domingo, 27 de julho de 2014

O voto, frente institucional e acumulação de forças


Em ano de mais uma eleição presidencial, na qual, além de obviamente elegermos o projeto que conduzirá o Brasil nos próximos quatro anos, decidiremos também como serão governados os estados brasileiros e como serão formados os parlamentos que fiscalizarão o executivo e proporão as leis de que o país precisa para avançar em reformas estruturais rumo a um novo projeto nacional de desenvolvimento. Mas, como vencer e qual o papel das estruturas de poder para, de fato, realizarmos essas reformas?

A pergunta, embora genérica, remete a, primeiro, a consciência que o povo brasileiro precisa ter em distinguir a existência, hoje, de dois projetos bem distintos: um neoliberal, entreguista e alinhado ao imperialismo estadunidense e outro nacionalista, desenvolvimentista e com preocupação em acabar com as desigualdades regionais e sociais (isso para ficar só por aqui). Em episódio recente, por exemplo, a banca internacional, claramente, através de extratos bancários para possuidores de contas milionárias no banco Santander, pede para não votar em Dilma por essa prejudicar seus lucros. Além, é claro, das mentiras e absurdos todos os dias passados pela mídia e oposição.

Para além de fazer a propaganda dos governos populares de Lula e Dilma, é importante salientarmos a importância que o voto tem no atual estágio da luta de classes no Brasil. É comum ouvirmos, principalmente entre a classe média, o discurso de que as coisas “só vão melhorar quando o voto deixar de ser obrigatório”. Muitos acham que, da maneira como são as regras, o voto é exercido por uma ampla camada de pessoas “incapacitadas para tal”. Ora, além de elitista e preconceituosa essa visão, ela ignora o histórico de lutas que, tanto no Brasil como em outros países, foram feitas para que tivéssemos esse direito. Obviamente, o voto não obrigatório beneficiaria os mesmos que são contra os programas sociais, contra mais vagas em universidades para filhos de trabalhadores etc.

É salutar relembrar o papel do voto por que, mesmo acreditando que o sistema eleitoral e a democracia burguesa não nos satisfazem plenamente, foi através dele que vimos as principais mudanças pelas quais o Brasil passou em seus 514 anos de história. Foi através desse modelo de democracia – falho – que realizamos mudanças no plano econômico (com aumento do passivo externo líquido, fim da dívida com FMI, geração de empregos); sociais (bolsa família, vagas em universidades, escolas técnicas, mais médicos etc.) e políticas (intervenção soberana do país perante a geopolítica mundial, criação do BRICS, integração latino-americana e mais). Foi e será através do voto – a talvez mais burguesa das instituições e pela qual derramamos sangue – que poderemos avançar nas mudanças necessárias.

As mudanças também são locais

Essas mudanças, tendo em vista a diminuição das desigualdades regionais, precisam ser refletidas também nos estados. Por isso, é importantíssimo elegermos projetos que conectem os estados com as mudanças geradas no curso da luta política. Deixo, então, três exemplos distintos de como as particularidades nos estados pesam na hora de decidir o voto. Em São Paulo, estado com a maior economia do Brasil, os dois projetos acima citados estão em disputa quase que em paralelo à disputa nacional: de um lado, o PSDB que dirige o estado há 20 anos e que resume a forma tucana de governar – para poucos; lá a centralidade da esquerda no projeto da eleição de Padilha é fundamental para aprofundarmos as mudanças naquele que detém a maior economia do país. No Maranhão, a conjuntura não é simples: com a finalidade de derrotar uma oligarquia que governa o estado há décadas e que interfere politicamente no plano nacional, além de colocar o rico estado do Maranhão com índices sociais sofríveis; une-se um amplo espectro de forças políticas, reunindo partidos como o PSDB, do presidenciável Aécio Neves, e o PSB do presidenciável Eduardo Campos, sob liderança do PCdoB. A justeza desse projeto justifica a amplitude de alianças em torno da melhoria da vida do povo maranhense. Aqui, na terrinha, não menos complexo, temos, de um lado, um projeto que nos últimos sete anos elevou a autoestima do povo pernambucano, melhorou quase todos os índices sociais e econômicos do estado, elevando a qualidade da educação,  seu acesso e diversificando a economia local, dando cabo a todos os projetos nacionais que pretendem a diminuição das desigualdades regionais, mas que tem como principal padrinho o ex-governador e candidato a presidente, Eduardo Campos; do outro lado, mesmo estando no palanque de Dilma, Armando Monteiro, empresário, com formação política de direita e que, em sua atuação no Senado, votou várias matérias contra a classe trabalhadora. Esse é o cenário de uma eleição regionalizada, cujas particularidades estaduais precisam ser levadas em consideração.

Acumular forças é necessário

Por isso, para nós, comunistas, mesmo considerando o momento eleitoral como o mais importante do exercício da democracia no nosso país, sabe-se que não podemos nos contentar com isso. Nosso programa deixa bem claro que é preciso acumular forças em três frentes essenciais: a frente institucional, a luta de massas e a luta de ideias, sem as quais será impossível conduzir o país a um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. É preciso, portanto, entrelaçar as três frentes de atuação na hora de decidirmos o projeto e o rumo para o qual devemos apontar. Um partido, qualquer que seja, dirigido apenas pelos interesses eleitorais, é um partido sem essência, pragmático, sem programa. Da mesma maneira, um partido que desconsidere o papal que o exercício do poder político exerce para realizar mudanças não passa de um movimentismo vazio, pois é no exercício do poder político no Estado Nacional que podemos exercer poder real sobre a sociedade. Por fim, é preciso aliar essas formas de luta às ideias, a saber se vamos rumar para, por exemplo, a política de pés descalços com os Estados Unidos e FMI, ou se vamos marchar rumo a um mundo multipolar e com relações mais equânimes. No mais, ideias sem práticas tornam-se objeto de museu, pura tese de quem não vive a vida real.

É dessa forma, com o discurso afiado, a disposição na mente e no corpo para lutar em torno de um projeto justo e a consciência na hora do voto que poderemos conquistar o Brasil que queremos, que estamos construindo e que iremos ter. Sigamos!



sábado, 26 de julho de 2014

Aos 27

A década de 60, até hoje, influencia e marca a história de maneira peculiar: seja no plano da politica, com o auge da Guerra Fria, que marcava a disputa entre dois modelos de sociedade(socialismo X capitalismo), seja na literatura, com a geração beat influenciando jovens de todo o mundo, como Kerouac e seu "On the Road", e passando pela música, cuja mensagem de obter um mundo com mais liberdade e mais amor esteve presente em músicos como os Beatles, Jimi Hendrix e, no Brasil, fenômenos como Chico Buarque e a nascente tropicália.

Obviamente, essa juventude, ávida de liberdade, experimentou suas potencialidades e os riscos que as novidades da época traziam. O uso de drogas passou a ser um elemento a mais na busca por esses atos libertários. Era o momento de buscar novas dimensões através do uso de LSD, maconha e heroína; era o momento de descobrir o que a mente era capaz de realizar artisticamente. Dessa movimentação rebelde nasce um estilo musical que marcou gerações: o rock psicodélico. Se você, por exemplo, ouvir os discos dos Beatles até 1965 vai ser embalado por canções de belas melodias e letras românticas que, logo, logo foram substituídas por canções compostas através de um outro estágio de consciência; exemplo maior disso é o épico álbum "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", com uso de cítaras, experimentações sonoras e visuais.

Do ponto de vista técnico, essa geração fez nascer dois dos maiores artistas de rock da história: Jimi Hendrix e Janis Joplin. Ambos influenciados pelo blues e jazz norte-americanos, os dois podiam facilmente constituir uma dupla: ela com sua voz marcante, sofrida, rouca, pulsante; ele com sua guitarra que falava, ele que tocava uma música e cantava outra praticamente. A geração de jovens daquela época foi, então, privilegiada de ter podido ver os dois em ação no Festival de Woodstock, em 1969. Puderam ver a guitarra queimada, puderam ver a "fumaça roxa" de Jimi Hendrix. 

Infelizmente, a genialidade desses dois foi interrompida por overdoses de heroína, ambos, aos 27 anos, morreram e deixaram um legado para a cultura pop mundial. Canções como "Move Over"; "Cry Baby", "Hey Joe" e "Fire", embalaram e ainda embalam sonho de jovens que, antes ou depois dos 27, gostam de boa música, experiências químicas de alteração da consciência e psicodelia. Por essas e outras, nunca é demais lembrar que artistas como eles existiram. Que nunca esqueçamos. Viva Hendrix! Viva Janis Joplin!


quinta-feira, 24 de julho de 2014

Rima

Se por acaso um dia
eu rimar dor com poesia
poderia, enfim, morrer de amor?

sábado, 19 de julho de 2014

Instante

Fecho os olhos
Respiro o mundo
Estrelas circulam, bem lá no fundo...

na esquina da retina
procuro abrigo
eis o instante
que me encontro comigo

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Sobre o ensino de língua portuguesa




Certa vez, não faz muito tempo, escrevi neste blog sobre o preconceito propagandeado por usuários de redes sociais contra os supostos “erros de português” cometidos nas mesmas. Episódios como esses, além da minha experiência profissional, estimulam-me a continuar raciocinando sobre algo fundamental na constituição de uma nação: o ensino de sua língua materna; em nosso caso, do português.

De fato, o primeiro contato que temos com toda a história de se estudar a língua que falamos é através da escola, e através da maneira pela qual a escola encara como deve passar um conteúdo que é, sobretudo, metalinguístico. Além do bê-a-bá inicial para aprender a ler, segue-se uma série de conceitos por muitos desconhecidos: substantivos, adjetivos, verbos, adjuntos adnominais. Portanto, como lidar com tais conceitos e formar, principalmente, leitores?

Na universidade, os postulantes a professores de língua portuguesa são submetidos ao debate sobre a eficiência ou não do ensino tradicional, baseado na gramática prescritiva, ou  sobre o uso do texto como base de todo ensino de uso da língua. Para adentrar nessa (falsa?) polêmica, é preciso fazer uma regressão e lembrar alguns fenômenos ocorridos no Brasil.

Primeiramente, é preciso lembrar que a Universidade é uma instituição relativamente recente no Brasil. Em comparação a outros países da América Latina, o Brasil partiu bem depois. Para se ter exemplo, praticamente um século antes, países como o Chile já tinham catalogadas e estudadas centenas de línguas de seus povos autóctones, mesmo com a dominação espanhola e, consequentemente, de sua língua ter-se tornado dominante. No Brasil, além de um notório desprezo pelas línguas indígenas, a formação de uma elite “estrangeira” em nosso próprio país contaminou também a maneira pela qual valores como a língua eram passados e estudados; ou seja, voltados à Europa. Para além dessas questões, saltam aos olhos o fato de, mesmo assim, o Brasil – país de extenso território – falar a mesma língua.

Dessa forma, o ensino da língua portuguesa, dentro dessa lógica colonialista sempre teve, no Brasil, ares de doutrina, seguindo-se regras da chamada gramática prescritiva da qual se precisava afirmar o que pode e o que não se pode fazer. Além, é claro, da segmentação estrutural da língua, que até hoje é passada com ares de ciência. Entretanto, o estudo da língua(gem), mundialmente, adquiriu nova importância, sobretudo depois da proposta estruturalista de Ferdinand Saussere, mas também, através de seus desdobramentos  - tanto favoráveis quanto contrários às suas teses.

No Brasil, tenho a ligeira impressão de que a ciência Linguística só veio se tornar “popular” através do boom da Sociolinguística, que passou a considerar elementos sociais para analisar, estudar e ensinar línguas. Para muitos, inclusive, no Brasil, Linguística virou sinônimo de Sociolinguística, pondo em polos opostos e em constante luta intelectual, radicais de dois tipos: primeiro os “filólogos”, gramáticos prescritivistas, amantes da boa regra de uso da língua; do outro lado, os radicais da boa comunicação e do “se comunicou, não tem problema”. Essa polêmica tem – a bem da verdade – gerado até hoje efeitos danosos na prática cotidiana da sala de aula, desequilibrada.

A evidência que encontro, todos os dias, em sala de aula, é que o professor de língua portuguesa ainda vive a eterna dúvida sobre o que ensinar: a regra ou o texto? Como formar bons leitores? Digo isso, porque, se por um lado houve um exagero na exigência da regra, é óbvio que houve, também, um afrouxamento após se propor o ensino unicamente através dos textos. A universidade brasileira, sobretudo nos cursos de licenciatura – especialmente na Pedagogia – não preparou o alicerce fundamental para isso ainda. A gramática – exercício fundamentalmente metalinguístico – através do bom estudo da sintaxe também possibilita o conhecimento da tecitura, dos fios que compõem um bom texto, cada bordado, cada “miúdo”.


Espero, na condição de professor e militante, que os investimentos vindouros em educação possam capacitar melhor nossos profissionais, a começar por quem e como compõem as LDB’s etc. É fundamental criarmos mecanismos que possam elevar o nível de leitura para tornar esse país uma potência econômica e educacional. Por isso, é tão importante que formemos pessoas capacitadas a conhecer, reproduzir e transformar a língua que usa. A língua que constitui a nossa nacionalidade. Acreditar num país mais forte é também ter em mente a possibilidade de oportunizar cada vez mais pessoas de usarem a sua língua em pé de igualdade aos que têm “educação de qualidade”. Começar pelo ensino disso é, ou poderia ser, um excelente começo.