Os tempos são mesmo difíceis. Não há como negar. Para os brasileiros, os efeitos de uma grave crise do sistema capitalista no mundo tem gerado uma sequência de fatos que desanimam e provocam grande confusão no seio da classe trabalhadora. No mundo, os efeitos políticos e sociais de uma das mais graves crises do capitalismo são os mais devastadores possíveis: o retorno - ou reaparecimento - das ideias fascistas, do nacionalismo de direita, da xenofobia, das guerras e de uma crise humanitária sem precedentes.
Essa crise, que mais do que afetar os bolsos, empregos e condições objetivas da classe trabalhadora, atinge em cheio o horizonte de perspectivas a que grande parte da população almeja. Nesse sentido, as soluções vislumbradas pela população aproxima-se de tudo aquilo que agirá contra ela própria. Provoca fenômenos como o Brexit, a eleição de Donald Trump nos EUA e, aqui no Brasil, uma ascensão das ideias fascistas - tendo como representantes figuras caricaturais como Bolsonaro.
Esse quadro de coisas, obviamente, contribuiu sobremaneira para que o impeachment da Presidenta Dilma pudesse ser consolidado. Mais do que isso, esse quadro de coisas continua contribuindo para que direitos sejam, diariamente retirados. Direitos que pareciam consolidados, como a CLT, são atacados sem nenhum pudor pelos golpistas, aliados - diga-se, capachos - dos Estados Unidos da América.
Nesse contexto, existe uma população imensa que depositou, durante 13 anos da história de nosso país, expectativas de que o Brasil pudesse ter-se consolidado no cenário geopolítico internacional, de que as desigualdades do Brasil pudessem ser combatidas por mais tempo, ou que o Brasil pudesse trilhar um caminho de mais desenvolvimento, justiça e soberania. Mas também existem trabalhadores que viram suas vidas em dificuldade e que, bombardeados cotidianamente pela grande imprensa de que o PT e seus governantes eram todos corruptos, bandidos e que a esquerda como um todo precisa ser banida do Brasil. O ódio alimentado pela imprensa e o consórcio oposicionista brasileiro tem criado uma geração preparada para odiar e para defender qualquer coisa que pareça oposta a ideias de justiça e igualdade.
De um outro lado, intelectuais e parte da esquerda ainda anda perdida diante dos mais recentes acontecimentos. Para se ter ideia, dias antes do golpe ser consolidado, ainda existia setores da "esquerda" que proclamavam o fim do ajuste fiscal como grande bandeira política da época.
Derrotados, setores da esquerda e da intelectualidade insistem em proclamar a necessidade de a esquerda afirmar-se "ainda mais de esquerda" no período atual. Vários são os que ainda se agarram nas lutas multiculturalistas, muitos ainda se apegam na defesa de coisas de ordem menor - bem menor - na luta política. Por isso, parte desse público elege heróis de compromisso nulo com a luta real, "anti-Bolsonaros" da política, cujos discursos e ações giram em torno do comportamento, da ética e da negação da política - tal qual os representantes da direita como Dória - como maneira de satisfazer suas próprias "consciências".
Diante desse quadro, o que não pode ser abandonado é a ideia de que é pela política - realizada com amplitude - que pode-se reverter o atual quadro de coisas. No entanto, a atividade política precisa ser alimentada das ideias. Das mais justas ideias. Daquelas que proclamam um futuro grandioso para a humanidade: das ideias socialistas.
Para grande parte dos atores sociais citados acima - os de direita e os de esquerda - o Socialismo é uma ideia ultrapassada. Dessa aforma, aproveitando-se de uma ideia de que nenhuma outra alternativa de desenvolvimento da humanidade é possível, a classe dominante opera a nível internacional a perpetuação desse modelo de desenvolvimento.
Não é de hoje que a atualidade das ideias socialistas são questionadas. Mesmo no início século XX, figuras como Bernstein já questionavam a atualidade das ideias mais avançadas da humanidade. A queda do Muro de Berlim e o fim do Campo Socialista, igualmente adverso para a humanidade, colocam mais uma vez em cheque a viabilidade do Socialismo. Mas a quem interessa essa descrença num modelo de desenvolvimento socialista?
Interessa àquele 1% da população que detém mais da metade da riqueza produzida no mundo. Interessa aos grande conglomerados empresariais e aos setores rentistas. Por isso, a luta por um mundo socialista, por um caminho nacional para atingir esse ciclo civilizacional é mais atual do que nunca. Não existe caminho para a humanidade e para o Brasil que não seja o socialismo e desse objetivo estratégico não podemos nos afastar.
Talvez se a força política que dirigiu o país nesses últimos 13 anos tivesse essa convicção, o estado atual de coisas pudessem ser diferentes. Talvez se, paralelo às transformações econômicas e sociais por que o Brasil passou, ocorresse uma elevação no nível de consciência das massas, pudéssemos estar discutindo a aplicação de reformas - no marco do capitalismo - que seriam essenciais para a nossa população, como a Reforma Política progressista, ou a reforma dos meios de comunicação.
Por isso, nós, os de esquerda, não podemos nos dar ao luxo de nadar a favor da corrente, ao sabor dos ventos, da ideologia dominante, da classe materialmente dominante. Precisamos fazer de nossas ideias a bússola que nos guia em tempos de mares revoltos. Só com essas ideias no lugar poderemos conduzir a nossa nau no rumo de uma sociedade verdadeiramente mais justa. Essa sociedade não será concessão da classe dominante, deverá ser uma conquista dos que acreditam e lutam pela revolução, no seu caminho original e único - de país para país. Só assim teremos um mundo livre de opressões e com o justo desenvolvimento de um e de todos. Enquanto houver opressão de classe, enquanto o imperialismo e o neocolonialismo vigorarem, o socialismo será atual e será a saída. Não nos enganemos, por ele vale a pena lutar.
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