segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Rua Frei Manoel Calado

Casa da minha vó... Ainda sinto o cheiro do guizado aquecendo na cozinha. Pirão forte, comida que "dava na fraqueza".

Lembro das mangas que lambuzavam meus dedos; pés eram vários: manga espada, manguito, manga rosa... com gosto de infância descalça, que construía palcos de tijolo para mostrar o talento na roda das tias.

Rua Frei Manoel Calado, até hoje não sei quem te batiza, mas sei da esquizofrenia que te benze e, hoje, estás tao mudada. 

Eram grandes casas... Entrávamos em quase todas. Copo d'água ou bola de gude; servia até a cabra cega entre os motivos para frequentá-las.

Nas vendinhas da rua, éramos os mais felizes: paçoca com gosto de conquista por ter lavado o carro da tia. Comer devagar pra não acabar...

Mas acabou. Diferente da paçoca que era apreciada lentamente, a infância passou dizendo adeus, junto com os pés de manga que minha vó derrubou para abrigar os seus. Nas ruas da minha infância, estão escondidas as febres pelas saudades, o medo do carnaval e a vontade de andar descalço novamente. Agora, a vida é asfalto: duro e quente, sem a maciez da terra, que mesmo quente e cheia de pedras no caminho, nos proporcionava a beleza de desenhar um sol num dia de chuva, até mesmo de derreter-se com a chuva que caía e oferecer-nos seu cheiro de satisfação.

Hoje, esperamos da vida um cafuné, qual aquele que só nossa vó sabia. E mesmo no asfalto, sinuosamente retorno, de olhos fechados e coração aberto ao lugar que guardo em mim, na rua que me fez quem sou. 


Nenhum comentário: