sábado, 9 de abril de 2016

Sobre a paternidade

Quando Cecília nasceu, desaguou sobre mim toda uma série de emoções sobre as quais nem consigo falar com propriedade, nem nunca havia me deparado antes.

Desde o instante em que descobri que iria ser pai, a vontade/necessidade de sabê-la saudável, pronta, física e mentalmente para encarar o mundo era minha primeira preocupação. Essa preocupação se manifestou no dia em que ela veio ao mundo e não saí do seu lado, observando todos os seus detalhes: dedos, mãos, pernas, olhos e cabeça, já encontrando - mesmo sem querer - o que meu havia nela, como o formato da sua boca e o tamanho de seus dedos.

Daquele momento em diante, soube que minha vida mudaria para sempre. Mudaria nas limitações que o cuidado com um bebê requer da gente, mudaria naquilo a que se destinaria minhas parcas economias, mas mudaria, sobretudo, as minhas concepções sobre a vida.

Já disse em textos anteriores o quanto, embora não tenha tido o tempo suficiente para demonstrar, passei a entender melhor minha mãe e todas as suas preocupações que, no ímpeto de minha juventude, chamava de neuroses, de exageros.

Passei a ver que, mesmo com minha experiência negativa com a figura de pai, a boa paternidade existe, e de um jeito tão sutil que só o nascimento de Cecília me fez perceber, como o jeito carinhoso que machões, como homens de pouca instrução e baixo poder aquisitivo agasalham suas crias em seus braços, como se ali pudesse protegê-los para o resto da vida.

Eu, na minha experiência debutante, tento carregar Cecília no colo com a mesma sensação: a de que, em meus braços, poderei protegê-la pro resto da vida. Protegê-la das doenças, da violência, da falta de amor. Protegê-la do jeito que a sociedade nos faz educar os nossos filhos, fazendo-os pessoas individualistas, consumistas, preconceituosas e machistas.

Nessa jornada, tento, protegê-la de mim mesmo, para que não carregue os preconceitos que eu carrego,o machismo que tenho e que me esforço para combater, para que possa seguir apenas os poucos, mas valorosos bons exemplos que posso dar.

Hoje, só ao vê-la adormecer em meus braços, carrego-me de orgulho e satisfação, mas sobretudo um certo receio de fazê-la sentir o mesmo por mim quando adulta. Fazer de mim um homem melhor é condição sine qua non para deixar bons frutos no mundo que, tenho esperança, minha filha saberá semear - e colher.



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