O golpe realizado pelas forças conservadoras do nosso país, mais do que atacar a democracia e o Estado Democrático de Direito, ataca profundamente a subjetividade, o ânimo e a vontade de ver realizadas, através do voto, as melhorias que as pessoas interessadas por um futuro digno do nosso país sempre almejaram. Isso porque o golpe ataca diretamente o acúmulo institucional que a esquerda e as forças progressistas alcançaram nos últimos tempos.
O valor dessa disputa institucional sempre foi questionado por setores da esquerda nesses 13 anos de conquistas por que passamos. Vários não entenderam a real profundidade da mudança que, mesmo lenta em determinados aspectos, estava sendo realizada através da institucionalidade, por dentro da democracia burguesa e através do voto.
Em que pese os erros acumulados nesse tempo, sobretudo no que diz respeito à educação das massas, ao aspecto da renovação de certezas existentes na superestrutura político-ideológica e um certo 'esvaziamento' de determinados setores dos movimentos sociais, além, é claro do 'encantamento' da força dirigente com as estruturas de poder, é um erro grave avaliar que o fracasso recente está relacionado a "exagero de disputa institucional". Muito pelo contrário. Se é possível - o que não acredito muito ser - creditar a algumas poucas palavras alguns dos motivos dos erros, um deles é, com certeza, a deficiência da realização de amplitude e do exercício da hegemonia política. Foi, e ainda é, nas condições históricas atuais do nosso país, através do voto e da não desejada aliança com setores de centro, conservadores e até reacionários, que as mudanças foram, são e serão realizadas, pelo menos num futuro próximo e médio.
Por isso, ao ver o debate em torno das eleições municipais, em que o cenário real, concreto é o de um varrimento da esquerda brasileira, um verdadeiro enxovalhamento, com prisões de nossos líderes sendo planejadas e executadas, com a ofensiva midiática, agora, tentando fazer crer que medidas regressivas adotadas pelo governo usurpador farão bem ao país, é preciso entender que nossa luta é - em cenário mais amplo de defensiva estratégica, e agora tática - lutar pela sobrevivência. Nesse sentido, a luta pela sobrevivência faz-se até mais amplamente, já que, para os comunistas essa luta existe há pelo menos 100 anos; mas falo dos mais amplos setores da esquerda, mesmo aqueles que não se enxergam nesse risco e não percebem a possibilidade de simplesmente deixarem de existir.
Talvez por não entenderem isso, ainda colocam em suas pautas diárias - entre líderes e militantes - o questionamento às alianças praticadas pelas forças políticas, em especial pelos comunistas, esquecendo que o golpe foi dado nessa seara, na institucionalidade que nos relegou a um isolamento grave, impossibilitados de diálogo com outras forças políticas que não fossem as nossas.
Diante desse cenário, de luta pela sobrevivência, os comunistas não se furtam de buscar alianças com os diferentes, num gesto claro de buscar sair do isolamento que, em grande parte, deve-se às insuficiências da força hegemônica desses últimos tempos, pela qual optamos por pagar o preço juntos, assim como as conquistas, mas que, no entanto, a depender dela, os comunistas talvez nem pudesse mais disputar eleições com sua legenda, já que foram claramente a favor de medidas restritivas como a cláusula de barreira.
O que fica claro para os comunistas, na análise concreta da realidade concreta, é que, no estágio atual da luta de classes no Brasil, não se logram conquistas reais para a população sem obter êxito eleitoral. A revolução não será obra da boa vontade de homens e mulheres, mas resultado da real correlação de forças e do curso da história, do acúmulo de forças por parte dos setores progressistas e de um real desenvolvimento econômico e social de nosso país, a começar pelas cidades.
Por isso, não será agora que os comunistas fugirão do desafio de encarar mais uma eleição, mesmo em cenário adverso, sob ataques da direita e dos amigos da esquerda, realizarão, esta semana, mais um vitorioso episódio de sua história, exercitando a rigidez de seus princípios e a flexibilidade da tática, dialogando com os diferentes, pois não se faz alianças apenas entre os iguais. A história comprova isso.
Os comunistas estão acostumados, Brasil, em seus mais de 90 anos a fazer sacrifícios em torno da manutenção da vida de nossa legenda, combatida por esquerdistas, fascistas e neoliberais. A história não tem espaço para análises moralistas, oportunistas e fracas. Como diria Lênin, "é preciso sonhar, mas com a condição de crer em nossos sonho, de observar com atenção a vida real, de confrontar a observação com nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossa fantasia". E é só assim, com os pés fincados na realidade concreta que serão realizadas as mudanças que a humanidade sonha e precisa, por dias de sol e socialismo e cidades mais humanas, vamos à luta!