segunda-feira, 22 de março de 2010

Meu Primeiro Samba

Já não digo as verdades que me pedes
já não dizes, na verdade, quem tu és
já não peço pra ficares um instante
nesta estante só sobraram alguns papéis

Já não vejo nos teus olhos minha sina
nas esquinas sei que posso te encontrar
e ao te ver sei que posso até cantar
aquele samba feito para te ninar

Já não peço para tu me devolveres
minha camisa e aquele bom disco de jazz
tua saliva já não mata minha sede
e o teu caminho já não guia os meus pés

Aqui jaz um pouco do meu amor
naturalmente, sei que posso me curar
cravar então, outras unhas nas minhas pernas
da mais bela Risoflora que me desejou

segunda-feira, 8 de março de 2010

Durante.

E entre sussuros e suspiros
E entre o suor e a saliva
Entre a desordem e coreografia
Entre a cachaça e a cama

Não há culpa nem mais erros
Não há escrúpulos e entremeios
Há esculturas no escuro
Silhuetas que gritam, que chamam

E há chamas nas mãos
Sem nenhuma moderação
Sem medicina que resolva
O desejo a se encontrar.

Enfim se finda
O que a dança procura
O prazer interminável
Que termina nossa loucura.

domingo, 7 de março de 2010

Atendendo a pedidos.

Com Açúcar, Com Afeto
Chico Buarque

Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa, qual o quê!
Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é um operário, sai em busca do salário
Pra poder me sustentar, qual o quê!
No caminho da oficina, há um bar em cada esquina
Pra você comemorar, sei lá o quê!
Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol
Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo
Pra você rememorar
Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão, qual o quê!
Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado
Como vou me aborrecer? Qual o quê!
Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
E abro os meus braços pra você.

quinta-feira, 4 de março de 2010

É só regar, pra alimentar o arvoredo

O amor é um sentimento verdadeiramente inocente. Ele não precisa de muita coisa pra existir. Bastam alguns sorrisos, basta a empatia mútua, basta um querer, basta um bem-querer. O amor não pede muita coisa em troca, muitas vezes ele nem se pede de volta. É o velho ditado que a gente se diz em algumas vezes: "Gosto de tu de graça". E é verdade, é de graça que se gosta de alguém. E pra isso não tem muita explicação, não há teoria que assegure verdades sobre o gostar.

Mas é por ser inocente, que o amor precisa também ser bem cuidado. É como a criança que quer um beijinho na testa, ou um trocado pra comprar besteira, ou simplesmente um carinho inocente. Crianças não gostam de adultos "chatos", sisudos. Crianças gostam daqueles que lhe pegam no colo e lhe dão um "cheirinho". É preciso alimentar o amor.

E a gente sabe que o amor é inocente, e a gente sabe que pra gostar não precisa de muito. Mas pra continuar gostando é preciso um mínimo esforço, o esforço da manutenção, do bem-querer recíproco, do fazer crescer o sentimento por saber que outrem gosta da gente. Quando a gente sente a recíproca, nosso sentimento tende a crescer. É natural. É preciso estar cuidando, regando. "É só regar, pra alimentar o arvoredo".

E quando não é regado? Aí morre, fácil, fácil. E não há tempo que volte, amor. E não há nada que ressuscite; não que eu conheça ainda. Sofrimento endurece, amadurece. Algumas lágrimas ajudam a fazer morrer, não são águas, não regam.