quinta-feira, 20 de julho de 2017

Das injustiças do futebol brasileiro - Parte 1


As últimas rodadas do futebol brasileiro têm sido marcadas por grandes emoções, de um lado, e as mesmas e velhas reclamações, de outro.

Domingo pela manhã, resolvi acompanhar o jogo Palmeiras X Vitória, pela 14ª rodada do brasileirão. Afinal, estava jogando o todo poderoso e badalado Palmeiras, com seu recheado elenco e mais recente campeão brasileiro. Do outro lado, o nordestino Vitória, com uma folha salarial, com certeza muito abaixo da palmeirense, em vias de fugir da chamada zona da degola do campeonato brasileiro. E eis que o Vitória abre o placar - de maneira surpreendente - com o ex-tricolor Uillian Correia.

O fato é que após as inúmeras bolas jogadas na área devido ao pobre futebol do Palmeiras, um pênalti nada mais nada menos que escandaloso é marcado a favor do time paulista, e pronto, dali em diante o jogo se tornou outro e mais 3 gols foram marcados contra o time da Bahia.

Reclamações, declarações e aquela sensação que sempre fica: aos grandes do futebol brasileiro, toda a complacência e "ajudinhas extra", aos nordestinos principalmente uma luta indecorosa contra o rebaixamento e contra todo tipo de injustiças cometidas dentro de campo.

Os motivos são muitos. Dentre os principais, considero relevante fazer uma submersão ao sistema de desenvolvimento desigual e excludente de nosso país - ou vocês acham que isso não tem nada a ver? Diante disso, o futebol brasileiro e suas instituições são reprodutoras da perversa lógica de desenvolvimento nacional, que colocou o país de joelhos às elites paulistas, que ora foram cariocas. Mas o fato central é que o modelo de distribuição de renda e investimentos chega ao futebol de maneira direta, claro, perpetuada por instituições que não estão nem um pouco interessadas em promover mudanças (leia-se Globo e CBF).

A batalha pra que um clube nordestino dispute o campeonato "nacional" (com aspas, visto que não há clubes do norte do país e uma concentração absurda em sul e sudeste) é homérica. O orçamento oriundo do principal financiador, que é a TV, beira o ridículo, visto os valores que são recebidos por clubes como Corinthians e Flamengo. No entanto, alguns, mesmo com as dificuldades orçamentárias ousam disputar esses campeonatos e, além dos problemas extracampo, encontram dificuldades dentro das quatro linhas que, a mim, não parecem ocasionais. Os erros de arbitragem nos jogos dos grandes clubes do sul e sudeste do país contra os clubes do nordeste não são "erros", mas uma verdadeira predisposição de fazer dos maiores vencedores sempre, haja o que houver.

Por outro lado, somam-se a isso dois fatores essenciais: a TV e a falta de profissionalismo da atividade do árbitro. A mesma TV, que mostra os "erros" de arbitragem em 200 câmeras diferentes, é a mesma cujo interesse maior é vender o "espetáculo" da vitória dos mesmos clubes, sempre. Além disso, árbitros despreparados e sem atividade profissional submetem-se a essa lógica e são tragados pelo clima "faça-se campeão" da imprensa brasileira, que cobra e cobre esses clubes como se outros não existissem no futebol brasileiro.

Em meio a tudo isso, o grande parceiro da Rede Globo tem sua prisão solicitada. E a Rede Globo continua lucrando com o nosso futebol. Às nossas custas. E, então? Futebol é ou também não é política?