resistência clandestina, vieram os tempos da recuperação econômica - nos moldes citados - até a crise da dívida e as greves do ABC, que levaram o regime à sua fase terminal. Que ele conseguiu condicionar, bloqueando no Congresso as eleições diretas e impondo a via do Colégio Eleitoral.

Esta via condicionou o caráter da transição, impondo-lhe um teor conservador, que a limitou à restauração dos marcos gerais do Estado de direito. Não houve democratização econômica e social, deixando incólumes o poder dos bancos, dos latifundiários, dos meios de comunicação, das grandes corporações industriais e comerciais, nacionais e estrangeiras.

Esgotou-se assim o impulso democrático gessado na resistência à ditadura e expresso na Assembléia Constituinte e se favoreceram as condições para a abertura do período neoliberal. Collor o introduziu com seus dois motes demagógicos: os carros fabricados aqui seriam "carroças", apontando para abertura escancarada do mercado interno;  e os funcionários públicos seriam "marajas", apontando para o Estado mínimo e a centralidade do mercado. Sua queda deixou truncado esse processo, que foi retomado pelo FHC.

Como Collor não conseguiu fazer todo o trabalho sujo das privatizações e do desmonte do Estado, para que o FHC aparecesse como a "terceira via", estilo Tony Blair e Bill Clinton. FHC teve que vestir o tailleur da Margareth Thatcher e cumprir as tarefas duras do receituário neoliberal. Também porque, com o fracasso do Collor, tivemos no Brasil um neoliberalismo tardio, já contemporâneo da crise mexicana, a primeira crise especificamente neoliberal na América Latina.

Além dessas limitações, FHC teve que se enfrentar com fortes resistências do movimento popular, em que o PT, a CUT, o MST e outros movimentos sociais tiveram o maior protagonismo. FHC teve sucesso no controle imediato da inflação, suficiente para se reeleger. Mas ao preço de jogar a economia do pais numa estagnação profunda e prolongada, que levaria ao fracasso do seu governo - incluindo a retomada da inflação e um gigantesco défice publico endividamento com o FMI - e 'a derrota dos tucanos na eleição presidencial de 2002.

Desde então se começou um período de construção de alternativas de superação do neoliberalismo, que prossegue no pais. Lula recebeu uma herança maldita, a partir da qual organizou uma cautelosa transição nos seus primeiros anos de governo - a era Palocci - até a passagem à era do modelo econômico e social, que explica o enorme apoio popular do seu governo e do da Dilma.

sábado, 15 de março de 2014

Sobre a luta de ideias

Quem já fez ou faz movimento estudantil, seja na década de 90, cujo combate ao neoliberalismo era o principal mote, seja nos anos 2000, cuja briga era e é para ampliar o acesso e a qualidade da escola e da universidade brasileira, sabe o quanto têm sido importantes as políticas afirmativas que buscam democratizar a universidade brasileira. Afinal de contas, num país em que o ensino superior é algo relativamente novo, num país cujas elites se formavam viradas para a metrópole Portugal, acabou-se, equivocadamente, criando a ideia de naturalidade em relação ao perfil excludente da universidade brasileira.



Contudo, nos últimos onze anos, o Brasil passou a viver, através de políticas com as cotas, uma mudança considerável no perfil das universidades. Mas, mesmo assim, a universidade ainda se mantém com um dos feudos da elite brasileira.. É nesse espaço institucional que a burguesia vem solidificando sua opinião e formando "quadros" para dirigir o país conforme os interesses particulares de uma classe. Dessa forma, é na pós-graduação que moram todos os aspectos de indução dessas práticas. Pois, se por um lado, tem-se conseguido fazer a democratização da graduação, na pós-graduação a realidade ainda é bem precária. Núcleos de poder são formados e protegidos por uma pequena parcela da população que, não entendendo como público o direito à ciência, escolhem o perfil de cursos universitários, como e com quem deve-se pesquisar no país.

Fazer o balanço, portanto, da luta de ideias que se trava no interior da universidade brasileira, colocando os dois lados - democratização do acesso/pós-graduação conservadora - é reconhecer que os avanços e retrocessos são sintomas de uma sociedade em transição. Por isso, não se pode nem afirmar com toda certeza que vencemos a batalha quando conseguimos colocar o povo, de maneira gradual, na universidade; nem podemos dizer que tudo está perdido quando nos deparamos com o quadro da pós-graduação. No mínimo, conseguimos constatar que "a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante". Portanto, para alcançarmos isso, conquistar o poder político é essencial.

Para o PCdoB, o proletariado tem na justaposição de três frentes de acumulação de força - institucional, de massas e de ideias - a grande estratégia para se obter esse poder. Mas ao relatar esses elementos, é possível fazer crer que a luta de ideias está presente em todas as demais lutas. É impossível fazer luta institucional e de massas se não houver boas ideias pelas quais se queira lutar. E mais: articulá-las e formulá-las é essencial para a disputa que há em toda a sociedade (universidades, mídia, escola etc). Por isso, se por um lado é salutar a luta por escolas de qualidade, condições dignas de trabalho, entre outras; a luta por uma universidade "pintada de povo" é cada vez mais urgente num país que há onze anos é dirigido por uma frente de esquerda. Desenvolver a economia do país passa, também, por um desenvolvimento diferenciado das ideias que podem transformar para melhor a vida das pessoas; e se "pintar a universidade de povo" é uma meta, que a graduação seja apenas o piso, para desenvolver a ciência com o povo e para o povo, reforçando setores estratégicos e que façam o país crescer.

quinta-feira, 6 de março de 2014

10 Anos de Facebook, muitos mais de luta!

Recentemente o Facebook completou dez anos de existência. Além das lembranças na própria rede social, para além do filme que conta toda a saga do seu idealizador, essa data marca uma mudança na forma como a sociedade tem se comunicado e, ao mesmo tempo, um retorno à necessidade de se comunicar de fato.

O surgimento da internet no período da Guerra Fria, embora tenha sido feito por outros motivos, se confunde com a história da comunicação cada vez mais rápida que a rede proporciona; por isso, não seria exagero dizer que a história da informática como um todo se confunde com a história do que hoje denominamos de "redes sociais". Há, entre nós, uma geração de internautas que se acostumaram com esse modelo de comunicação: desde o antigo mIRC, passando pelo MSN,Orkut, Skype, entre outros. Além da marca da velocidade de comunicação existente nesses instrumentos, a velocidade com que também eles desapareceram do dia a dia do usuário.

E por que a experiência do Facebook tem sido tão duradoura?


Longe de ser um especialista no tema, arrisco-me a dizer algumas linhas sobre o caso: primeiro, para quem assistiu ao filme "A Rede Social", fica identificado, na concorrência capitalista  que esse mercado tem, a miscelânea de ideias e conceitos que constituem o Facebook - a primeira impressão, a leigos como eu, é de que ele é uma mistura de todas as experiências anteriores -, segundo, creio que o modo veloz e dinâmico por que são transmitidas as informações e, terceiro (e talvez o mais polêmico), a falta de mediação existente. Se antes, a divisão por grupos, comunidades, salas de bate-papo era essencial à participação dos internautas, no Facebook, a informação é livre e o filtro é o próprio leitor que faz, mesmo existindo grupos temáticos, não é aí que se dão as verdadeiras polêmicas, fazendo parecer, quando se debate política, um grande "horário eleitoral gratuito", ou melhor, um jogo de torcidas.

Embora haja pontos de críticas ao conteúdo e aos interesses do que tem se tornado uma das cinco maiores empresas do ramo, precisamos investigar o motivo do seu sucesso, principalmente no Brasil. Nosso país tem sido campo fértil para todas essas experiências em rede. Mesmo num país cuja desigualdade social é imensa e o acesso à rede mundial de computadores não seja tão justa, no Facebook, há uma certa "democracia virtual", em que as opiniões de quem escreve de um "xing-ling" chega ao mesmo ambiente dos que escrevem das salas de redação de grandes empresas jornalísticas. Portanto, num país em que a concentração da informação/desinformação da grande (velha) mídia é imensa, há sim, um fator positivo a ser comemorado.

Porém,  mesmo com a possibilidade de, no caso dos marxistas, se enxergar nos "meios de comunicação que são criados pela grande indústria" (Manifesto Comunista) a possibilidade de "operários de localidades diferentes contatarem entre si" (idem), ou ainda lembrar o papel que os jornais impressos cumpriram, como o "Iskra", na Revolução Russa de 17; a esquerda ainda engatinha na apropriação desses meios de comunicação. Mesmo assim, é através das redes sociais que é potencializada a importância dos blogs alternativos. Se não fossem eles - e sua repercussão nas redes - ainda hoje acreditaríamos no "suposto objeto" jogado na cabeça de José Serra, vulgo bolinha de papel.



Por isso, mesmo não sendo grandes novidades, mais do que reelaborar um "ativismo" vazio pela "democratização dos meios de comunicação", é preciso entender os motivos que fazem dessa luta uma luta estratégica. Saber, primeiro, entender com quem estão os "meios de reprodução" da opinião e entender que os mesmos estão nas mãos dos nossos inimigos de classe é fundamental; segundo, saber fazer dessa luta um meio para a elevação da consciência da população, sem, para isso, abrir mão dos instrumentos que a burguesia domina e conduz diante da luta de classes, mas que sirva a nossos interesses, na luta contra uma mídia cada vez mais monopolizada.