quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O Brasil não é ficção


Quando o golpe começou a se consolidar, ainda em 2016, ouvi e li muita gente dizer que os protagonistas da hecatombe brasileira eram idênticos às personagens da série da Netflix, House of Cards.

Passando a assistir à série, de fato, com o perdão da arte, passamos a identificar vária semelhanças entre Frank Underwood e os personagens tupiniquins, como o Michel Temer e o Eduardo Cunha.

A série, que, segundo críticos, exagera no foco que dá ao personagem principal, como se ele fosse responsável por conduzir toda a história, expõe as entranhas do sistema político estadunidense, mas podia muito bem ser o nosso - com mortes, conspirações e falta de escrúpulos.

O que talvez os criadores da série não imaginassem é que, no mundo real, algo fosse se tornar tão surreal como a trajetória brasileira dos últimos dias.

Nesse sentido, a morte em mais um acidente aéreo do Ministro do STF, Teori Zavascki, joga água no moinho das teorias das conspirações e nas mais diversas e absurdas especulações. Mas será que são tao absurdas assim?

De fato, exageros existem nas interpretações sobre determinados episódios; as redes sociais, a partir de hoje, têm sido invadidas com as mais variadas teses sobre o ocorrido, mas de uma não há como fugir ou, ao menos considerá-la: Teori era um obstáculo para setores da política brasileira.

Longe de mim querer alimentar especulações desse tipo, mas o que é essencial, para os que especulam e para os que criticam os que especulam, é que o país tem perdido sua credibilidade dia a dia, e que, para grande parte do povo brasileiro, não é impossível se imaginar que queimas de arquivos, assassinatos desse tipo sejam realizáveis, afinal de contas, para um país que tem em sua história uma das mais sangrentas ditaduras do século XX; para um país que depôs uma presidenta honesta como Dilma Rousseff - com direito a gravações vazadas para o Jornal Nacional, com espionagem norte-americana nas empresas brasileiras, com gente indo às ruas defender a volta da ditadura e com casos e mais casos de jovens mulheres, pretos e homossexuais sendo assassinados por conta de suas convicções ideológicas, políticas ou de orientação sexual - nada que aconteça mais é tão "teoria da conspiração" assim.

O fato é que os golpistas, os mesmos que diziam que tinham que "estancar a sangria", os mesmos que afirmavam que Teori era um cara difícil de convencer - aliados ao império - jogaram o país numa crise cujo fundo do poço ainda não se enxerga. Desde que o playboy Aécio Neves resolveu não aceitar os resultado das urnas, nosso país se afunda numa eterna falta de confiança - do povo para com a classe política, do povo para com as instituições, das instituições entre si e da classe política entre si -. Somos um país sem diálogo.

Por isso, quando leio a guerra travada nas redes sociais sobre a verdadeira causa do acidente, em que de um lado estão os teóricos da conspiração e do outros as pessoas "sérias", que não acreditam nessas "besteiras", não me motivo a entrar em tal disputa de narrativas, haja vista que não tem nada que não possa acontecer, num país cujo maior contrato - que é o do povo com seus representantes - foi quebrado. A história do nosso país contada nos últimos dois anos é triste. Por isso, em momentos como esses, é tão triste contar histórias, ainda mais as reais.

2 comentários:

Diego alves disse...

Um playboy Aecio neves, neves kkkk tira braba boy

Matheus Lins disse...

Excelente texto, Nilson.