A teoria de Marx
é todo-poderosa porque ela é verdadeira
Vladimir Ilitch Lênin
Durante grande parte da minha militância, ouvi e ouço, às vezes com ares de grande descoberta, questionamentos ou afirmações cheias de certeza sobre uma certa falta de atualidade e relevência do Marxismo nos tempos em que vivemos.
As críticas partem de todos os lados: da direita, que, em verdade, apenas escamoteia seus verdadeiros interesses e tenta omitir aquilo que é mais óbvio da teoria marxista (luta de classes, base econômica das relações sociais, dominação ideológica das classes dominantes, etc.) e, por parte da esquerda, uma provocação acerca de uma suposta obsolescência, de que o Marxismo simplesmente não oferece mais respostas aos problemas de nosso tempo; o que, obviamente, apenas reflete um desconhecimento da teoria, uma capitulação às ideias liberais, àquilo que rende mais likes e uma falta de capacidade de aplicação crítica e criativa de um método que, sobretudo, pretende se debruçar sobre a realidade que existe, não aquela que desejamos.
A questão, portanto, que mantém o marxismo renovado e relevante não é o tom profético de muitas afirmações feitas por Marx e Engels no século XIX, mas o olhar que ele direciona aos problemas de seu tempo, baseado numa filosofia cuja raiz não surge da mente desses dois intelectuais, mas de uma tradição filosófica da humanidade: o materialismo; aliado à dialética hegeliana (de base idealista) e à economia de nomes como David Ricardo e Adam Smith. Não por coincidência, a principal obra do Marxismo não é uma obra sobre um ideal de sociedade, mas sim a que disseca a sociedade capitalista e seus mecanismos de produção, reprodução e circulação de mercadorias e riquezas.
Foi da mesma forma, mesmo antes do lançamento de O Capital, através da articulação das três “epistemes”, que obras como As Lutas de Classes na França; Guerra Civil na França e a Situação da Classe Operária na Inglaterra fizeram análises da realidade concreta, baseadas em algumas premissas que permanecem bastante atuais, a saber:
1) Distinção entre aparência e essência dos fenômenos sociais;
2) Identificação das contradições centrais que motivam determinado conflito;
3) Identificação dos principais inimigos e potenciais aliados;
4) Identificação dos interesses das classes sociais e de suas frações;
5) Atuação baseada na práxis revolucionária (não basta decifrar o mundo, mas sim mudá-lo, Tese 11 de A Ideologia Alemã) para alterar a correlação de forças;
No atual estágio das lutas de classes no mundo e especialmente no Brasil, portanto, aplicar essa metodologia, esse olhar para a realidade, nada mais é que fazer vivo o Materlismo Dialético. Ou seja, não é preciso transpor frases prontas de obras clássicas, mas adotar determinada postura para analisar e atuar na realidade, observando todo o contexto possível para a realização de nossas vontades, para que não passemos a mirar nossas armas para os alvos errados, no momento errado.
No Brasil, por exemplo, parte da dita esquerda radical, prefere apontar suas armas para o Governo Federal, sem identificar os elementos citados acima, fazendo crer que apontar suas insuficiências e limites bastaria para alterar a correlação de forças. Da mesma forma, a esquerda mais moderada é tomada por uma verdadeira ilusão de classes e por uma espécie de má vontade em identificar a essência dos fenômenos, uma certa preguiça e falta de convicção de atacar os verdadeiros problemas estruturais da sociedade brasileira (política macroeconômica, ausência de projeto nacional, entre outros).
Dito isso, parece mais nítida a percepção de que a teoria revolucionária não está fora de moda, até porque o esgotamento da sociedade capitalista e a emergência de modelos alternativos de desenvolvimento (vide China e Vietnã) fazem essa teoria se renovar e beber de experiências históricas da humanidade - confucionismo na China, por exemplo.
Nesse contexto de confusão teórica, de visão um tanto quanto turva para os verdadeiros problemas, faz-se fundamental não perder de vista esses elementos basilares para fazer qualquer análise que se preze. É isso que torna o marxismo vivo e a verdadeira arma para transformar a realidade de maneira profunda, visto que continua a ser a única ciência que pretende acabar com a exploração do homem pelo homem, para garantir um futuro de paz e prosperidade. Para isso se realizar, não se perder no mar de distrações e enxergar a profundidade desse oceano que navegamos é tarefa daqueles que se dizem agentes transformadores. Sem apenas sonhar, mas produzindo e analisando as verdadeiras condições para realização do nosso sonho de verdadeira emancipação da classe trabalhadora. A luta continua e, enquanto, existir o marxismo permanecerá vivo e atual.
2 comentários:
Carminha Alencar
Os ricos jamais aceitarão qualquer teoria que desvende a forma como enriquecem e como esses dominam o mundo, manipulando a maioria em função de atingirem cada vez mais riquezar em benefícios próprios.
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