Mais um ano chegando ao fim. Tempo das pessoas fazerem suas retrospectivas pessoais, dos telejornais realizarem as retrospectivas das grandes notícias do ano fazerem o apanhado do que de mais importante aconteceu durante o ano e, para os afeitos ao esporte bretão, comemorar ou chorar o desempenho do seu time de coração durante o período.
Não me proponho neste texto a nenhuma das três ações acima citadas; mas como, apesar de capaz e estimulado a fazer retrospectivas pessoais e políticas, utilizo este espaço para falar um pouco sobre uma de minhas grandes paixões: o futebol, digo, o Santa Cruz Futebol Clube.
Num ano em que o clube das três cores conquistou dois títulos importantes - tricampeonato pernambucano e campeonato brasileiro da série C - muitas foram as matérias de caráter nacional que deram destaque ao principal feito desse clube. Longe de exaltar, somente no campo, as conquistas realizadas, o poder de mobilização popular de que o Santa Cruz é capaz foi alvo de inúmeras menções Brasil afora. Por mais um ano, o Santa Cruz - mesmo disputando uma série C do campeonato brasileiro - foi um dos clubes com a maior média de público no Brasil. Esse feito não tem sido novidade para sua torcida, que sofrida, e de origem extremamente popular, enxergam no seu clube algo que constitui a sua personalidade e parte importante da sua vida - pedreiros, garis, trabalhadores terceirizados, pessoas simples, que além de contribuir para a popularização desse esporte bretão, encaram com paixão a queda e ascensão do seu time.
Além do já comentado e batido caráter popular do clube da Beberibe, neste ano, uma pitada a mais de irreverência e de identificação com o povo contribuíram para tornar o sofrimento de muitos que choraram a tragédia recente do time em verdadeira alegria. Os gols de uma estrela cujo apelido rememora sua infância pobre, num bairro da periferia do Recife - Flávio Caça-Rato - marcaram uma relação de simbiose entre torcida e clube, entre jogador e time, entre time e povo. Todos, uma só personalidade.
Personalidade. Junto-me a esses milhões de torcedores que viram a tragédia do Santa Cruz e que, ao final de mais um campeonato, choraram, bebemoraram e cantaram as cores desse clube. Nesse momento em que arenas maravilhosas são construídas; em que a presença de torcidas organizadas é discutida e a possível "elitização" do futebol se torna próxima, estive presente para presenciar e me vangloriar junto a todos esses. Estive porque estou certo de que mais do que torcer para um clube, torcer para o Santa Cruz constitui uma personalidade, um lugar na subjetividade dessa palavra de definir. Identifico-me com meu time para além de seus resultados e campeonatos que disputa. Sou um pouco - ou muita parte - de Santa Cruz. Que chora, que ri, que reclama da vida, da bola que nunca entra, dos gols sofridos aos 45 minutos do segundo tempo; mas que, no domingo seguinte, veste sua camisa com a esperança de extravasar o grito de gol. Sou todo Santa Cruz e tenho certeza de que não seria quem sou caso torcesse por outro time. Ser Santa Cruz me faz ser mais povo, me faz valorizar cada vitória e reconhecer em cada momento difícil a esperança de uma nova aurora. É assim, há vinte e seis anos comigo, mas há cem com milhões e milhões. Viva o time do povo, viva o Santa Cruz!
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