segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ainda Consigo me Emocionar

Esse texto tá na agulha há um bom tempo, mas a vontade de escrever sobre outras coisas e o tempo me fizeram empurrá-lo com a barriga até o dia de hoje. E não é que é essa vontade de empurrar as coisas com a barriga e esse tempo corrido dos nossos dias que faz a gente perder uma capacidade inerente a todo homem e toda mulher? A capacidade de se emocionar com aquilo que nos cerca, com olhos, ouvidos e coração.

Faz uns sete meses que eu estava em Petrolina e em Juazeiro também, em meio à campanha de eleições do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Pernambuco, atravessando o Rio São Francisco num barco e parei pra pensar quanto tempo nós perdemos ou em quanto tempos esquecemos de olhar o que pode falar ao coração. Em meio aos pensamentos de cálculos eleitorais, de quantas salas iria passar, ou de quantos votos iríamos ter nas urnas de Letras; consegui olhar para o Rio São Francisco e admirar a beleza daquela magnífica obra de arte. Em meio à fome batendo e o aborrecimento de ter que carregar a mala pra todo lado, consegui parar pra observar o senhor que tocava violão no barco, com os olhos sofridos e pedindo uma ajuda pra mostrar o seu "talento" e tentar "distrair" os tripulantes.

Voltando dessa mesma viagem, parei pra observar o São Francisco lá de cima, e o quanto de terra que esse mundo tem pra ser plantada e pra ser "morada". Mesmo que as confusões referentes à apuração daquela eleição só me fizessem pensar nisso. E tive a certeza: "ainda consigo me emocionar".

Ainda consigo me emocionar ao ver "o menino preto de camisa vermelha doando cola ao menino branco de camisa branca", como disse meu amigo Walter. Ainda consigo me emocionar quando vejos os aleijados que pedem pelas ruas , com os bêbados que pedem um cigarro e as mulheres que choram seus maridos nas noites de sexta-feira.

E mesmo que o mundo me diga que isso é fraqueza e que a gente deve encarar "a vida como ela é", eu me nego, me nego a aceitar que a vida seja só essa, me nego a acreditar que a vida seja assim. E pinto no meu mundo imaginário as possibilidades de fazer esse mundo ter mais cor. E terá. Terá cor como os olhos de um bebê que abre o sorriso inocente a qualquer careta que a gente faça, e emociona. Terá cor como as águas do São Francisco e o céu estrelado do sertão. Terá cor como um beijo apaixonado e terá cor como a música que escuto fazendo esse texto.

E no meio de tantas cores e tantas pedras do caminho, espero que a pedra que se faz em nosso peito quebre um pouco a ponto de fazer, quem sabe, um dia, a gente ainda se emocionar ao ler um texto que nos fale sobre essas coisas.


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Você.

A você, minha reverência
Pelo choro incontido, pelas lágrimas sem medo
E pelos olhos distantes, clamando por um instante
de peles pelo corpo, de corpo pelas peles...

A você, tiro meu chapéu
Pelas palavras sinceras, pelos gritos em público
pelo sofrimento puro de quem só quer atenção...

A você, minha atenção
e um pouco de minha devoção, devidamente dada
a todos que por tua vida
um dia passarão...

A você toda minha vontade
que só vem pra quem tem saudade
do abraço soluçante
dos gritos soltados antes
pra quem pode fazer passar...