O Brasil em mudança
O Brasil mudou. Não há cidadão
brasileiro, dos mais bem intencionados aos mais pessimistas, que não perceba
essa mudança. As mudanças na vida do brasileiro são mais visíveis do que a
frieza dos números pode nos trazer. É mudança de brios, de aceitação enquanto
brasileiro, de felicidade. Obviamente, ter feito de um operário Presidente da
República mexeu com as prioridades do Estado brasileiro, mas, sobretudo com a
esperança de trabalhadores de todo o país.
Nos últimos onze anos de governos
populares, podemos afirmar com toda a certeza que temos uma economia
solidificada. Mesmo em meio a uma crise econômica profunda do sistema
capitalista, o Brasil conseguiu, nesses últimos anos, manter o crescimento
econômico duradouro: tivemos, desde 2003, taxa média de crescimento a 3,4% do
PIB contra 2,3% do período FHC. A inflação, que no período FHC não deixava de
rondar a casa dos 9% de acordo com o IPCA, chegando a atingir no seu último ano
de governo 12,53%, nos últimos 11 anos sempre esteve sob controle, na casa dos
6%. Crescemos o número de exportações atingindo mais de 200.000,00 de dólares
contra os 73 do último ano de FHC
Nos últimos 11 anos, superamos a
ausência total do estado em setores estratégicos para o país. Afinal de contas,
quem não se lembra do apagão de energia elétrica em 2001?
Para além das mudanças
econômico-numéricas, o Brasil passou a respirar mais democracia. Nunca, se não
fosse um governo oriundo das forças populares e de esquerda, poderíamos ter
visto a criação de secretarias como as de juventude, mulheres e negros; nunca
veríamos o combate às diferenças sociais e regionais como política de estado;
nunca poderíamos comemorar aumento real do salário mínimo na casa de 70% desde
2003. Na área da educação, nunca seria imaginável política como a de cotas e a
certeza de que é preciso investimento robusto em educação.
Entraves ao desenvolvimento
Mas, mesmo com todas essas
conquistas, algo que era essencial para podermos aprofundar e acelerar o
processo de transição a um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento é a
realização de reformas estruturais, reformas que mesmo no marco do capitalismo
dão cabo às necessidades mais urgentes da população brasileira. Não obstante, é
importante ressaltarmos dois dos – talvez – mais importantes motivos pelos
quais não avançamos mais: primeiro, a tão famigerada “correlação de forças”, a
composição que as forças populares foram
obrigadas a fazer desde a carta aos brasileiros em 2002 privilegiou uma aliança
com as forças – as maiores, diga-se de passagem – de centro e centro-direita do
país (PMDB, PR,PRB), em nome da “governabilidade”; portanto, o país,
necessitando desses setores, foi aos poucos cedendo às suas pressões e deixando
a segundo plano conquistas mais significativas. O segundo motivo, talvez mais
polêmico, seja a falta de vontade mesmo da força hegemônica – o PT – em
realizar certas reformas. Digo isso porque nem mesmo é claro para setores do PT
a opinião sobre questões como a reforma política, pois quando houve a
mobilização a favor do Marco Civil da Internet conseguiu-se aprovar.
Por questões como as colocadas
acima, no momento eleitoral, pareceria óbvio que, também devido aos avanços da
democracia no país, caberia uma alternativa mais à esquerda no processo
eleitoral, uma alternativa que validasse e valorizasse as conquistas recentes e
aprofundasse as mudanças, avançasse em questões como a reforma política, a
democratização dos meios de comunicação e enfrentasse o capital financeiro com
medidas menos causticantes à economia brasileira como a política de juros como
único meio de combate à inflação, o superávit primário e o câmbio. Primeiro
porque tem sido cada vez mais clara a derrota do projeto neoliberal da década
de 90, cujos representantes partidários têm acumulado derrotas eleitorais
consecutivamente, mas que mantém como única e grande base de sustentação a
mídia conservadora; segundo porque as forças progressistas que deram
sustentação ao governo Lula e Dilma revelaram grandes quadros e gestões
exitosas em vários estados da federação, como é o caso de Eduardo Campos em
Pernambuco.
Terceira via?
O governo de Eduardo Campos em
Pernambuco, sem meias palavras, deu certo. Obviamente, há vários fatores para
chegar a essa conclusão, entre elas, a mais importante de todas: a decisão
política do Governo Federal em diminuir as desigualdades regionais, resultando
daí vários investimentos que abriram um novo ciclo na economia pernambucana,
que passou a contar com um parque industrial
- refinaria Abreu e Lima, fábrica da Fiat, Hemobrás, estaleiro Atlântico
Sul, polo gesseiro do Araripe, polo têxtil do Agreste etc.. É óbvio também que
todos esses investimentos só foram possíveis devido a uma grande afinidade
política entre Governo Federal e Estadual,
em que desenvolvimento e distribuição de renda e oportunidades foram palavras
de ordem.
Para além disso, o modelo de
gestão aplicado em Pernambuco ganhou ares de prioridade, com metas a serem
batidas, desoneração do estado com diminuição do serviço público, contratação
de OS’s, construção de hospitais e um forte investimento em segurança pública a
fim de diminuir os índices de assassinatos com o “Pacto pela Vida”.
Por essas e outras, a candidatura
de Eduardo Campos parecia justíssima: dentro do campo democrático, puxar o
Brasil mais à esquerda, essa seria a missão. Porém, vencer é o objetivo e para
isso por que não angariar apoio do setor financeiro? Por que não ganhar o apoio
da mídia? Por que não atacar o PT? Essas são as perguntas feitas por quem foi
pego pelo “canto da sereia” da mídia, da possibilidade de ganhar as eleições e
antagonizar com o projeto construído até então, mesmo que para isso precise
defender, por exemplo, “os fundamentos macroeconômicos”.
A verdade em ação
Essas eleições, portanto, não
mudam de ares, novamente teremos uma polarização, desta vez governo e
oposições, assim no plural mesmo, entre aqueles que querem aprofundar as
mudanças e aqueles que querem retomar o projeto entreguista e privatista dos
anos 90. Por isso, cabe a nós da esquerda aprofundar e qualificar o debate
eleitoral. O debate da economia, por exemplo, precisa ser colocado às claras:
quais são os problemas reais da economia brasileira? Para nós, é a grande
entrega de dinheiro à agiotagem internacional através do pagamento de juros da
dívida, para nós é essa moeda artificialmente sobrevalorizada, para nós é a
necessidade de se investir mais na indústria, para nós, é o tripé neoliberal
que ainda existe. E para eles, quais são os problemas? O bolsa-famíla? O pleno
emprego? O crédito para a classe trabalhadora? Quais os problemas?
Somos nós quem precisamos dizer, propor,
dar um sentido estratégico à construção da nossa nação, cuja estabilidade
inflacionária deixe de ser o nosso grande objetivo e desenvolvimento seja a
palavra de ordem. Debater como financiamos esse desenvolvimento, por exemplo, é
essencial. Garantir a justa parceria entre o público e o privado para dar vazão
a obras de infraestrutura que precisamos para i) garantir a qualidade de vida
nas cidades e ii) integrar um país continental, levando desenvolvimento para
todo o país. Para começar, comecemos dizendo a verdade. Vamos à luta!
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