"O grande século XIX", como afirmara Eric J. Hobsbawm, de fato, significa uma mudança extraordinária nos rumos da humanidade. Nesse período histórico, várias foram as "invenções" - técnicas, tecnológicas, humanas e científicas - que influenciam a forma como nos relacionamos até os dias de hoje. As concepções filosóficas do período, as revoluções que alijaram determinadas classes do poder e elevaram outras; o nacionalismo, o liberalismo e abundância pós industrialização, para além de elevar a "qualidade de vida" da humanidade, gerou contradições e as tentativas de resoluções pela nascente classe proletária, dentre elas, a mais importante, e que mobiliza homens e mulheres até hoje: o socialismo.
Nas palavras de Hobsbawm, "'a própria novidade e a rapidez da mudança social que os envolvia, encorajava os trabalhadores a pensar em termos de uma sociedade totalmente diversa, baseada na sua experiência e em suas ideias em oposição às de seus opressores. Seria 'socialista', e representaria não o eterno sonho da sociedade livre, que os pobres sempre levam no recôndito de suas mentes (...)". Nesse sentido, emerge, de maneira protagonista, a figura de Marx, como grande homem do período e da humanidade até os dias atuais. Ainda segundo Hobsbawm, "para Marx a sociedade humana havia inevitavelmente dividido o comunismo primitivo em classes, inevitavelmente se desenvolvia através de uma série de sociedades classistas, cada uma delas contendo as 'contradições internas' que, a certa altura, se constituem em obstáculo para o progresso futuro e geram as forças para sua superação. O capitalismo era a última delas (...)". Ainda nesse sentido, cumpre papel preponderante o desenvolvimento das ciências sociais, que, segundo Hobsbawm, "fertilizou as ciências biológicas e até mesmo as físicas".
Todos esses avanços - práticos e de concepções - são identificados a partir de uma determinada sociedade - a europeia - cujo desenvolvimento das forças produtivas puderam levar a essa sequência de fatos, inclusive à superexploração dos povos mais pobres. Nesse sentido, vale lembrar a quantas andava o Brasil nesse período, e quais eram os desafios a serem enfrentados.
Para se ter ideia, enquanto a classe trabalhadora reivindicava melhores condições de trabalho na Europa, no Brasil, ainda conquistávamos a independência do país (1822); proibíamos o tráfico negreiro (1850); abolíamos a escravidão (1888); proclamávamos a República (1889) e, até 1930, ainda éramos, quase absolutamente, dominados pelas oligarquias latifundiárias e do capital mercantil, ocupando, nas palavras de Augusto Buonicore, "um lugar bem determinado na divisão internacional do trabalho imposta pelo colonialismo e depois pelo imperialismo: como produtor de matérias-primas e alimentos (açúcar, café, algodão, cacau, borracha etc.)".
Para se ter ideia, enquanto a classe trabalhadora reivindicava melhores condições de trabalho na Europa, no Brasil, ainda conquistávamos a independência do país (1822); proibíamos o tráfico negreiro (1850); abolíamos a escravidão (1888); proclamávamos a República (1889) e, até 1930, ainda éramos, quase absolutamente, dominados pelas oligarquias latifundiárias e do capital mercantil, ocupando, nas palavras de Augusto Buonicore, "um lugar bem determinado na divisão internacional do trabalho imposta pelo colonialismo e depois pelo imperialismo: como produtor de matérias-primas e alimentos (açúcar, café, algodão, cacau, borracha etc.)".
Obviamente, num contexto como esse, urgia como grande desafio a tarefa concluída apenas em 1888, que foi a abolição da escravidão. Para se ter ideia, segundo Augusto Buonicore, "em 1822, quando da Independência, o Brasil tinha aproximadamente 4 milhões de habitantes, e um milhão e duzentos mil eram escravos. Em 1850, ano do fim do tráfico, já havia cerca de 8 milhões de habitantes e dois milhões e meio de escravos. Isto representava um pouco mais de 1/4 da população brasileira." Portanto, aqui, também emergiram figuras de porte para emancipação humana e nacional, como é o caso de Joaquim Nabuco.
O recifense Joaquim Nabuco, além de político, diplomata, jornalista, historiador e jurista, foi um grande defensor da liberdade, um homem que fez da política um instrumento para romper com o estado de coisas que encontrava, nesse período, tendo a escravidão como grande obstáculo ao avanço da sociedade, liderando deputados em torno da bandeira do abolicionismo. Além disso, se colocava na dianteira dos defensores do pan-americanismo de San Martín e Simon Bolívar e da liberdade religiosa.
O que mais chama atenção é que, embora monarquista, Joaquim Nabuco, assim como Marx, era um homem a frente de seu tempo. Considerava a escravidão como algo muito mais significativo, pois significava a soma do poderio, influência, capital; "o feudalismo estabelecido no interior". Denunciava como a escravidão impedia o desenvolvimento da indústria brasileira; algo que crescia na Europa no período. Além de criticar a anuência que a Igreja Católica dava à escravidão.
Em discurso em São José, defendia a reforma agrária: "O período atual, porém, não é de conservação, é de reforma, tão extensa, tão larga e tão profunda que se possa chamar revolução; de uma reforma que tire esse povo do subterrâneo escuro da escravidão onde ele viveu sempre, e lhe faça ver a luz do século XIX. Sabeis que reforma é essa? É preciso dizê-lo com a maior franqueza: é uma lei de abolição que seja também uma lei agrária."
Mesmo liberal, já denunciava as principais contradições do capitalismo: "eles representam a riqueza acumulada, vós representais o trabalho, e as sociedades não vivem pela riqueza acumulada, vivem pelo trabalho". Convocava o embrionário operariado nacional a combater os conservadores: "quem tem à vista desse quadro mais interesse em que a marcha da sociedade seja tão regular e contínua como a de um relógio ou das estações - o capitalista ou o operário?"
Além de fazer a crítica ao período monopolista do capitalismo: "não tenho receio de destruir a propriedade privada fazendo que ela não seja um monopólio e generalizando-a, porque onde há grande número de pequenos proprietários a propriedade está muito mais firme e solidamente fundada do que onde por leis injustas ela é o privilégio de muito poucos."
Nesse sentido, levando em consideração a sociedade em que vivia, é preciso reconhecer Joaquim Nabuco como um dos verdadeiros protagonistas dos saltos civilizacionais por que a sociedade brasileira já passou, colocando-o, assim como Marx, no "hall" de homens e mulheres que o século XIX produziu para que atingíssemos um grau mais elevado de humanidade.
Num mundo cujas guerras, fome, terrorismo(s), intolerâncias e tentativas anti-democráticas perduram, as obras a que essas duas figuras combateram permanecem matando e subjugando a humanidade a interesses escusos de uma minoria dominante. É preciso acabar com a obra do capitalismo, é preciso acabar com a obra da escravidão!
Para isso, é preciso mirar-se no exemplo daqueles que fizeram da política o instrumento fundamental de mudança da sociedade. Desses dois homens, que, imbuídos de esperança na humanidade - o verdadeiro humanismo - valeram-se de amplitude tática para perseverar em seus objetivos, cujas conquistas - parciais ou não - iluminam a trajetória de homens e mulheres que lutam pela emancipação humana até os dias atuais.
Caso não existissem homens como esses, o mundo seria muito mais facilmente dirigido por aqueles que querem que "a marcha da sociedade seja tão regular e contínua como a de um relógio". Não fosse a luta dos socialistas na Europa, não teríamos jornadas de trabalho mais dignas, direitos trabalhistas, ou o estado de bem estar social. É como consequência da luta dos que combateram a escravidão, que os programas sociais brasileiros existem hoje, que trabalhadores domésticos têm seus direitos.tão duramente conquistados. E é por ver que exemplos como esses atravessam a história que fazemos a luta valer a pena, continuar no caminho de mudanças que os verdadeiros revolucionários preferiram percorrer. Há muito mais de 100 anos, alguns ousaram fazer, e por essa obra vale a pena lutar.
O que mais chama atenção é que, embora monarquista, Joaquim Nabuco, assim como Marx, era um homem a frente de seu tempo. Considerava a escravidão como algo muito mais significativo, pois significava a soma do poderio, influência, capital; "o feudalismo estabelecido no interior". Denunciava como a escravidão impedia o desenvolvimento da indústria brasileira; algo que crescia na Europa no período. Além de criticar a anuência que a Igreja Católica dava à escravidão.
Em discurso em São José, defendia a reforma agrária: "O período atual, porém, não é de conservação, é de reforma, tão extensa, tão larga e tão profunda que se possa chamar revolução; de uma reforma que tire esse povo do subterrâneo escuro da escravidão onde ele viveu sempre, e lhe faça ver a luz do século XIX. Sabeis que reforma é essa? É preciso dizê-lo com a maior franqueza: é uma lei de abolição que seja também uma lei agrária."
Mesmo liberal, já denunciava as principais contradições do capitalismo: "eles representam a riqueza acumulada, vós representais o trabalho, e as sociedades não vivem pela riqueza acumulada, vivem pelo trabalho". Convocava o embrionário operariado nacional a combater os conservadores: "quem tem à vista desse quadro mais interesse em que a marcha da sociedade seja tão regular e contínua como a de um relógio ou das estações - o capitalista ou o operário?"
Além de fazer a crítica ao período monopolista do capitalismo: "não tenho receio de destruir a propriedade privada fazendo que ela não seja um monopólio e generalizando-a, porque onde há grande número de pequenos proprietários a propriedade está muito mais firme e solidamente fundada do que onde por leis injustas ela é o privilégio de muito poucos."
Nesse sentido, levando em consideração a sociedade em que vivia, é preciso reconhecer Joaquim Nabuco como um dos verdadeiros protagonistas dos saltos civilizacionais por que a sociedade brasileira já passou, colocando-o, assim como Marx, no "hall" de homens e mulheres que o século XIX produziu para que atingíssemos um grau mais elevado de humanidade.
Num mundo cujas guerras, fome, terrorismo(s), intolerâncias e tentativas anti-democráticas perduram, as obras a que essas duas figuras combateram permanecem matando e subjugando a humanidade a interesses escusos de uma minoria dominante. É preciso acabar com a obra do capitalismo, é preciso acabar com a obra da escravidão!
Para isso, é preciso mirar-se no exemplo daqueles que fizeram da política o instrumento fundamental de mudança da sociedade. Desses dois homens, que, imbuídos de esperança na humanidade - o verdadeiro humanismo - valeram-se de amplitude tática para perseverar em seus objetivos, cujas conquistas - parciais ou não - iluminam a trajetória de homens e mulheres que lutam pela emancipação humana até os dias atuais.
Caso não existissem homens como esses, o mundo seria muito mais facilmente dirigido por aqueles que querem que "a marcha da sociedade seja tão regular e contínua como a de um relógio". Não fosse a luta dos socialistas na Europa, não teríamos jornadas de trabalho mais dignas, direitos trabalhistas, ou o estado de bem estar social. É como consequência da luta dos que combateram a escravidão, que os programas sociais brasileiros existem hoje, que trabalhadores domésticos têm seus direitos.tão duramente conquistados. E é por ver que exemplos como esses atravessam a história que fazemos a luta valer a pena, continuar no caminho de mudanças que os verdadeiros revolucionários preferiram percorrer. Há muito mais de 100 anos, alguns ousaram fazer, e por essa obra vale a pena lutar.
Um comentário:
Parabéns camarada.muito bom, excelente..os lutadores por um mundo melhor justo socialista ...é o contra ponto das aberrações do capitalismo...valeu Nilson!
Postar um comentário