sábado, 14 de janeiro de 2017

Com as ideias no lugar para resistir



Os tempos são mesmo difíceis. Não há como negar. Para os brasileiros, os efeitos de uma grave crise do sistema capitalista no mundo tem gerado uma sequência de fatos que desanimam e provocam grande confusão no seio da classe trabalhadora. No mundo, os efeitos políticos e sociais de uma das mais graves crises do capitalismo são os mais devastadores possíveis: o retorno - ou reaparecimento - das ideias fascistas, do nacionalismo de direita, da xenofobia, das guerras e de uma crise humanitária sem precedentes.

Essa crise, que mais do que afetar os bolsos, empregos e condições objetivas da classe trabalhadora, atinge em cheio o horizonte de perspectivas a que grande parte da população almeja. Nesse sentido, as soluções vislumbradas pela população aproxima-se de tudo aquilo que agirá contra ela própria. Provoca fenômenos como o Brexit, a eleição de Donald Trump nos EUA e, aqui no Brasil, uma ascensão das ideias fascistas - tendo como representantes figuras caricaturais como Bolsonaro.

Esse quadro de coisas, obviamente, contribuiu sobremaneira para que o impeachment da Presidenta Dilma pudesse ser consolidado. Mais do que isso, esse quadro de coisas continua contribuindo para que direitos sejam, diariamente retirados. Direitos que pareciam consolidados, como a CLT, são atacados sem nenhum pudor pelos golpistas, aliados - diga-se, capachos - dos Estados Unidos da América.

Nesse contexto, existe uma população imensa que depositou, durante 13 anos da história de nosso país, expectativas de que o Brasil pudesse ter-se consolidado no cenário geopolítico internacional, de que as desigualdades do Brasil pudessem ser combatidas por mais tempo, ou que o Brasil pudesse trilhar um caminho de mais desenvolvimento, justiça e soberania. Mas também existem trabalhadores que viram suas vidas em dificuldade e que, bombardeados cotidianamente pela grande imprensa de que o PT e seus governantes eram todos corruptos, bandidos e que a esquerda como um todo precisa ser banida do Brasil. O ódio alimentado pela imprensa e o consórcio oposicionista brasileiro tem criado uma geração preparada para odiar e para defender qualquer coisa que pareça oposta a ideias de justiça e igualdade.

De um outro lado, intelectuais e parte da esquerda ainda anda perdida diante dos mais recentes acontecimentos. Para se ter ideia, dias antes do golpe ser consolidado, ainda existia setores da "esquerda" que proclamavam o fim do ajuste fiscal como grande bandeira política da época. 

Derrotados, setores da esquerda e da intelectualidade insistem em proclamar a necessidade de a esquerda afirmar-se "ainda mais de esquerda" no período atual. Vários são os que ainda se agarram nas lutas multiculturalistas, muitos ainda se apegam na defesa de coisas de ordem menor - bem menor - na luta política. Por isso, parte desse público elege heróis de compromisso nulo com a luta real, "anti-Bolsonaros" da política, cujos discursos e ações giram em torno do comportamento, da ética e da negação da política - tal qual os representantes da direita como Dória - como maneira de satisfazer suas próprias "consciências".

Diante desse quadro, o que não pode ser abandonado é a ideia de que é pela política - realizada com amplitude - que pode-se reverter o atual quadro de coisas. No entanto, a atividade política precisa ser alimentada das ideias. Das mais justas ideias. Daquelas que proclamam um futuro grandioso para a humanidade: das ideias socialistas.

Para grande parte dos atores sociais citados acima - os de direita e os de esquerda - o Socialismo é uma ideia ultrapassada. Dessa aforma, aproveitando-se de  uma ideia de que nenhuma outra alternativa de desenvolvimento da humanidade é possível, a classe dominante opera a nível internacional a perpetuação desse modelo de desenvolvimento.

Não é de hoje que a atualidade das ideias socialistas são questionadas. Mesmo no início  século XX, figuras como Bernstein já questionavam a atualidade das ideias mais avançadas da humanidade. A queda do Muro de Berlim e o fim do Campo Socialista, igualmente adverso para a humanidade, colocam mais uma vez em cheque a viabilidade do Socialismo. Mas a quem interessa essa descrença num modelo de desenvolvimento socialista?

Interessa àquele 1% da população que detém mais da metade da riqueza produzida no mundo. Interessa aos grande conglomerados empresariais e aos setores rentistas. Por isso, a luta por um mundo socialista, por um caminho nacional para atingir esse ciclo civilizacional é mais atual do que nunca. Não existe caminho para a humanidade e para o Brasil que não seja o socialismo e desse objetivo estratégico não podemos nos afastar.

Talvez se a força política que dirigiu o país nesses últimos 13 anos tivesse essa convicção, o estado atual de coisas pudessem ser diferentes. Talvez se, paralelo às  transformações econômicas e sociais por que o Brasil passou, ocorresse uma elevação no nível de consciência das massas, pudéssemos estar discutindo a aplicação de reformas - no marco do capitalismo - que seriam essenciais para a nossa população, como a Reforma Política progressista, ou a reforma dos meios de comunicação.

Por isso, nós, os de esquerda, não podemos nos dar ao luxo de nadar a favor da corrente, ao sabor dos ventos, da ideologia dominante, da classe materialmente dominante. Precisamos fazer de nossas ideias a bússola que nos guia em tempos de mares revoltos. Só com essas ideias no lugar poderemos conduzir a nossa nau no rumo de uma sociedade verdadeiramente mais justa. Essa sociedade não será concessão da classe dominante, deverá ser uma conquista dos que acreditam e lutam pela revolução, no seu caminho original e único - de país para país. Só assim teremos um mundo livre de opressões e com o justo desenvolvimento de um e de todos. Enquanto houver opressão de classe, enquanto o imperialismo e o neocolonialismo vigorarem, o socialismo será atual e será a saída. Não nos enganemos, por ele vale a pena lutar.

Nenhum comentário: