Todas
as vezes que o debate sobre a Era Vargas vem à tona, eu me pergunto: quem matou
Getúlio Vargas? Sobre o seu suicídio, em carta ele abre dizendo “Mais uma vez as forças e os interesses
contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim.”,
demonstrando o ambiente político da época, passando por alguns setores durante
a ditadura militar (as principais figuras foram soldados de 30) até o discurso
no Senado antes de assumir a presidência, de modo similar ao que dirá FHC,
décadas mais tarde: “Resta, contudo, um pedaço do nosso passado
político que ainda atravanca o presente e retarda o avanço da sociedade.
Refiro-me ao legado da Era Vargas — ao seu modelo de desenvolvimento autárquico
e ao seu Estado intervencionista.”
Estas
forças representadas na fala de FHC, que, compromissadas com o interesse das
elites internacionais, é de fato quem matou o presidente Vargas e que
reiteradamente continuando a matar o seu legado, forças que, comprometidas com
o capital e suas operadoras em solo pátrio, buscam desequilibrar o interesse da
nação em detrimento das condições trabalhistas e de produção nacional para
beneficio de um “clube” que só espolia e destrói nossos desenvolvimento e força
produtiva nacional.
Ao
relembrar este ínterim do tempo, quero resgatar a luta trabalhista durante a
década de 30, e denunciar os assassinos do legado de Vargas, que, mesmo após
seu suicídio, tentam enterrar com ele o legado de conquistas trabalhistas,
composição da indústria nacional e o papel do estado brasileiro na vida de uma
nação pujante, economicamente forte.
As
contradições vindas da questão do trabalho no Brasil datam do fim da
escravidão, e a chegada dos imigrantes de outras nacionalidades, principalmente
os Italianos, marca a introdução do trabalho assalariado no país. As forças de
trabalho crescem e, com suas grandes promessas, trazem consigo o anarquismo e o
sindicalismo já presentes no continente europeu e que aqui vão se transformar
no anarcosindicalismo em lutas que marcaram o fim da República Velha e a nova
fase da República Nova, e que em 1930 ganham força com a criação do Ministério
do Trabalho, Indústria e Comércio – primeiro ato no processo da revolução de
1930. Com a introdução do processo da recente e precária industrialização do
Brasil, uma nova classe toma a cena nacional: são os Trabalhadores com suas
pautas e lutas por melhores condições de vida e de trabalho.
É
neste contexto que a histórica luta do trabalhismo e da classe trabalhadora vão
se forjar, formando diversos grupos e organizações que, durante toda a década
de 1930 e 1940, vão conquistar direitos para sua causa; a principal delas
acontece em primeiro de maio de 1943, com a promulgação da Consolidação das
Leis Trabalhistas – a famosa CLT.
Ao
tratarmos do tema anterior, é preciso relativizar alguns pontos; porém, é
inegável, para os avanços do país, os feitos trabalhistas implementados pela
revolução e por Getúlio Vargas, colocando as contradições de lado. É neste
período que as conquistas sociais para o conjunto da classe trabalhadora se
firmam até os dias atuais.
Como
podemos ver, a tentativas de ludibriar e enganar a classe trabalhadora no
Brasil não são novas e sempre contam com apoio de parte da burguesia nacional
ligada aos interesses do capital estrangeiro. O que chama atenção é a
resistência a estas tentativas: a união de setores progressistas, patrióticos e
nacionais junto aos trabalhadores é o que tem garantido essa manutenção dos
direitos trabalhistas, apesar das inúmeras tentativas de destruí-las.
Por
isso não deve nos espantar o projeto de lei 4330, que, na prática, tenta nos
últimos 10 anos destruir as relações de trabalho e produção do Brasil. Com o
avanço da crise econômica do capitalismo e decadência dos países capitalistas
centrais, os setores do empresariado buscam com esse projeto se antecipar aos
prejuízos e jogar para os trabalhadores o pagamento desses mesmos prejuízos que
podem ser adquiridos pela crise que chega ao Brasil.
A
terceirização das relações trabalhistas é uma velha medida que os governos
neoliberais tentaram colocar em prática na década de 1990, e que, sem sucesso
naquele momento, parte para nova tentativa, fruto da eleição do Congresso mais
conservador desde 1964. As velhas raposas capitalistas tentam mais uma vez
colocar na lona todo o legado das conquistas trabalhistas.
Mas
o que seria este processo de terceirização?
O
projeto tenta flexibilização de todas as profissões-fins, hoje só permitida
para prestação de serviços-meios, ou seja, com a aprovação da lei, professores,
enfermeiros, médicos, entre outras profissões, estariam em risco e autorizadas
a serem operadas por empresas com essa finalidade.
Para termos uma ideia destas
tentativas, nos anos de 1995
a 2002
a taxa de terceirização em SP saltou de 8,9% para 97,6%
no saldo líquido de empregados. Com a eleição de Lula em 2002, essa taxa
decresceu para 13,6% no mesmo Estado até 2010.
Demonstrando
a tentativa de precarização do trabalho, as medidas que visam terceirizar o
trabalho no Brasil têm ligação direta com a redução de custos para determinados
setores da produção nacional, livrando assim os grandes setores da produção
nacional de encargos e obrigações trabalhistas no atual modelo que temos regido
pela CLT.
A
4330 visa, na verdade, regular as relações dos lucros e prejuízos dos patrões,
e não a relação dos trabalhadores nesta modalidade de trabalho, pois pesquisas
apontam que rotatividade é de 3 anos a menos que nos empregos de outra
modalidade; a jornada de trabalho é 3 horas a mais, ganham 25% a menos, estão
mais vulneráveis a acidentes e 8 em cada 10 mortos estão nos terceirizados; o
mais grave é que 90% dos trabalhadores resgatados em condições análogas ao
trabalho escravo são terceirizados, segundo informações do DIEESE.
Essa
seria a verdadeira intenção da PL.4330: ao invés de ajudar, como diz os que
defendem o projeto, entre eles Paulinho da Força, sindical que está apoiando a
iniciativa dos patrões, na verdade regulamentaria condições precárias e
desequilibraria a produção nacional, criando empresas sem trabalhadores. Na
atual política tributária sobre pequenas e médias empresas, comprometeria a
arrecadação tributária no Brasil, já que estas empresas não se enquadram na
modalidade atual daquelas que contratam profissionais de modalidade-fim. Como
disse o presidente do TST, essa ação criaria grave problema fiscal levando a
prestação de serviços como saúde e educação a uma drástica diminuição de
verbas, assim precarizando ainda mais esses serviços que, na prática, atendem
aos trabalhadores em sua grande maioria.
Neste
sentido, a visão geral é que em grande parte a medida precariza os serviços, a
produção e coloca na rota de precarização a contratação destes novos postos
terceirizados de trabalho: o da juventude. Se quisermos ver como seria esta
prática, é só olharmos para os centros de callcenter que praticam hoje relações
que precarizam e exploram os trabalhadores, tendo os jovens como presas fáceis
dessas novas práticas (já que seriam a nova mão-de-obra recém saída das
universidades para contratação das profissões-fins) e que, sem perspectivas de
trabalho, seriam obrigados a abraçar empregos com valores baixos.
Por
fim, as tentativas destes setores têm com objetivo a precarização do trabalho e
a valorização do lucro. Frente ao acumulado da crise que agora chega ao Brasil
com força, esses elementos querem garantir que seus interesses estejam
resguardados por leis, e que no fim os trabalhadores paguem a conta. Portanto,
é preciso que nos mantenhamos mobilizados por todo o país contra a PL 4330,
construindo movimentos capazes de explicar e combater essa medida, denunciando
parlamentares que votaram a favor e fazer uma grande campanha, pois esta pauta
tem adesão em todas as camadas sociais e conta com amplo apoio daqueles que
desejam ver o Brasil forte e soberano. Lembremos que, onde a medida foi
aplicada, não sobraram direitos trabalhistas para contar a história, de modo
que agora está em nossas mãos a manutenção do legado de Vargas. A CLT é a
testemunha ocular da história, e, caso seja aprovada a PL 4330, saberemos quem
são os verdadeiros assassinos de Getúlio Vargas.
*Professor Carlos Eduardo Siqueira Pinheiro é
Diretor Nacional de Jovens Trabalhadores da UJS|Brasil, estudante de História e professor na rede
estadual de SP.
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