O balanço desse pouco menos de um mês pós-golpe no Brasil,antes de mais nada, fazem cada cidadão e cidadã brasileira - mesmo os que apoiaram o impeachment da presidenta legitimamente eleita, Dilma Rousseff - se arrepiarem ao ver as trevas que cercam e dão o norte a esse governo interino-golpista de Michel Temer.
O golpe, assim como vários outros golpes dados no Brasil em outros momentos da história, baseou-se, para arregimentar algum apoio popular, em várias ilusões, em mentiras contadas para iludir o cidadão de bem insatisfeito sobretudo com a situação econômica do país.
Muitos ouviram - e disseram - que a deposição da presidenta Dilma seria uma solução para economia, mesmo sabendo que a crise que por ora atinge o Brasil é reflexo de uma crise sistêmica, estrutural do capitalismo pelo mundo; origem de desemprego e baixíssimo crescimento das economias nacionais.
Os golpistas, acreditando na senha "tira Dilma que a bolsa cresce", esqueceram de algumas leis objetivas da economia e principalmente desprezaram o prestígio que o Brasil ganhou mundialmente nos últimos tempos, além da falta de confiança que o seu deus mercado tem em alguns dos artífices do golpe. Resultado: o baixo desempenho da economia continua, mesmo com os resultados das decisões econômicas tomadas por Dilma.
A segunda falácia, a de que não seriam retirados direitos adquiridos nos últimos anos também é ameaçada. Contratos do Minha Casa Minha Vida suspensos, ameaça de limitação da internet, regressão nos direitos trabalhistas, fim da política cultural, extinção de ministérios importantes e cortes de recursos para as áreas sociais. Nem nos piores pesadelos neoliberais imaginava-se isso!
A terceira e maior falácia, a do combate a corrupção, foi também a mais evidentemente desmascarada. Embora muitos de nós alertássemos sobre o verdadeiro sentido da tentativa de impeachment, poucos acreditavam que os usurpadores queriam mesmo era tomar conta do estado para poderem perpetuar seus negócios escusos e, sobretudo, parar a Lava-Jato.
As gravações de Sérgio Machado com figurões do PMDB expõem as vísceras do sistema politico brasileiro, levado ao mais subterrâneo dos níveis, desmoralizando a atividade política e aflorando ainda mais o sentimento de que, na política, todos são iguais. Os golpistas, nesse sentido, põem a política em risco.
O PCdoB, entendedor de que, fora da politica, o que se sobressai é o fascismo, a violência política e a desestabilização das instituições democráticas, propõe um saída política para o impasse que vivemos: restabelecer a soberania do voto, derrotando o impeachment no Senado e propondo um plebiscito para que o povo decida se teremos novas eleições ou não. Essa é uma saída que preserva a manutenção do voto como ponto central das decisões dos rumos do país; preserva a política como atividade importante para a democracia e derrota os golpistas, com fortes possibilidades de, numa nova eleição, reafirmar o combate à agenda neoliberal que, na mão grande, os golpistas tentam aplicar.
No entanto, a realização política é um exercício que deve ser praticado por vários atores e, com certeza, um dos principais são os movimentos sociais. Não tirar o pé da rua, nesse sentido, é essencial. É preciso continuar fazendo a denúncia do golpe, desestabilizando os golpistas e conquistando a adesão daqueles que, mesmo insatisfeitos com a condução petista, reconhecem o atraso que a agenda neoliberal impõe ao país, além da quebra do estado democrático de direito.
O golpe, contrarrevolucionário por natureza, como afirma Luís Fernandes, precisa ser enfrentado nas ruas, de forma que possamos resgatar o poder do voto e tenhamos chance de criar uma agenda propositiva e nacional. Para salvar o Brasil, a democracia e a política, é preciso travar uma guerra, e rua, com certeza, é uma das principais trincheiras pela qual precisamos passar.