sábado, 3 de maio de 2014

2014, eleições e a verdade eleitoral.


O Brasil em mudança

O Brasil mudou. Não há cidadão brasileiro, dos mais bem intencionados aos mais pessimistas, que não perceba essa mudança. As mudanças na vida do brasileiro são mais visíveis do que a frieza dos números pode nos trazer. É mudança de brios, de aceitação enquanto brasileiro, de felicidade. Obviamente, ter feito de um operário Presidente da República mexeu com as prioridades do Estado brasileiro, mas, sobretudo com a esperança de trabalhadores de todo o país.

Nos últimos onze anos de governos populares, podemos afirmar com toda a certeza que temos uma economia solidificada. Mesmo em meio a uma crise econômica profunda do sistema capitalista, o Brasil conseguiu, nesses últimos anos, manter o crescimento econômico duradouro: tivemos, desde 2003, taxa média de crescimento a 3,4% do PIB contra 2,3% do período FHC. A inflação, que no período FHC não deixava de rondar a casa dos 9% de acordo com o IPCA, chegando a atingir no seu último ano de governo 12,53%, nos últimos 11 anos sempre esteve sob controle, na casa dos 6%. Crescemos o número de exportações atingindo mais de 200.000,00 de dólares contra os 73 do último ano de FHC

Nos últimos 11 anos, superamos a ausência total do estado em setores estratégicos para o país. Afinal de contas, quem não se lembra do apagão de energia elétrica em 2001?

Para além das mudanças econômico-numéricas, o Brasil passou a respirar mais democracia. Nunca, se não fosse um governo oriundo das forças populares e de esquerda, poderíamos ter visto a criação de secretarias como as de juventude, mulheres e negros; nunca veríamos o combate às diferenças sociais e regionais como política de estado; nunca poderíamos comemorar aumento real do salário mínimo na casa de 70% desde 2003. Na área da educação, nunca seria imaginável política como a de cotas e a certeza de que é preciso investimento robusto em educação.

Entraves ao desenvolvimento

Mas, mesmo com todas essas conquistas, algo que era essencial para podermos aprofundar e acelerar o processo de transição a um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento é a realização de reformas estruturais, reformas que mesmo no marco do capitalismo dão cabo às necessidades mais urgentes da população brasileira. Não obstante, é importante ressaltarmos dois dos – talvez – mais importantes motivos pelos quais não avançamos mais: primeiro, a tão famigerada “correlação de forças”, a composição  que as forças populares foram obrigadas a fazer desde a carta aos brasileiros em 2002 privilegiou uma aliança com as forças – as maiores, diga-se de passagem – de centro e centro-direita do país (PMDB, PR,PRB), em nome da “governabilidade”; portanto, o país, necessitando desses setores, foi aos poucos cedendo às suas pressões e deixando a segundo plano conquistas mais significativas. O segundo motivo, talvez mais polêmico, seja a falta de vontade mesmo da força hegemônica – o PT – em realizar certas reformas. Digo isso porque nem mesmo é claro para setores do PT a opinião sobre questões como a reforma política, pois quando houve a mobilização a favor do Marco Civil da Internet conseguiu-se aprovar.

Por questões como as colocadas acima, no momento eleitoral, pareceria óbvio que, também devido aos avanços da democracia no país, caberia uma alternativa mais à esquerda no processo eleitoral, uma alternativa que validasse e valorizasse as conquistas recentes e aprofundasse as mudanças, avançasse em questões como a reforma política, a democratização dos meios de comunicação e enfrentasse o capital financeiro com medidas menos causticantes à economia brasileira como a política de juros como único meio de combate à inflação, o superávit primário e o câmbio. Primeiro porque tem sido cada vez mais clara a derrota do projeto neoliberal da década de 90, cujos representantes partidários têm acumulado derrotas eleitorais consecutivamente, mas que mantém como única e grande base de sustentação a mídia conservadora; segundo porque as forças progressistas que deram sustentação ao governo Lula e Dilma revelaram grandes quadros e gestões exitosas em vários estados da federação, como é o caso de Eduardo Campos em Pernambuco.

Terceira via?

O governo de Eduardo Campos em Pernambuco, sem meias palavras, deu certo. Obviamente, há vários fatores para chegar a essa conclusão, entre elas, a mais importante de todas: a decisão política do Governo Federal em diminuir as desigualdades regionais, resultando daí vários investimentos que abriram um novo ciclo na economia pernambucana, que passou a contar com um parque industrial  - refinaria Abreu e Lima, fábrica da Fiat, Hemobrás, estaleiro Atlântico Sul, polo gesseiro do Araripe, polo têxtil do Agreste etc.. É óbvio também que todos esses investimentos só foram possíveis devido a uma grande afinidade política entre Governo Federal e Estadual,  em que desenvolvimento e distribuição de renda e oportunidades foram palavras de ordem.

Para além disso, o modelo de gestão aplicado em Pernambuco ganhou ares de prioridade, com metas a serem batidas, desoneração do estado com diminuição do serviço público, contratação de OS’s, construção de hospitais e um forte investimento em segurança pública a fim de diminuir os índices de assassinatos com o “Pacto pela Vida”.

Por essas e outras, a candidatura de Eduardo Campos parecia justíssima: dentro do campo democrático, puxar o Brasil mais à esquerda, essa seria a missão. Porém, vencer é o objetivo e para isso por que não angariar apoio do setor financeiro? Por que não ganhar o apoio da mídia? Por que não atacar o PT? Essas são as perguntas feitas por quem foi pego pelo “canto da sereia” da mídia, da possibilidade de ganhar as eleições e antagonizar com o projeto construído até então, mesmo que para isso precise defender, por exemplo, “os fundamentos macroeconômicos”.

A verdade em ação

Essas eleições, portanto, não mudam de ares, novamente teremos uma polarização, desta vez governo e oposições, assim no plural mesmo, entre aqueles que querem aprofundar as mudanças e aqueles que querem retomar o projeto entreguista e privatista dos anos 90. Por isso, cabe a nós da esquerda aprofundar e qualificar o debate eleitoral. O debate da economia, por exemplo, precisa ser colocado às claras: quais são os problemas reais da economia brasileira? Para nós, é a grande entrega de dinheiro à agiotagem internacional através do pagamento de juros da dívida, para nós é essa moeda artificialmente sobrevalorizada, para nós é a necessidade de se investir mais na indústria, para nós, é o tripé neoliberal que ainda existe. E para eles, quais são os problemas? O bolsa-famíla? O pleno emprego? O crédito para a classe trabalhadora? Quais os problemas?


Somos nós quem precisamos dizer, propor, dar um sentido estratégico à construção da nossa nação, cuja estabilidade inflacionária deixe de ser o nosso grande objetivo e desenvolvimento seja a palavra de ordem. Debater como financiamos esse desenvolvimento, por exemplo, é essencial. Garantir a justa parceria entre o público e o privado para dar vazão a obras de infraestrutura que precisamos para i) garantir a qualidade de vida nas cidades e ii) integrar um país continental, levando desenvolvimento para todo o país. Para começar, comecemos dizendo a verdade. Vamos à luta!

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