sábado, 27 de junho de 2015

É preciso recompor a correlação de forças!




A última pesquisa divulgada pelo DataFolha que demonstra mais uma queda no índice de popularidade da Presidenta Dilma, tendo como índice de rejeição a marcante taxa de 65%,chamam a atenção para a necessidade de as forças que comandam o país reverterem o quadro adverso, política e economicamente.

Do ponto de vista político, é condição sine qua non para a retomada das agendas positivas e enfrentamento da onda conservadora e reacionária que assola nosso país, construir um amplo leque de forças, uma unidade nacional que se reúna em torno da retomada do crescimento econômico, sem perda de direitos trabalhistas; a defesa da Petrobras e a engenharia nacional - duramente solapadas por aqueles que utilizam a Operação Lava Jato com outros interesses -; a defesa da democracia e o combate a corrupção. Contudo, no centro desse amplo espectro de forças, deve haver a liderança de um bloco de esquerda, que possa levar adiante bandeiras políticas, econômicas e sociais cujo eixo de desenvolvimento seja o bem estar da classe trabalhadora e daqueles que mais precisam. Nesse sentido, é amplamente positiva a possibilidade de reconstituição de um bloco de esquerda - dessa vez composto por PT, PCdoB e PSOL - batizado de 'Grupo Brasil'. O esfacelamento da antiga frente de esquerda, composta por PT, PSB, PDT e PCdoB, gera reflexos sentidos até hoje.

Outro movimento essencial é como alterar o pendor da balança, neutralizando os adversários que podem ser neutralizados, cooptando outros e isolando os demais. Nenhuma revolução - socialista, nacionalista ou burguesa - foi exitosa sem buscar no 'lado de lá' possíveis aliados. Nesse sentido, cabe avaliar o papel que os governadores e prefeitos cumprem para uma possível alteração na correlação de forças. Fazer Política com esses atores sociais é de suma importância.

Para se ter uma ideia, 18 governadores são de partidos da base aliada do Governo; além dos governadores nordestinos do PSB. Cabe, portanto, numa política de investimentos, que troque dívidas por investimentos, projetos em infraestrutura etc., a tentativa de tê-los como aliados - temporários ou não - numa tentativa de recuperação da economia.

No entanto, do ponto de vista econômico embora sejam importantes as mais recentes iniciativas econômicas do Governo, como apontadas na última resolução da Comissão Política do PCdoB (Minha Casa, Minha Vida 3; incremento no Plano Safra; plano de exportações etc), é prejudicial a política de juros adotada, contribuindo para a vitória dos setores rentistas e especuladores.

Dessa forma, se entendemos que a correlação de forças, desfavorável após as eleições gerais de 2014, contribuem para o retrocesso das conquistas sociais obtidas na última década, precisamos entender, também, que deve ser feito um esforço hercúleo no sentido de inverter o lado para o qual pendem as medidas de ajustes promovidos até então. Do lado de cá, trabalhadores, movimentos sociais e todos aqueles que lutam por um país soberano. Juntar as forças e unir o Brasil em torno das agendas positivas exigem operações políticas complexas que ajudem a fazer as forças progressistas do nosso país reagirem à ofensiva imperialista, representada pelo PIG, por Eduardo Cunha, Aécio Neves e tantos outros que lutam para entregar nosso país às forças exógenas.

Não há meio termo: ou se reage ou se rasteja. Eu e o povo brasileiro preferimos reagir.

Vamos à luta!

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Os lutadores existem, cabe a nós conquistá-los!


Se é verdade que a tarefa de construir a revolução brasileira - e assim seria em qualquer lugar - não é tarefa de poucos, de alguns iluminados, é verdade também que construir o caminho, a que nós do PCdoB chamamos de Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, exige a participação ativa de um amplo espectro de forças, com centralidade nos trabalhadores, juventude, intelectualidade e mulheres.

Esse amplo espectro de forças, nucleado pelos setores de esquerda, num primeiro momento está longe de ser hegemonizado pelos comunistas; precisa, sobretudo, reunir os progressistas, os nacionalistas e os interessados em desenvolvimento com participação e distribuição social.

Digo isso pois, mesmo com 93 anos de história e com longa trajetória de contribuições benéficas à história do Brasil, os comunistas sempre foram duramente perseguidos, e com o fim da URSS e queda do muro de Berlim, a posição de defensiva estratégica coloca os comunistas, no Brasil e no mundo, apesar de relativas conquistas através da democracia burguesa, em situação difícil para acumular forças.

Sendo assim, é errada a visão dogmática e estreita de que só os comunistas 'puro-sangue' são aptos a transformar a realidade brasileira. 

No Brasil, país cujo desenvolvimento desigual, tardio, cujas rupturas sempre foram incompletas e onde o capitalismo se desenvolveu ao lado de uma estrutura atrasada (latifúndio, escravidão, ausência de reforma agrária, ausência de educação publica de qualidade, períodos longos de ausência de democracia), sempre existiram lutadores do povo; desde Zumbi aos mais atuais lutadores por cidades mais humanas, passando por José Bonifácio, Getúlio Vargas, Osvaldão, Helenira Rezende e tantos outros anônimos.

Dessa forma, o centro da questão hoje é como acumular forças suficientes para ocupar os espaços de poder político rumo a uma transição a um novo ciclo civilizacional, sem perder de vista que no ambiente hodierno cujas tendências fascistas, anti-comunistas e conservadoras são tão presentes, é preciso redobrar os esforços para conquistar corações e mentes para a luta revolucionária.

Enquanto o nível de consciência revolucionária não é o 'desejado', é preciso ter ao nosso lado, nas nossas hostes todos aqueles lutadores do povo: os que lutam por moradias dignas; aqueles que lutam por terra; os que lutam por cidades mais humanas; aqueles que em suas comunidades atendem às demandas populares; os que ajudam comunidades inteiras com serviços de saúde; enfim, todos aqueles que - mesmo sem perspectiva  revolucionária - buscam fazer o bem aos seus pares.

O "x" da questão, nesse caso, é como conquistá-los. Como aliar a luta pelo específico, pelo imediato pelo qual todos esses lutam, com o geral, com a luta por emancipação da classe trabalhadora, pela mudança do sistema. Remédio eficaz para essa necessidade começa pelo fim da estreiteza e soberba. Não somos - embora busquemos - os donos da verdade. Lutadores existem, cabe a nós conquistá-los! 

terça-feira, 23 de junho de 2015

O tribuno do povo hoje e a revolução brasileira


Desde que o PCdoB na retomou de sua legalidade e tomou a decisão de participar ativamente das eleições burguesas, verificou-se um crescimento exponencial de sua influência e protagonismo nas relações sociais brasileiras. Decisão deste porte exigiu - e exige diariamente - a justa elaboração política e coetâneo esforço coletivo na aplicação dessa elaboração. 

Dentre os motivos pelos quais exige-se justa elaboração e esforço coletivo, encontram-se: 1) a luta pela hegemonia não pode ser tarefa de poucos, de uma vanguarda "iluminada"; 2) na busca pela hegemonia é preciso saber dialogar com os mais amplos setores sociais e lutadores do povo, o que requer o número 3): qualidade na nossa intervenção enquanto "vitrines" do PCdoB.

A cuidadosa perseguição pela qualidade de nossa intervenção parte do entendimento de que na trajetória de 93 anos de luta do PCdoB, dentre os quais 60 na ilegalidade, houve o enfrentamento das classes dominantes e o incansável esforço de nos colocar à margem da cena social, motivo pelo qual quase sempre nossas "vitrines" eram clandestinas e desconhecidas das grandes massas. No máximo, eram "reservadas" a influência em alguns sindicatos.

No esforço de não nos transformarmos em gueto, sempre se juntou à nossa tradição com os trabalhadores, as disputas eleitorais, como no caso do BOC, e Constituinte de 46, e nossa relação com a cultura: Jorge Amado, Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz etc.

Com a derrubada do neoliberalismo e assunção de Lula ao poder em 2002, enxergava-se a possibilidade de crescimento partidário ainda diante de uma situação adversa e de um sistema político burguês. No entanto, a decisão de abrir as portas do partido para os lutadores do povo, na busca de enraizar nossa opinião e criar mais relação com o povo, mostrando-se acertada, passa a exigir a incansável perseguição contra os desvios que podem rebaixar o papel do partido: o pragmatismo, o liberalismo, o corporativismo e o dogmatismo.

Neste ambiente atual, portanto, as eleições podem cumprir estratégicos no crescimento do partido e em sua ligação com o povo, todavia, há que se reforçar a vigilância para que, nesse ambiente, não se abra espaço para os desvios acima.

Nesse sentido, cabe atenção especial àqueles que representam o PCdoB publicamente. Segundo Lênin, "o agitador é um tribuno popular que sabe falar às massas, comunicar-lhes o seu entusiasmo e agarrar os fatos mais salientes e elucidativos."

No entanto, tanto no ambiente sindical quanto no ambiente eleitoral, por ora corremos o risco de sucumbir às pressões burocráticas, corporativistas e pragmáticas, além das economicistas. Sobre isso, Lênin já alertava sobre os risco de os trabalhadores se contentarem com a melhoria temporária da situação de alguns deles. À figura que Lênin, antes chamava de "burocrata sindical", ouso afirmar a existência do "burocrata do voto", ou do "burocrata da administração pública", cujos números da tecnocracia bastam para afirmar a existência do espaço que ocupam

Para Lênin:

"Jamais se repetirá suficientemente que o ideal de um social-democrata não deve ser o secretário de uma 'trade-union', mas o tribuno popular que sabe reagir contra toda manifestação de arbítrio e de opressão, onde quer que essa se manifeste e qualquer que seja a classe ou a categoria que os sofre; que sabe generalizar todos estes fatos e unificá-los num quadro completo da violência policial e da exploração capitalista; que sabe, enfim, aproveitar a mínima ocasião para expor diante de todos as próprias convicções socialistas e as próprias reivindicações democráticas, a fim de explicar a todos a importância histórica mundial da luta emancipadora do proletariado."

No ambiente atual, em que a escolha sobre quem deve ocupar os espaços públicos através das eleições é cada vez mais determinado pelo poder econômico, torna-se ainda mais necessária a vigilância permanente diante das práticas comunistas nos espaços de poder, pois como afirmou Lukács, "o funcionamento indisturbado do domínio da burguesia é facilitado pela atomização das massas populares, pela sua ideologia corporativa, segundo a qual cada um se contenta com o trabalho particular que lhe é indicado pela divisão capitalista do trabalho e aceita conscientemente as formas de pensar e de sentir que decorrem espontaneamente desta divisão."

Por isso, para o sucesso da revolução brasileira, com feições nacionais, permaneçamos atentos às pressões externas e internas que podem diminuir o papel daqueles que estão, coletivamente, motivados a realizar a transformação mais profunda que pode existir em nossa sociedade: a mudança desse sistema opressor, desigual e corrupto por um sistema de igualdade e fraternidade. Os protagonistas dessa luta, a vanguarda revolucionária, os comunistas precisam ser, cada vez mais, homens e mulheres preparados para arrastar milhões à luta do proletariado e dos povos oprimidos, em qualquer espaço que estejam, de qualquer microfone de onde fale, para todo público para o qual se dirija!




sexta-feira, 12 de junho de 2015

(in)definição

Que palavra poderei eu encontrar para te definir
Em que dicionário existe verbete que decifre a cor de tua coragem
Em que infinto eu andaria a procurar o ar da nossa existência
Ou que melodia embalaria a nossa história a não ser os gritos, sussurros e suspiros...

Limitar-te é arte inglória
que no meu papel não cabe
mesmo que acabe a inspiração

No máximo, o desejo de nos respirar
no máximo, a arte de te ver amar

Definir-te é arte que em mim é desenhada,
somente em mim interpretada, quando valho-me de ti.

Em mim, eternamente alvorada,
faz da tua jornada
bem precioso que és.

domingo, 7 de junho de 2015

Paulo Nogueira: Como o PiG enterrou o Swissleaks*

*Retirado de www.conversaafiada.com.br

E então ficamos sabendo que o HSBC fechou um acordo com a Suíça para encerrar o escândalo Swissleaks.

O acordo é o clássico: o HSBC pagou para não ser mais importunado com processos, investigações e coisas desagradáveis do gênero.

O que nós não ficamos sabendo, no Brasil, é o lado brasileiro do caso.

Num dos maiores fracassos do jornalismo nacional, a parceria UOL e Globo para cobrir o assunto deu em nada.

Foi uma soma bizarra. Um mais um, UOL mais Globo, deu zero.

O experiente Fernando Rodrigues, do UOL, fez um papel ridículo, é certo. A lista dos sonegadores brasileiros foi passada a ele por uma obscura associação internacional de jornalistas investigativos da qual ele faz parte.

Poderia ser seu momento de glória, mas acabou sendo seu instante de opróbrio.

Fernando Rodrigues praticou também sonegação. Um outro tipo de sonegação: o de informações.

É verdade que  as chamadas ordens de cima devem ter limitado brutalmente sua autonomia para cuidar da história.

Os Frias, donos da Folha e do UOL, estavam na lista.

Se os Frias não cobriram nem a sonegação documentada da Globo, imagine o que eles não fariam com sonegação caseira.

O maior erro de Rodrigues provavelmente foi não manobrar para passar adiante, para mãos menos comprometidas, a tarefa de ser o responsável pela divulgação do escândalo no Brasil?

Vaidade? Ignorância a respeito da sonegação contumaz das corporações jornalísticas brasileiras?

Cada um fique com sua explicação. Acho que a hipótese dois, o desconhecimento, é a mais provável.

A morte do caso deve muito também ao comportamento omisso da Receita Federal e das autoridades econômicas do governo.

Sonegação é um assunto que exige, dos governos, berros. Em inglês, há uma expressão comumente usada: “name and shame”.

Você dá os nomes e constrange os sonegadores.

No Reino Unido, o governo nomeou, há pouco tempo, empresas como Apple, Amazon e Starbucks como donas de práticas indecentes para evadir impostos.

Basicamente, elas fazem o seguinte: ganham dinheiro no Reino Unido mas pagam impostos em paraísos fiscais.

Os britânicos ficaram sabendo quanto faturam as empresas e quanto pagam de impostos. Isso gerou indignação na opinião pública. Houve manifestações em lojas da Starbucks em Londres, por exemplo.

No Brasil, o governo não se manifesta sobre nada, e a Receita menos ainda.

Quando se sabe quanto é vital equilibrar as contas, e os sacrifícios advindos do ajuste fiscal, é um silêncio indefensável.

A omissão faz entender uma colocação recente do antigo funcionário do HSBC que vazou a lista, Hervé Falciano.

Numa entrevista ao Estadão, Falciano disse que os especialistas em evasão – em geral advogados – se deslocaram nos últimos anos da Europa, onde o cerco agora é grande, para países como o Brasil.

Aqui, as coisas são bem mais fáceis para os grandes sonegadores.

Falciano usou a expressão “bancos opacos” para designar os que oferecem aos clientes manobras para evasão fiscal.

“O Brasil é o maior alvo dos bancos que praticam a opacidade financeira no mundo inteiro”, disse ele.

Somos, segundo Falciani, “o país em que há mais facilidade para todas as atividades de finanças opacas”.

Bilhões se perdem assim, e sistematicamente.

Mas ninguém bate panelas contra isso. Quanto à mídia, num universo menos imperfeito ela deveria ajudar a combater a sonegação.

Só que ela também sonega, como ficou claro mesmo nas miseráveis informações prestadas sobre o Swissleaks pela Dupla Zero, UOL e Globo.