quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O problema não é nas pernas


Futebol, para o povo brasileiro, passa muito longe de ser uma brincadeira, é das coisas mais sérias que podemos levar. Não existe exagero algum quando afirmamos que muitos trabalhadores sacrificam suas vidas pessoais para acompanhar seu time do coração ou a seleção canarinha de futebol, objeto de orgulho para o povo brasileiro, esporte que, pouco a pouco, no decorrer do século XX foi capaz de fazer diminuir o complexo de vira-latas que abatia nossa população.

Nos gramados brasileiros, desvirginados por um inglês, Charles Müller, vivemos episódios dos mais felizes de nossa história. Mais felizes ainda os que vimos pelas recém-chegadas televisões em 58, 62 e 70 nas copas da Suécia, Chile e México. Vimos um herói negro, símbolo do nosso povo chegar ao patamar que nenhum outro negro havia chegado na nossa história, posto o racismo existente em nosso país. Vimos grandes times regionais como o Botafogo e Santos das décadas de 60 e 70, Flamengo de 80, além do movimento cívico-esportivo-popular que foi a Democracia Corintiana em plena Ditadura Militar.

Dessa forma, as expectativas criadas pelo povo brasileiro para com a seleção de seu país, sempre são as melhores possíveis, mesmo que os resultados mais recentes digam o contrário. Como já afirmado neste blog, nenhum outro país pode reunir em sua seleção olímpica talentos como os que reunimos na nossa. Mas então por que o "fracasso"?

Não pude acompanhar os dois primeiros jogos da seleção masculina de futebol nas Olimpíadas, mas pude acompanhar a repercussão, e as entrevistas. Sim, as entrevistas de nossos "ídolos" são sofríveis, cheias de chavões e de pouquíssima, para não dizer nenhuma, consciência autocrítica. "A bola não quis entrar" e "jogamos muito bem, mas eles vieram fechadinhos" são os maiores exemplos de uma geração à qual não falta talento, mas sobra desconhecimento do que significa a seleção para os 200 milhões de técnicos existentes em nosso país.

Esse vazio em suas declarações reflete o vazio em que são formados. Não por culpa dos jovens recrutados cada vez mais cedo, são doutrinados a buscar um estilo europeu, colonizado, cujo principal objetivo não é representar seu país, mas fazer parte do mainstream mundial da bola. Europa e seus grandes clubes tem, cada vez mais, se tornado o objetivo principal.

Em tempos como os de agora, em que a democracia brasileira é assaltada, é lamentável não ver, no mundo do futebol, algo que mobiliza milhões e milhões de pessoas semanalmente, não vermos nenhum posicionamento sobre as questões nacionais, como se o futebol, aquilo a que tantos se dedicam, passasse à margem de tudo que está acontecendo no país. Ah, que saudade do que não vi na democracia corintiana.

É assim, com as chuteiras lustradas e a cabeça na Europa, que nossos jogadores aceitam jogar às 22h, mais de 70 jogos por temporada, a mando de gangs como a CBF e a Rede Globo de televisão. Por isso, reafirmo, o problema do futebol brasileiro não está nas pernas dos jogadores, mas na cabeça dos que mandam no futebol e na ideologia colonizada a que todos os maiores talentos do mundo estão submetidos. Parece exagero, mas não é.

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