quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Cenas explícitas de luta de classes


Quando o Muro de Berlim caiu em 1989, uma das falas mais marcantes e que demonstravam bem o interesse do Império foi a do filósofo nipo-americano Francis Fukuyama, que, a partir daquele momento decretava o "fim da história".

Obviamente, ao decretar o fim da história, Fukuyama estava, ao lado dos vencedores, declarando a vitória e supremacia do Império perante os povos explorados e os trabalhadores de todo o mundo. Batia de frente com as concepções marxistas que apontavam a luta de classes como motor da história.

Além dele e da direita neoliberal de todo o mundo, partidos de esquerda também passaram a desacreditar num futuro justo para a humanidade e, a partir daí, concepções niilistas, individualistas, pós-modernas e multiculturalistas foram tomadas - mas todas partindo de um princípio: fomos derrotados no que de mais profundo poderia existir, que era uma transformação do modelo econômico-social de desenvolvimento do mundo.

Essas concepções nos tornaram cada vez mais reféns de disputas no seio da sociedade de cunho liberal - direitos às individualidades, aos costumes e ao consumo - em detrimento da luta de classes, que nunca foi praticada de maneira escamoteada, pelo contrário, sempre precisou derrubar símbolos (como o Muro de Berlim), derramar sangue e castigar os derrotados.

Quando Zumbi dos Palmares foi assassinado, em 20 de novembro de 1695, como exemplo para os outros escravos, exibiram sua cabeça em plena praça pública, para que ninguém mais ousasse levantar-se contra os desmandos da Coroa. Assim também aconteceu quando a burguesia ascendeu ao poder na França, decapitando do imperador Luís XVI.

Esses exemplos servem apenas para ilustrar que luta de classes, embora também atue no seu modo soft através dos aparelhos ideológicos não é feita com subterfúgios; quando se tem força para executar os seus objetivos, a classe hegemônica não titubeia.

Aqui no Brasil, portanto, a luta de classes nos últimos tempos tem se dado da maneira mais explícita possível. Quem achava que o impeachment fraudulento da presidenta Dilma representava uma troca de governantes apenas, ou que era um golpe contra o PT, ou até mesmo para acabar com a corrupção, deve(ria) passar a perceber os verdadeiros objetivos do golpe.

Em um ano de governo ilegítimo - patrocinado pela mídia golpista e setores de corporações do estado - várias já foram as ações que desnudam o caráter de classe impresso nesse processo de ruptura democrática pelo que o Brasil passa. De um ano pra cá, uma quadrilha apeou o poder da República para tentar executar o que o "mercado" lhe delegou: entregar o Brasil de bandeja e novamente inseri-lo na cadeia capitalista de maneira subalterna, umbilicalmente ligado aos interesses do decadente império estadunidense. As medidas que acabam com direitos do trabalhador tais como a Reforma Trabalhista, a Reforma da Previdência e Terceirização são medidas de tamanha violência - real e simbólica - que nem a Ditadura Militar foi capaz de fazer e, obviamente, para dar durabilidade a essas medidas é preciso acabar, tal qual as estátuas de Lênin ou de Stálin, com os nossos símbolos e com a esperança do povo brasileiro de retomar o crescimento soberano e justo.

As mais recentes investidas contra Lula são provas de que na luta de classes não se brinca. E é preciso dizer: não se combate a luta de classes no nível de radicalização em que ela se encontra com cirandas e dinâmicas de grupo; se combate com politica, política como arte, política como guerra, como guerra de trincheiras, buscando espaço, tentando dividir o inimigo e sobretudo acumulando forças para o ataque que por mais que queiramos não tem nenhuma condição de ser dado agora.

O golpe, por mais que atrapalhe essas políticas, não é homofóbico ou racista por si só. O golpe é classista e nos passa uma mensagem: nunca mais ousem governar esse país. Por isso, é preciso acabar com qualquer chance de a esquerda voltar. Daí ser tão explícitas as medidas que fazem contra Lula e a venda do nosso patrimônio, marcas profundas de gado no lombo do nosso país, com o selo bem grande dos EUA.

Quisera eu que também pudéssemos ter impresso a nossa marca com maior profundidade. Infelizmente, o caminho de distribuição de renda apenas, ou da "questão social" sem tocar na estrutura do estado e no caminho da soberania nacional tendo e vistas o socialismo possibilitou que nossas mudanças fossem leves como o vento. Aos poucos, iremos nos desfazendo de todas elas. O Brasil já voltou ao mapa da fome e é cada vez mais crescente o número de trabalhadores informais e moradores de rua nas cidades de nosso país.

Por isso, em tempos difíceis como este em que vivemos - tempos de cenas explícitas de luta classes, que é vivida em tabuleiro internacional - é preciso atuar explicitamente também. Fazer luta de classes no parlamento, nas ruas e onde mais puder ser. Sem essa perspectiva bradaremos incansavelmente nossas consciências e nosso radicalismo sem adentrar no cerne da questão: como transpor o regime golpista?

Pra mim, só ultrapassaremos esse estágio da luta de classes com muita amplitude, trazendo para o lado de cá quem puder trazer. Ao longo desse caminho, ficaremos alguns, eliminaremos outros, mas só uma grande frente nacionalista, desenvolvimentista e consciente da árdua missão que nos cabe poderá superar a ignomínia a que submetem o nosso país dia a dia.

Vamos à luta!

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Das injustiças do futebol brasileiro - Parte 1


As últimas rodadas do futebol brasileiro têm sido marcadas por grandes emoções, de um lado, e as mesmas e velhas reclamações, de outro.

Domingo pela manhã, resolvi acompanhar o jogo Palmeiras X Vitória, pela 14ª rodada do brasileirão. Afinal, estava jogando o todo poderoso e badalado Palmeiras, com seu recheado elenco e mais recente campeão brasileiro. Do outro lado, o nordestino Vitória, com uma folha salarial, com certeza muito abaixo da palmeirense, em vias de fugir da chamada zona da degola do campeonato brasileiro. E eis que o Vitória abre o placar - de maneira surpreendente - com o ex-tricolor Uillian Correia.

O fato é que após as inúmeras bolas jogadas na área devido ao pobre futebol do Palmeiras, um pênalti nada mais nada menos que escandaloso é marcado a favor do time paulista, e pronto, dali em diante o jogo se tornou outro e mais 3 gols foram marcados contra o time da Bahia.

Reclamações, declarações e aquela sensação que sempre fica: aos grandes do futebol brasileiro, toda a complacência e "ajudinhas extra", aos nordestinos principalmente uma luta indecorosa contra o rebaixamento e contra todo tipo de injustiças cometidas dentro de campo.

Os motivos são muitos. Dentre os principais, considero relevante fazer uma submersão ao sistema de desenvolvimento desigual e excludente de nosso país - ou vocês acham que isso não tem nada a ver? Diante disso, o futebol brasileiro e suas instituições são reprodutoras da perversa lógica de desenvolvimento nacional, que colocou o país de joelhos às elites paulistas, que ora foram cariocas. Mas o fato central é que o modelo de distribuição de renda e investimentos chega ao futebol de maneira direta, claro, perpetuada por instituições que não estão nem um pouco interessadas em promover mudanças (leia-se Globo e CBF).

A batalha pra que um clube nordestino dispute o campeonato "nacional" (com aspas, visto que não há clubes do norte do país e uma concentração absurda em sul e sudeste) é homérica. O orçamento oriundo do principal financiador, que é a TV, beira o ridículo, visto os valores que são recebidos por clubes como Corinthians e Flamengo. No entanto, alguns, mesmo com as dificuldades orçamentárias ousam disputar esses campeonatos e, além dos problemas extracampo, encontram dificuldades dentro das quatro linhas que, a mim, não parecem ocasionais. Os erros de arbitragem nos jogos dos grandes clubes do sul e sudeste do país contra os clubes do nordeste não são "erros", mas uma verdadeira predisposição de fazer dos maiores vencedores sempre, haja o que houver.

Por outro lado, somam-se a isso dois fatores essenciais: a TV e a falta de profissionalismo da atividade do árbitro. A mesma TV, que mostra os "erros" de arbitragem em 200 câmeras diferentes, é a mesma cujo interesse maior é vender o "espetáculo" da vitória dos mesmos clubes, sempre. Além disso, árbitros despreparados e sem atividade profissional submetem-se a essa lógica e são tragados pelo clima "faça-se campeão" da imprensa brasileira, que cobra e cobre esses clubes como se outros não existissem no futebol brasileiro.

Em meio a tudo isso, o grande parceiro da Rede Globo tem sua prisão solicitada. E a Rede Globo continua lucrando com o nosso futebol. Às nossas custas. E, então? Futebol é ou também não é política? 

sábado, 20 de maio de 2017

Implosão

Há dias em que o mundo explode lá fora

e a gente implode aqui dentro...

E procura, nos escombros de nós mesmos, brechar para respirar


Há dias em que os dias são tão claros lá fora
mas o cinza da poeira em nossos olhos é demasiado grande pra nos fazer enxergar

Há dias em que nossos olhos pedem pra ver
mas estamos, qual doença, ocupados demais com a escuridão

Há dias em que falta luz
... e a gente apaga aqui dentro

Já dias em que não podemos sair
... e fechamos as portas

Há dias em que casas são reformadas
...e erguemos muros aqui dentro

E um dia, então, tudo se fecha
                           tudo se apaga
                           tudo se ocupa
     
                           tudo se implode...

segunda-feira, 15 de maio de 2017

A política como mediadora de conflitos


Nas análises mais recentes sobre os efeitos da crise mundial do capitalismo, uma das consequências mais debatidas e que tem sido provocadora de uma grande desesperança em torno das esquerdas no mundo é a questão da criminalização da política ou que chamamos de caminho fora da política.

O efeito devastador das crises, hoje e ontem, provoca o já conhecido abandono às saídas políticas. Foi assim no período da crise de 29, geradora em último grau da Segunda Guerra Mundial, e tem sido assim no momento atual, com a ascensão de figuras cuja principal "qualidade" é a de não ser político. Nos Estados Unidos da América,a eleição de Trump simbolizou bem o que isso significa e por aqui a eleição de João Dória como prefeito da maior cidade brasileira e a tentativa de despontar no cenário de nomes como Luciano Huck e Roberto Justus são provas maiores dessas questões.

O que não podemos esquecer é que em períodos de crise soluções "novas" são apresentadas. As aspas se justificam pois sabemos que nem tão novas são essas soluções. São roupas novas, falares diferentes mais uma mesma política, cujo vértice está na dominação de classe, na resistência do império ao seu declínio relativo e à possibilidade de um mundo multipolar, e na tentativa do capital de não reduzir sua taxa de lucro. Para isso, vale-se de qualquer expediente.

No Brasil, as soluções "novas" e a negação da política é motivada ainda mais pela operação Lava-Jato, que cada vez mais tem colocado o país ainda mais polarizado, entre o partido da Lava Jato (composto pelo consórcio golpista, mídia, setores do judiciário e do ministério público, além dos partidos de direita) e o partido da política. Essa tem sido, portanto, a contradição principal do Brasil atual.

Não há segredo. O destino de uma operação como a Lava-Jato -com as características que ela já demonstrou ter e com os crimes de lesa-pátria que já cometeu ao destruir as empresas de engenharia pesada e ao destruir mais de 600 mil vagas de emprego só neste setor - é levar ao poder soluções fascistas, tal qual o juiz que conduz a operação.

No entanto, sobre o termo política paira sempre uma confusão. Nesse sentido, é óbvia a compreensão de que tudo o que a classe dominante faz para a sobrevivência dela enquanto classe dominante é política - política no sentido de como realizar medidas ideológicas, políticas e econômicas a favor de uma classe. Mas quando nos referimos à negação da política tratamos dela como mediadora de conflitos.

É essa política como mediadora de conflitos que garante ao mundo, mesmo sob hegemonia burguesa, uma certa governabilidade; é essa política como mediadora de conflitos que possibilitou a existência de um estado - tanto como gestor dos interesses de uma classe, como quando uma burocracia estatal a comanda (bonapartismo) - mas é, sobretudo, essa política como mediadora de conflitos que garante as regras do jogo e não permite que o mundo viva em eterna convulsão social.

Se estivéssemos num período de ofensiva estratégica o que menos quereríamos era "mediar conflitos", mas, pasmem, - e como a dialética nos ajuda! - a tranquilidade de um mundo onde saibamos quais regras jogar, com estabilidade democrática e direito de existir e fazer política ainda é o melhor caminho.

Por isso, sem falsos moralismos, a nossa luta deve se concentrar em salvar o exercício dessa política mediadora de conflitos para que possamos sobreviver e continuar fazendo a luta por um Brasil forte e soberano. Avançam medidas retrógradas contra o povo e contra as esquerdas. A proposta de Reforma Política é um libelo de como o consórcio golpista quer ver a atividade democrática do país: nula. Combater o partido da Lava-Jato e conquistar corações e mentes para a Política é tarefa essencial. Cumpramos! 

domingo, 7 de maio de 2017

Culpado

Quisera eu processar o tempo
para que ele me devolvesse os dias

Quisera eu pudesse aprisioná-lo
puni-lo pela minha insensatez
e meu coração duro

Algemado então,
quisera eu poder declarar meu amor novamente

Quisera eu processar  tempo
fazê-lo me devolver as constelações que por ora avistei
ou as flores que vi se partir

Quisera eu que eu o tempo pagasse
pelo tempo que o quis depressa
e que nunca me fez essa angústia sumir

O tempo que me pague o tempo que gasto
todos os dias
para explicar o que fiz e o que sou

Quisera eu que processado então
pudesse culpar o tempo por tudo o que não fiz


porque não tive tempo
por que não tive paz

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Belchior, presente!

Ontem, pela manhã, fomos todos surpreendidos com a notícia da morte de Belchior, artista cearense que cantou a liberdade, mas, sobretudo, cantou as coisas reais. 

Diante de mortes como a dele, é muito comum que as redes sociais se encham de mensagens, lembranças e honrarias a artistas cuja obra encantaram e encantam pessoas num país inteiro. É também muito comum a gente se perguntar se existem tantas pessoas assim gostando de determinados artistas. Paira uma dúvida. Não sobre Belchior.

Belchior era querido por todos, principalmente por aqueles que encontravam, na democracia e na liberdade objetivos para viver sem perder a ternura. E Belchior era pura ternura, mesmo que seu canto torto feito, feito faca, cortasse a carne da gente.

E cortava.

Cortava porque Belchior, como afirma uma de suas canções, tinha alucinações por coisas reais, mesmo quando alguns diziam que tudo era divino, tudo era tão maravilhoso. Não. Não era divino e maravilhoso na época em que Belchior compôs seus principais álbuns, como "Alucinação" e "Coração Selvagem". Eram tempos difíceis, como os de agora, em que continuamos precisando da arte que fale sobre as coisas reais, que interaja e se entregue aos homens e mulheres de seu tempo.

Belchior, talvez não conscientemente, levou a sério a estética neo-realista, cujo propósito da arte estava bem definido, sem ser chato, hermético, dogmático. Na vida - e na arte - levou a sério o objetivo de integração latino-americana, tal qual um jovem argentino cuja arte era diferente, Belchior andou por toda essa América, procurando nossas semelhanças e se encantando com os tangos argentinos ou os romances chilenos.

Por isso, em tempos de golpe, nossa resistência é uma forma de homenageá-lo. Lutar contra a recolonização da América Latina pela qual Belchior tanto fez. 

Diante das insuficiências de minhas palavras, só o próprio Belchior para definir o momento de sua partida, do momento em que "eles venceram e o sinal está fechado para nós". 

Belchior, tenha certeza de que sua vida na terra não foi em vão. Haveremos de vencer!


segunda-feira, 10 de abril de 2017

Pelo direito à boa música: George Harrison

Que os Beatles são a melhor banda de rock de todos os tempos não parece haver dúvida entre nós mortais. A dúvida que a genialidade do quarteto de Liverpool suscitou, na verdade, é sobre qual dos quatro era o mais genial. 

Comumente, fomos acostumados a atribuir à dupla Lennon-McCartney o sucesso das maiores canções dos Bealtes: Hey Jude; Help; Elanor Rigby, Lucy in the Sky With the Diamond, pra ficar só em alguns exemplos. O que não anula o papel e a importância que cumpriram Ringo e George. Este último, com ares de maior genialidade que aquele. 

Com o fim dos Beatles, George Harrison iniciou um carreira exitosa, marcada pela gravação de 9 álbuns de estúdio e quatro ao vivo, além de inúmeras coletâneas em que, para os que viam as canções dos Beatles sem distinguir quem as compunha, pôde-se entrar em contato com o sinais de genialidade que Harrison imprimia às canções e à guitarra, tal qual à magistral "While My Guitar Gently Weeps".

Como destaque dessa carreira, destaco o álbum ao vivo no Japão. Um aula de guitarra, canção e melodia. E por aqui, vai uma amostra, não do álbum, mas da música que todos nós merecemos ouvir. Saca só: