Este ano é ano eleitoral; e é extremamente salutar a forma como militantes, políticos e cidadãos comuns se mobilizam em torno do evento. Contudo, é ainda mais importante vermos como o debate de idéias divergentes se faz, e como o acirramento de disputas políticas pode trazer o bem comum. Tudo isso faz rememorarmos que neste ano estamos completando vinte anos da Constituição Brasileira, para a grande maioria, uma conquista da democracia. Afinal de contas, podemos votar, e nos fazermos representados. Todavia, a grande conquista de uma democracia é liberdade no que concerne às divergências políticas e ideológicas. Hoje, é inconcebível que, num Estado de Direito, as opiniões circundem em torno de uma única ideologia, a ideologia de quem detém poder. Os artifícios dos dominadores são quase sempre os mesmos: força, influência, ameaças e artimanhas políticas corruptoras e retrógradas.
Os Aparelhos Ideológicos do Estado, tais como a Igreja, a Escola e Mídia, servem como verdadeiros instrumentos a serviço de quem age de maneira inadequada, sobretudo em lugares aonde a Justiça não chega, onde a ausência de políticas públicas transformam esses lugares em verdadeiras “terras-de-ninguém” . Para fortalecermos a democracia e a tornamos democracia de fato, é preciso ter acima de tudo, tolerância; não haverá, em lugar algum, Estado Democrático onde não haja oposição e onde essa oposição não se coloque, de forma responsável e construtiva.
Prefiro viver nesse caleidoscópio a viver sob a visão de um único par de óculos, prefiro a dúvida inquietante das palavras que soam loucas à lucidez ignorante do domínio, e é nessa miscelânea de idéias e ideais que se realizará a grande transformação da sociedade; e mesmo que pareçamos repetitivos: “"Posso não concordar com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo." É princípio básico, homem sábio esse Voltaire!