sexta-feira, 24 de maio de 2013

Com dogmas, não há revolução.

Estamos nos aproximando de mais um congresso da União Nacional dos Estudantes, o 53º. Dispenso, neste texto, comentários sobre a importância e o papel que o congresso que se realizará em Goiânia tem para o conjunto da sociedade brasileira, em especial os estudantes. É o maior evento de juventude que o Brasil pode abrigar. 

Desde 2005, mesmo não tendo ido a todos, acompanho as mobilizações, eleições de delegados e debates que perpetram os congressos. E, neste ano, em que os comunistas, organizados no movimento "Bloco na Rua", obtiveram diversas vitórias, algumas coisas me chamaram a atenção no curso das eleições e gostaria de compartilhá-las aqui, em poucas linhas.

A UNE é, sem sombra de dúvidas, a entidade de massas mais democrática que o país tem. A UNE á patrimônio do povo brasileiro, fruto da luta de diversos homens e mulheres que lutaram pela democracia, pelo que é justo, pelo que é certo. Disse, em texto anterior, que a UNE sempre cumpriu papel fundamental em tudo o que se refere ao Brasil. Inserida nessa característica democrática da União Nacional dos Estudantes, podemos ver, sem muito esforço, a pluralidade sobre a qual a entidade é edificada. Nela, podemos observar dezenas de tendências político-ideológicas: dos neoliberais à esquerdalha trotkista, passando por tendências progressistas e dirigidas majoritariamente pelos comunistas. E é sob trabalho dos comunistas que a UNE tem atuado e organizado a luta dos estudantes, considerando a luta política concreta que está em curso no país.

Sobre esses aspectos, mesmo sob demasiadas críticas de "falta de democracia", todos puderam participar e fazer ouvir suas opiniões em eleições em todas as universidades do país. E o resultado das eleições me deixa uma lição: com dogmas, não há revolução.

Ouvi, no curso das eleições, debatendo com outras forças políticas, absurdos relacionados a análise da conjuntura de nosso país. Ouvi, e disso agora tenho certeza, que, principalmente os esquerdistas, desconhecem a categoria dialética da transição. Para os comunistas, a experiência do socialismo na URSS trouxe várias lições que precisam ser apreendidas e transformadas em combustível para as reais possibilidades de transformação da sociedade brasileira. Sendo assim, fazemos de nossas leituras, lições de leituras críticas e de possibilidades criativas de aplicação das mesmas, porque entendemos que a leitura do marxismo como dogma é anti-científico. O "Manifesto do Partido Comunista", assim como as demais obras, não é bíblia, é Ciência. Entendemos que não há modelo único de socialismo - não adianta tentar copiar ipsis litteris a experiência de outros países - além, é claro, de entendermos que não há passagem direta do capitalismo ao socialismo. A edificação da sociedade socialista passa por um período de transição, com etapas e fases de maior ou menor velocidade, dependendo da correlação de forças mundial e a realidade de cada país.

Para nós comunistas, o entendimento da categoria dialética da transição é algo muito caro; custou o esforço e elaboração teórica para nos prepararmos e construirmos as condições para transformação da sociedade. Para Lênin, "tudo está mediado, interligado num todo por meio de transições". Portanto, a revolução, por meio de transições, realizará as mudanças profundas no conteúdo da sociedade em que vivemos, e não na forma. Além disso, compreendemos a relação entre a realidade, a possibilidade e a necessidade nos processos de transição, pois a possibilidade de criação de um processo revolucionário só será dado caso haja condições reais.

Entretanto, as críticas e práticas dos esquerdistas -  principais autores das críticas contra nós - não é nova: Marx, na década de 1840, diante da unificação alemã, ao apoiar a revolução burguesa naquele país, foi duramente criticado por grupos que se autointitulavam como "socialistas verdadeiros". Entendendo que a unificação da Alemanha era condição basilar para a unificação do proletariado e sua constituição como "classe nacional", Marx e Engels elaboraram reivindicações para uma possível revolução burguesa; compuseram a ala esquerda do partido democrático e, por isso, foram acusados simplesmente de "traírem o Manifesto Comunista". Lênin, posteriormente, também enfrentou o debate com esquerdistas que não entendiam a precariedade da economia russa no início do século XX e a necessidade de desenvolver o Capitalismo e de uma revolução democrático-burguesa em 1905, naquele país; para eles, Lênin afirma: "Ao fixar como objetivo do governo provisório revolucionário a realização do programa mínimo, eliminam-se as absurdas ideias semianarquistas sobre  a realização imediata do programa máximo, sobre a conquista do poder para levar a cabo a revolução socialista. (...) Só os mais ignorantes podem passar por cima do caráter burguês da revolução democrática que está se desenvolvendo (...). E como resposta às objeções anarquistas de que adiamos a revolução socialista, diremos: não adiamos e sim demos o primeiro passo para ela através do único procedimento possível, do único caminho justo, que é o da república democrática."

Os exemplos históricos, reforçando o que disse, também não devem ser lidos como dogmas, mas como exemplos reais de como atuar, entendendo a realidade concreta e a correlação de forças sobre a qual intervimos. É por essas e outras que a atuação dos comunistas para transformação do Brasil, sobretudo no movimento educacional, são garantias de que estamos no rumo certo. Estamos certos porque compreendemos todas as mazelas educacionais de nosso país, frutos de um abandono de 500 anos de exploração e de concentração de riqueza e educação em todos esses anos; certos porque compreendemos que éramos, há pouquíssimo tempo(2003), um país que investia R$ 31 bilhões e que, em 2012, passou a investir R$ 86 bilhões; porque sabemos que, com o ProUni 1,1 milhão de estudantes tiveram acesso ao Ensino Superior, destes, 49% negros e indígenas; porque sabemos que precisamos acabar com o apartheid educacional; porque sabemos que ainda é baixíssimo o acesso da juventude brasileira à universidade e ao ensino básico de qualidade; e porque, principalmente, sabemos que é preciso mobilizar milhares, milhões para garantir os sucessos do nosso país.

Este ano não irei ao Congresso da UNE, mas levo, em cada delegado e delegada que sonha em mudar o país, a certeza de que estamos no caminho certo para realizarmos uma verdadeira revolução no país. Os olhos brilhantes de uma juventude que sonha com um país melhor estarão atentos e convencidos de que os comunistas estão realizando a maior mobilização em torno daquilo que edificará uma transformação profunda no nosso país. Responderemos, aos críticos de plantão, não com ódio, mas com um Brasil melhor para nós, para eles, para seus e nossos filhos. 

Um bom congresso a todos!

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