Quem já fez ou faz movimento estudantil, seja na década de 90, cujo combate ao neoliberalismo era o principal mote, seja nos anos 2000, cuja briga era e é para ampliar o acesso e a qualidade da escola e da universidade brasileira, sabe o quanto têm sido importantes as políticas afirmativas que buscam democratizar a universidade brasileira. Afinal de contas, num país em que o ensino superior é algo relativamente novo, num país cujas elites se formavam viradas para a metrópole Portugal, acabou-se, equivocadamente, criando a ideia de naturalidade em relação ao perfil excludente da universidade brasileira.
Contudo, nos últimos onze anos, o Brasil passou a viver, através de políticas com as cotas, uma mudança considerável no perfil das universidades. Mas, mesmo assim, a universidade ainda se mantém com um dos feudos da elite brasileira.. É nesse espaço institucional que a burguesia vem solidificando sua opinião e formando "quadros" para dirigir o país conforme os interesses particulares de uma classe. Dessa forma, é na pós-graduação que moram todos os aspectos de indução dessas práticas. Pois, se por um lado, tem-se conseguido fazer a democratização da graduação, na pós-graduação a realidade ainda é bem precária. Núcleos de poder são formados e protegidos por uma pequena parcela da população que, não entendendo como público o direito à ciência, escolhem o perfil de cursos universitários, como e com quem deve-se pesquisar no país.
Fazer o balanço, portanto, da luta de ideias que se trava no interior da universidade brasileira, colocando os dois lados - democratização do acesso/pós-graduação conservadora - é reconhecer que os avanços e retrocessos são sintomas de uma sociedade em transição. Por isso, não se pode nem afirmar com toda certeza que vencemos a batalha quando conseguimos colocar o povo, de maneira gradual, na universidade; nem podemos dizer que tudo está perdido quando nos deparamos com o quadro da pós-graduação. No mínimo, conseguimos constatar que "a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante". Portanto, para alcançarmos isso, conquistar o poder político é essencial.
Para o PCdoB, o proletariado tem na justaposição de três frentes de acumulação de força - institucional, de massas e de ideias - a grande estratégia para se obter esse poder. Mas ao relatar esses elementos, é possível fazer crer que a luta de ideias está presente em todas as demais lutas. É impossível fazer luta institucional e de massas se não houver boas ideias pelas quais se queira lutar. E mais: articulá-las e formulá-las é essencial para a disputa que há em toda a sociedade (universidades, mídia, escola etc). Por isso, se por um lado é salutar a luta por escolas de qualidade, condições dignas de trabalho, entre outras; a luta por uma universidade "pintada de povo" é cada vez mais urgente num país que há onze anos é dirigido por uma frente de esquerda. Desenvolver a economia do país passa, também, por um desenvolvimento diferenciado das ideias que podem transformar para melhor a vida das pessoas; e se "pintar a universidade de povo" é uma meta, que a graduação seja apenas o piso, para desenvolver a ciência com o povo e para o povo, reforçando setores estratégicos e que façam o país crescer.
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