Se não houvesse as sirenes
para lembrar-me que o mundo é cão
para dizer-me ainda são
talvez só escutasse o silêncio
talvez só sentisse a solidão
ou o amargo gosto das flores em que pisei
Se não fosse o cinza dos céus
para fazer-me acreditar que a chuva irá cair
poderia deitar-me e esperar a reação
a bendita unção que os tolos dizem acreditar
se não fossem as orações ditas por minha mãe
confundiria-me com os cães
que ladram esperanças e maledicências
que trocam fúrias pelo papel
enganando a fome e bendizendo Deus
Se não fossem as dores que sinto
não mentiria como minto
pela ponta da caneta
anunciando como trombeta
que posso dizer adeus
acenando com os braços meus
àqueles que fingem saudade
lembrando o que a pouca idade
ainda não corroeu.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
É preciso ser do tamanho das nossas ideias!
Participar ativamente
da luta política em um país como o Brasil exige de nós, comunistas, a certeza
de que é preciso, mais do que ninguém, trabalhar. A luta revolucionária é um
trabalho de várias mãos e mentes, cujo avanço vai depender sobremaneira das condições
históricas, mas, sobretudo de uma justa postura tática e certeza da aplicação
dessa tática mediante os desafios vividos.
As condições históricas
para os brasileiros, certamente, não é das melhores. Afinal de contas, levando
em consideração que ainda vivemos numa defensiva estratégica histórica do
socialismo no mundo, e ainda, vivemos num país cujas ideias conservadoras dão o
tom da nossa superestrutura política e ideológica, hoje mais do que nunca,
precisamos fazer do trabalho revolucionário algo ainda mais ativo.
Esse trabalho, nas
condições em que vivemos, passa necessariamente por conquistarmos mais pessoas
para as nossas fileiras, incluindo os lutadores do povo das mais diferentes
matizes – jovens, mulheres, negros, lgbt’s, operários, camponeses, intelectuais,
cidadãos das pequenas, médias e grandes cidades – numa busca incessante pela
conquista da hegemonia, exercitada
cotidianamente no seio do povo.
No ambiente atual que o
Brasil vive, tem-se tornado cada vez mais consensual a ideia de que a crise
gera oportunidade para as forças de esquerda mais responsáveis; no entanto,
essa oportunidade não se dá de maneira mecanicista, automática; requer a dedicação
à causa revolucionária nas suas mais diversas formas de acumulação de forças,
mirando o crescimento partidário, numérica e qualitativamente. Soma-se ao
esforço, a certeza de que, com unidade de ação, as chances de crescermos são
motivadoras, visto que nossas ideias são as mais justas. Afinal de contas, não
fosse o tamanho das nossas ideias, as classes dominantes teriam nos esmagado há
muito tempo – como já tentaram diversas vezes em nossos 93 anos de história –
mas resistimos e influenciamos a luta política, mesmo não tendo a força que
precisamos ter, pois nossas ideias são grandes!
Dessa forma, na quadra
política atual, precisamos mais do que de ideias grandes, precisamos ser
grandes! Influenciar cada vez mais corações e mentes, enraizarmo-nos na vida do
povo, a ponto de fundirmo-nos a ele. Ser grande, no estágio da luta de classes
atual, não pode ser apenas uma vontade, mas uma necessidade; não só fazer parte
dos discursos, mas da ação cotidiana, mesmo que para isso sejam necessárias
flexões táticas, desconstrução de paradigmas e de dogmas que só privilegiam o
estático.
Ser grande, nas
condições de hoje, é saber dialogar com as mais diversas formas de se fazer
luta política, ser grande é influenciar as ideias que circulam nos meios
acadêmicos, midiáticos, sociais; ser grande é movimentar o povo para avançar em
suas conquistas nas ruas; ser grande é ter força eleitoral e disputar os rumos
de nosso país nos parlamentos e nos governos. Ser grande é manter a amplitude
tática, a unidade partidária, em prol do sistema de justiça e abundância.
Por isso, fazer das
nossas “pedras, noites e poemas” armas para enfrentar a real necessidade de
crescer, combatendo os esquematismos e estreitezas que, porventura, nos cercam,
é tarefa coletiva, urgente. Pois, para garantirmos a democracia, a diminuição
das desigualdades, o desenvolvimento, a justiça e o bem comum da humanidade,
precisamos ser grandes, precisamos ser do tamanho das nossas ideias!
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Marx e Nabuco: exemplos que o século XIX nos deu
"O grande século XIX", como afirmara Eric J. Hobsbawm, de fato, significa uma mudança extraordinária nos rumos da humanidade. Nesse período histórico, várias foram as "invenções" - técnicas, tecnológicas, humanas e científicas - que influenciam a forma como nos relacionamos até os dias de hoje. As concepções filosóficas do período, as revoluções que alijaram determinadas classes do poder e elevaram outras; o nacionalismo, o liberalismo e abundância pós industrialização, para além de elevar a "qualidade de vida" da humanidade, gerou contradições e as tentativas de resoluções pela nascente classe proletária, dentre elas, a mais importante, e que mobiliza homens e mulheres até hoje: o socialismo.
Nas palavras de Hobsbawm, "'a própria novidade e a rapidez da mudança social que os envolvia, encorajava os trabalhadores a pensar em termos de uma sociedade totalmente diversa, baseada na sua experiência e em suas ideias em oposição às de seus opressores. Seria 'socialista', e representaria não o eterno sonho da sociedade livre, que os pobres sempre levam no recôndito de suas mentes (...)". Nesse sentido, emerge, de maneira protagonista, a figura de Marx, como grande homem do período e da humanidade até os dias atuais. Ainda segundo Hobsbawm, "para Marx a sociedade humana havia inevitavelmente dividido o comunismo primitivo em classes, inevitavelmente se desenvolvia através de uma série de sociedades classistas, cada uma delas contendo as 'contradições internas' que, a certa altura, se constituem em obstáculo para o progresso futuro e geram as forças para sua superação. O capitalismo era a última delas (...)". Ainda nesse sentido, cumpre papel preponderante o desenvolvimento das ciências sociais, que, segundo Hobsbawm, "fertilizou as ciências biológicas e até mesmo as físicas".
Todos esses avanços - práticos e de concepções - são identificados a partir de uma determinada sociedade - a europeia - cujo desenvolvimento das forças produtivas puderam levar a essa sequência de fatos, inclusive à superexploração dos povos mais pobres. Nesse sentido, vale lembrar a quantas andava o Brasil nesse período, e quais eram os desafios a serem enfrentados.
Para se ter ideia, enquanto a classe trabalhadora reivindicava melhores condições de trabalho na Europa, no Brasil, ainda conquistávamos a independência do país (1822); proibíamos o tráfico negreiro (1850); abolíamos a escravidão (1888); proclamávamos a República (1889) e, até 1930, ainda éramos, quase absolutamente, dominados pelas oligarquias latifundiárias e do capital mercantil, ocupando, nas palavras de Augusto Buonicore, "um lugar bem determinado na divisão internacional do trabalho imposta pelo colonialismo e depois pelo imperialismo: como produtor de matérias-primas e alimentos (açúcar, café, algodão, cacau, borracha etc.)".
Para se ter ideia, enquanto a classe trabalhadora reivindicava melhores condições de trabalho na Europa, no Brasil, ainda conquistávamos a independência do país (1822); proibíamos o tráfico negreiro (1850); abolíamos a escravidão (1888); proclamávamos a República (1889) e, até 1930, ainda éramos, quase absolutamente, dominados pelas oligarquias latifundiárias e do capital mercantil, ocupando, nas palavras de Augusto Buonicore, "um lugar bem determinado na divisão internacional do trabalho imposta pelo colonialismo e depois pelo imperialismo: como produtor de matérias-primas e alimentos (açúcar, café, algodão, cacau, borracha etc.)".
Obviamente, num contexto como esse, urgia como grande desafio a tarefa concluída apenas em 1888, que foi a abolição da escravidão. Para se ter ideia, segundo Augusto Buonicore, "em 1822, quando da Independência, o Brasil tinha aproximadamente 4 milhões de habitantes, e um milhão e duzentos mil eram escravos. Em 1850, ano do fim do tráfico, já havia cerca de 8 milhões de habitantes e dois milhões e meio de escravos. Isto representava um pouco mais de 1/4 da população brasileira." Portanto, aqui, também emergiram figuras de porte para emancipação humana e nacional, como é o caso de Joaquim Nabuco.
O recifense Joaquim Nabuco, além de político, diplomata, jornalista, historiador e jurista, foi um grande defensor da liberdade, um homem que fez da política um instrumento para romper com o estado de coisas que encontrava, nesse período, tendo a escravidão como grande obstáculo ao avanço da sociedade, liderando deputados em torno da bandeira do abolicionismo. Além disso, se colocava na dianteira dos defensores do pan-americanismo de San Martín e Simon Bolívar e da liberdade religiosa.
O que mais chama atenção é que, embora monarquista, Joaquim Nabuco, assim como Marx, era um homem a frente de seu tempo. Considerava a escravidão como algo muito mais significativo, pois significava a soma do poderio, influência, capital; "o feudalismo estabelecido no interior". Denunciava como a escravidão impedia o desenvolvimento da indústria brasileira; algo que crescia na Europa no período. Além de criticar a anuência que a Igreja Católica dava à escravidão.
Em discurso em São José, defendia a reforma agrária: "O período atual, porém, não é de conservação, é de reforma, tão extensa, tão larga e tão profunda que se possa chamar revolução; de uma reforma que tire esse povo do subterrâneo escuro da escravidão onde ele viveu sempre, e lhe faça ver a luz do século XIX. Sabeis que reforma é essa? É preciso dizê-lo com a maior franqueza: é uma lei de abolição que seja também uma lei agrária."
Mesmo liberal, já denunciava as principais contradições do capitalismo: "eles representam a riqueza acumulada, vós representais o trabalho, e as sociedades não vivem pela riqueza acumulada, vivem pelo trabalho". Convocava o embrionário operariado nacional a combater os conservadores: "quem tem à vista desse quadro mais interesse em que a marcha da sociedade seja tão regular e contínua como a de um relógio ou das estações - o capitalista ou o operário?"
Além de fazer a crítica ao período monopolista do capitalismo: "não tenho receio de destruir a propriedade privada fazendo que ela não seja um monopólio e generalizando-a, porque onde há grande número de pequenos proprietários a propriedade está muito mais firme e solidamente fundada do que onde por leis injustas ela é o privilégio de muito poucos."
Nesse sentido, levando em consideração a sociedade em que vivia, é preciso reconhecer Joaquim Nabuco como um dos verdadeiros protagonistas dos saltos civilizacionais por que a sociedade brasileira já passou, colocando-o, assim como Marx, no "hall" de homens e mulheres que o século XIX produziu para que atingíssemos um grau mais elevado de humanidade.
Num mundo cujas guerras, fome, terrorismo(s), intolerâncias e tentativas anti-democráticas perduram, as obras a que essas duas figuras combateram permanecem matando e subjugando a humanidade a interesses escusos de uma minoria dominante. É preciso acabar com a obra do capitalismo, é preciso acabar com a obra da escravidão!
Para isso, é preciso mirar-se no exemplo daqueles que fizeram da política o instrumento fundamental de mudança da sociedade. Desses dois homens, que, imbuídos de esperança na humanidade - o verdadeiro humanismo - valeram-se de amplitude tática para perseverar em seus objetivos, cujas conquistas - parciais ou não - iluminam a trajetória de homens e mulheres que lutam pela emancipação humana até os dias atuais.
Caso não existissem homens como esses, o mundo seria muito mais facilmente dirigido por aqueles que querem que "a marcha da sociedade seja tão regular e contínua como a de um relógio". Não fosse a luta dos socialistas na Europa, não teríamos jornadas de trabalho mais dignas, direitos trabalhistas, ou o estado de bem estar social. É como consequência da luta dos que combateram a escravidão, que os programas sociais brasileiros existem hoje, que trabalhadores domésticos têm seus direitos.tão duramente conquistados. E é por ver que exemplos como esses atravessam a história que fazemos a luta valer a pena, continuar no caminho de mudanças que os verdadeiros revolucionários preferiram percorrer. Há muito mais de 100 anos, alguns ousaram fazer, e por essa obra vale a pena lutar.
O que mais chama atenção é que, embora monarquista, Joaquim Nabuco, assim como Marx, era um homem a frente de seu tempo. Considerava a escravidão como algo muito mais significativo, pois significava a soma do poderio, influência, capital; "o feudalismo estabelecido no interior". Denunciava como a escravidão impedia o desenvolvimento da indústria brasileira; algo que crescia na Europa no período. Além de criticar a anuência que a Igreja Católica dava à escravidão.
Em discurso em São José, defendia a reforma agrária: "O período atual, porém, não é de conservação, é de reforma, tão extensa, tão larga e tão profunda que se possa chamar revolução; de uma reforma que tire esse povo do subterrâneo escuro da escravidão onde ele viveu sempre, e lhe faça ver a luz do século XIX. Sabeis que reforma é essa? É preciso dizê-lo com a maior franqueza: é uma lei de abolição que seja também uma lei agrária."
Mesmo liberal, já denunciava as principais contradições do capitalismo: "eles representam a riqueza acumulada, vós representais o trabalho, e as sociedades não vivem pela riqueza acumulada, vivem pelo trabalho". Convocava o embrionário operariado nacional a combater os conservadores: "quem tem à vista desse quadro mais interesse em que a marcha da sociedade seja tão regular e contínua como a de um relógio ou das estações - o capitalista ou o operário?"
Além de fazer a crítica ao período monopolista do capitalismo: "não tenho receio de destruir a propriedade privada fazendo que ela não seja um monopólio e generalizando-a, porque onde há grande número de pequenos proprietários a propriedade está muito mais firme e solidamente fundada do que onde por leis injustas ela é o privilégio de muito poucos."
Nesse sentido, levando em consideração a sociedade em que vivia, é preciso reconhecer Joaquim Nabuco como um dos verdadeiros protagonistas dos saltos civilizacionais por que a sociedade brasileira já passou, colocando-o, assim como Marx, no "hall" de homens e mulheres que o século XIX produziu para que atingíssemos um grau mais elevado de humanidade.
Num mundo cujas guerras, fome, terrorismo(s), intolerâncias e tentativas anti-democráticas perduram, as obras a que essas duas figuras combateram permanecem matando e subjugando a humanidade a interesses escusos de uma minoria dominante. É preciso acabar com a obra do capitalismo, é preciso acabar com a obra da escravidão!
Para isso, é preciso mirar-se no exemplo daqueles que fizeram da política o instrumento fundamental de mudança da sociedade. Desses dois homens, que, imbuídos de esperança na humanidade - o verdadeiro humanismo - valeram-se de amplitude tática para perseverar em seus objetivos, cujas conquistas - parciais ou não - iluminam a trajetória de homens e mulheres que lutam pela emancipação humana até os dias atuais.
Caso não existissem homens como esses, o mundo seria muito mais facilmente dirigido por aqueles que querem que "a marcha da sociedade seja tão regular e contínua como a de um relógio". Não fosse a luta dos socialistas na Europa, não teríamos jornadas de trabalho mais dignas, direitos trabalhistas, ou o estado de bem estar social. É como consequência da luta dos que combateram a escravidão, que os programas sociais brasileiros existem hoje, que trabalhadores domésticos têm seus direitos.tão duramente conquistados. E é por ver que exemplos como esses atravessam a história que fazemos a luta valer a pena, continuar no caminho de mudanças que os verdadeiros revolucionários preferiram percorrer. Há muito mais de 100 anos, alguns ousaram fazer, e por essa obra vale a pena lutar.
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