sexta-feira, 27 de maio de 2016

Entre a participação, o oportunismo e a dispersão


Se é verdade que, mesmo sob as mais variadas formas de luta, ou sob as mais variadas ideologias, há uma imensa quantidade de lutadores do povo que, principalmente em anos eleitorais precisam ser apresentados à população para que, identificada com eles, possam fazer-lhes os dignos representantes dos seus anseios pela construção de um país menos desigual; é verdade, também que é preciso cuidar para, com a amplitude necessária, não caiamos em posturas oportunistas nem dispersivas.

A luta do povo, como é de conhecimento no mundo atual, reveste-se das mais variadas formas, por isso, é inteiramente justa a participação dos comunistas, daqueles cujas ideias mais avançadas tendem a dar a qualquer luta democrática o componente qualitativo, que faz, de uma bandeira específica, bandeiras para a emancipação da classe trabalhadora, cumprindo verdadeiro papel de vanguarda, contribuindo e conduzindo às massas a um processo de maior entendimento da luta política. No entanto, a esse elemento é fundamental o justo enraizamento e o verdadeiro entendimento dos motivos e necessidades de determinada comunidade, de determinado movimento. Nesse sentido, não há motivo para ir de encontro a qualquer organização popular.

Essa participação, no entanto, para cumprir o papel qualitativo que pode cumprir, requer uma justa mistura dos comunistas com a base popular, a ponto de fundir-se com o povo, como dizia João Amazonas. Não sendo dessa forma, recai-se no oportunismo, o qual pode ser praticado tanto pela direita quanto pela esquerda. Apropriar-se de movimentos reivindicatórios para autopromoção, por exemplo, é das práticas mais abomináveis que os protagonistas da esquerda podem realizar. Diante disso, aos comunistas, cabe, mais do que 'participar de todos os movimentos', gerar pautas com as quais as pessoas se identifiquem e pelas quais achem que vale a pena lutar. Com a reacesa luta pela democracia, por exemplo, abrem-se novíssimas possibilidades de agregar os mais diferentes setores da sociedade.

Ter foco, no momento atual então, é essencial. As lutas dos movimentos de tática diversionista, se não bem orientadas a fazer se suas lutas um passo para reconquistar e consolidar a democracia, correm o risco do sectarismo, oportunismo e sobretudo do corporativismo.

Por isso, para evitar a dispersão, três elementos não podem faltar no debate das entidades populares,e muito menos nas candidaturas municipais: democracia - com novas eleições diretas -, superação da crise econômica pelo viés do desenvolvimento e pela manutenção dos direitos e trabalhistas e soberania nacional.

Com esses elementos, faz-se de nossos discursos armas empunhadas em prol de um país forte e soberano, que vem sendo atacado de maneira brutal pelo império e seus agentes internos cujos objetivos passam longe de um republicanismo, quando na verdade a perpetuação de seus esquemas subterrâneos aparece como único motivo da derrubada de uma presidenta honesta.

Dizer não ao golpe e fazer essa defesa parece-me um caminho pelo qual devemos trilhar. Buscando cada vez mais adesões e fazendo da luta politica ambiente propício a cada vez mais participação popular de todos e todas que querem ver o país voltar ao rumo da democracia e desenvolvimento.

domingo, 22 de maio de 2016

Lutar pela democracia, agora e sempre!


Passados 10 dias do afastamento da presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff, uma marca importante é deixada por ela em todos os anos que esteve à frente da presidência do país, mas sobretudo no dia em que saiu do Palácio do Planalto: seu amor às causas democráticas.

Em seu pronunciamento, dito três vezes naquele fatídico dia, Dilma fez questão de manter sua militância mobilizada, entre outras coisas, por acreditar que a luta pela democracia é algo pelo qual devamos lutar constantemente e que a democracia é algo que precisamos cuidar, preservar para que ela não seja atacada como foi pelos golpistas hodiernos e de outrora.

Dilma está certa. No Brasil principalmente, o componente democrático, como que aflorando das contradições intrínsecas do capitalismo local, no nosso, caso principalmente entre entreguistas e nacionalistas, tem sido o fio condutor das mais importantes lutas políticas no país, sobretudo pós século XX.

Em entrevista ao blog da socialista morena, o governador do Maranhão, Flávio Dino, afirmou com felicidade ímpar: "foi uma ilusão acreditar na consciência democrática da elite brasileira". Verdade. A história de nosso país atesta essa afirmação pelas mais variadas formas de golpes de estado por que passamos. 

O Brasil, cuja fundação sob bases colonialistas tanto dizem sobre nossa formação social, país jovem, historicamente enfrenta dificuldades em afirmar sua soberania e democraticamente escolher os que conduzem a nação e qual o conteúdo de nossa trajetória. Nesse sentido, à nossa elite, mais anti-nacional impossível, sempre coube o papel de bagunçar as regras do jogo para atender aos interesses dos que colonizaram o nosso país: Portugal, Inglaterra, Estados Unidos.

Por isso, em momentos nos quais as crises cíclicas do capitalismo atingem as grandes finanças mundiais, no nosso país, é justamente o binômio soberania e democracia que é atacado. Não é à toa. A causa é bem nítida: para o império esse país de pouco mais de 500 anos, mas com a 5ª extensão territorial, 5ª população mundial, 7º PIB, precisa ser controlado e precisa servir aos seus interesses. E para isso, o império conta com uma elite subserviente e voraz.

Nesse sentido, aos que mesmo sob vieses politicamente diferentes, mas que lutam pelo desenvolvimento nacional, sob a égide de um país forte economicamente, que possa garantir melhorias para sua vida individualmente e coletivamente, é preciso manter a chama da luta pela democracia acesa. Sempre que ela foi atacada, foi atacada também a nossa economia e nossa soberania, afetando nossa inserção no mundo e a distribuição da riqueza e oportunidade que nosso país pode e deve fazer, garantindo justiça e paz social. Não baixar a cabeça, permanecer organizando os comitês contra o golpe são fundamentais para o momento. Temos chance, vamos à luta!

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Fernando Brito: Sob o mando de um vilão, que ainda ficará muito menor do que já é

Em Tijolaço:


Quando Leonel Brizola perdeu, por uma manobra judicial tramada por Golbery do Couto e Silva, a sigla do PTB de Vargas, Carlos Drummond de Andrade escreveu, no velho JB de de 1980:
Vi danças festejando a derrota do adversário, e cantos e fogos. Vi o sentido ambíguo de toda festa. Há sempre uma antifesta ao lado, que não se faz sentir, e dói para dentro.
A política, vi as impurezas da política recobrindo sua pureza teórica. Ou o contrário.. Se ela é jogo, como pode ser pura… Se ela visa o bem geral, por que se nutre de combinações e até de fraudes?
A consumação do afastamento de Dilma Rousseff, às 6:34 de hoje, por truques jurídicos de um golpe parlamentar, virou história.
Triste, mas história.
Hoje não é dia de discutir como e porque chegamos a este desfecho, mas de abraçar a figura vencida e de abominar a do vencedor.
Chegará, sim, a hora da reflexão – muito mais do que acusação – sobre os erros cometidos, mas certamente não é essa.
Há algo mais grave, muito mais, do que qualquer erro que Dilma, ou Lula, ou o PT, ou mesmo toda a esquerda possam ter cometido.
É que nosso país, de tantas vilanias e de tantos vilões, está sob o mando de um rematado vilão, porque só o vil assim hipertrofiado é que poderia urdir a degola daquela (e daquele, porque também a Lula) a quem deve o lugar de seu substituto.
Não há, na história do país, exemplo igual de vilania. Nem Jango, nem Itamar Franco  tramaram contra Jânio e contra Collor. E o que fez Café Filho com Vargas é asséptico  perto da imundície de Michel Temer.
Imundície que não se resume nele, mas em todas as instituições que assistiram e promoveram a consumação deste esbulho: um acanalhado sem vergonhas, o Legislativo, e  o acanalhado pomposo, o Poder Judiciário.
Bem se vê que ambos não coraram de se acumpliciar ao regicídio, mesmo a maioria deles tendo feito parte da Corte.
Dilma não caiu por crimes, como os tantos da política, nem sequer os de responsabilidade. Basta um fato para demonstrá-lo: o sepulcral silêncio sobre o nome de Joaquim Levy, o ministro da Fazenda que planejou, redigiu e assinou os atos pelos quais Dilma é acusada.
Pois se admitir-se que Dilma “pedalou”, Levy preparou a bicicleta “engatilhada”.
A omissão do ex-ministro da Fazenda é, porém, uma nada perto do nanismo moral de Michel Temer.
Nanismo, o que é pior, sem sequer um sistema de freios e contrapesos parlamentar ou judicial que o possam tracionar.
O que vão faze-lo, por fraco, é comprimi-lo ainda mais ao rés do chão.
E por pequeno, moral e politicamente, transferirá para o povo que ilegitimamente passa a governar, todas estas pressões e compressões.
Passava pouco das seis e meia da manhã quando os últimos raios de luz despareceram do horizonte próximo.
Vamos ter de caminhar muito, junto do povo do qual nunca podemos nos apartar com aventuras, até vermos de novo a luz.

terça-feira, 3 de maio de 2016

É preciso remar

É preciso remar como quem ama
com os braços agarrar forte e enfrentar a corrente
com o coração mergulhar na revolta

mas é preciso lutar como quem rema
amar como quem reza
rezar como quem quer

E em meio às vagas que o mau tempo nos dá
construir mapas de navegação
orientes para os que almejam chegar à praia

ou no horizonte, do qual nos aproximamos
tão perto, tão longe
              tão perto, tão longe
                              tão perto, tão longe

do qual criamos imagens...e semelhanças!
fazendo-nos aquilo que (não) fomos
mas insistimos em fingir

e dizer.