terça-feira, 30 de setembro de 2014

Cidade-mulher



Ela é minha amante. Nas noites de maiores alegrias, foram os brilhos pairantes das suas águas que inspiraram as aventuras dos dias vindouros. Nas tardes de tristeza, foi o transbordamento do teu choro, de quem, por vezes maltratada, pedia minha atenção.

Ela é mulher. São curvas, sensibilidade e ousadia, para sobreviver dos que lhe querem submissa. São cheiros e temperos, marcando as suas mãos, marcando os abraços e os que ela abraça: seus filhos, nós.

Ela é guerreira. Vence os tumores que lhe colocam diariamente, seja de nome Estela, seja dos mascates. Eu, simplesmente seu devoto, absorvo diariamente seus choros, seus gritos de quem, sufocada, pede passagem pra respirar. Absorvo diariamente tua sensualidade madura, de quem sofreu, mas sabe renovar-se dia a dia. Eu, simplesmente seu filho, olho-a cá de cima, dos altos de sua irmã, sem dúvidas de que são as Nices do Bandeira que ouso declamar.

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