quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Com a coragem que só a convicção nos dá


Eis que entre os dias 30 de janeiro e 01 de fevereiro me deparo com uma enxurrada de comentários no Facebook acerca das decisões dos partidos de esquerda em relação à eleição das presidências das casas do legislativo brasileiro. 

Vejo comentários até de pessoas bem intencionadas, amigos, conhecidos que a vida trouxe e que são, verdadeiramente, interessados em resistir ao golpe que o Brasil sofreu. Pessoas que acreditam que um novo modelo de sociedade precisa ser gestado. Não sei se o socialismo é o que acreditam, ou se um capitalismo mais humanizado, uma social-democracia basta.

O fato é que são pessoas que conheci nos tempos de universidade, ou de militância do movimento estudantil. Alguns, os que não se envolvem diretamente com a luta político-partidária, influenciados diretamente pela corrente de opinião petista na sociedade - é, o PT é uma corrente de opinião, assim como os comunistas - outros, petistas propriamente ditos, comemoram a decisão de seu partido de na eleição da câmara adotar a tática da demarcação de posição. Tudo bem, é a luta.

O que, nesse episódio, não dá mesmo para aceitar é o questionamento de setores de esquerda às posições do PCdoB neste caso.

O PCdoB, como é de conhecimento de todos, esteve na linha de frente da defesa dos governos populares hegemonizados pelo PT. Esteve porque tinha convicção de que, estava diante de nós, com todas as contradições possíveis, o governo mais avançado que o povo brasileiro poderia ter naquela quadra da história, e de que era preciso fazer avançá-lo, levá-lo mais à esquerda, a superar a encruzilhada histórica por que passava o país e fazê-lo avançar  para um novo ciclo civilizacional.

Nesse ínterim, os comunistas sempre tentaram - mesmo com pouca força - influenciar a força dirigente do país a ter convicção de que era preciso realizar reformas - no marco do capitalismo - que pudessem dar um tom maior de civilidade e progresso ao país. Reformas como a reforma dos meios de comunicação e reforma política sempre estiveram na pauta dos comunistas, desde os períodos de ascensão das forças populares, em que era possível avançar um pouco mais sobre as consciências tendo em vista um projeto emancipador da classe trabalhadora, sobre o qual a força dirigente, infelizmente, não tinha convicção.

A partir de 2015, quando variados setores da esquerda brasileira negavam a possibilidade de golpe parlamentar no nosso país, lá estávamos denunciando o que mais tarde se confirmaria. Tudo isso fizemos sem esperar os louros dos vitoriosos, mas fizemos com a calma e resiliência dos que têm convicção naquilo que acreditam. 

O caminho do PCdoB é longo e pretende ser duradouro; acreditamos num futuro melhor para a humanidade e para o Brasil: um futuro socialista. Dessa forma, para atingir tal objetivo, sobre o qual temos convicção, entendemos a necessidade básica de não nos isolarmos e de fazermos - nessa quadra tão adversa - do parlamento, um ambiente um pouco menos hostil para resistir.

Como afirma a nota da comissão política, "o golpe expurgou a esquerda do governo federal, do Poder Executivo, mas não pode expulsá-la do Poder Legislativo". Não pode, porque lá estarão os comunistas: fazendo parte da paisagem, mas, sobretudo, influenciando a paisagem e sendo foco de resistência das forças progressistas do país. O PCdoB não se isolará no jogo político-institucional, pois tem convicção de que os interesses dos verdadeiros arquitetos do golpe é ver a legenda dos comunistas ser dizimada e fora desse jogo. Não nos curvaremos à vontade da classe dominante, seremos a resistência.

Nesse momento de confusão a que o golpe submeteu o país, mais do que palavras que marquem suas posições, precisamos enfrentar as medidas práticas que tentam entregar o país através de decretos MP's e PEC's; precisamos estar preparados em todos os terrenos, e precisamos ter convicção de que, nesse período de defensiva tática e estratégica, resistir é estar em todos os fronts, com a coragem que só a convicção nos dá, pois como diria Dimitrov:

"Para ser um revolucionário, não basta possuir temperamento de revolucionário: é mister saber também manejar a arma da teoria revolucionária. Não basta conhecer a teoria; é preciso forjar para si mesmo um caráter sólido, com uma inflexibilidade de bolchevique. Não basta saber o que fazer: é preciso ter a coragem de levá-lo a cabo. Preciso estar sempre pronto para fazer, a qualquer preço, tudo o que possa realmente servir à classe operária."

3 comentários:

Ensino de Ciências - Física disse...

Parabéns camarada excelente texto.que seja compartilhado..👏👏👏👏👏👏

Ensino de Ciências - Física disse...

Parabéns camarada excelente texto.que seja compartilhado..👏👏👏👏👏👏

Victor Hugo disse...

Juro que tenho me esforçado, mas os anos passam, e cada vez mais a esquerda se perde na práxis. Ora pelos excessos, ora pela passividade. Entre a teoria e a prática, oque se tem visto, de uma parcela da esquerda que chegou a ocupar espaços de poder, é a busca pela manutenção dos mesmos, nem que para isso a contradição se torne a regra.

Posturas como a de "um pacto sincero", mesmo com opositores ideológicos, devem ser o "modos operandi " num ambiente onde a democracia é respeitada e há comprometimento político dos mais variados setores do poder com seus posicionamentos ideológicos e com o Estado Democrático de Direito, em prol do desenvolvimento nacional, e não num ambiente onde não há segurança constitucional e nem muito menos comprometimento com a democracia e soberania nacional. Nestes casos, ser oposição é "obrigação". Na nossa conjuntura, onde sequer são respeitadas as normas institucionais e o ordenamento jurídico, o discurso se perde em meio aos fatos, no instante em que se associa, exatamente, àqueles que tanto criticamos.

No regime presidencialista, é sem dúvidas imprescindível que haja uma busca pela coalizão das forças. Mas este é um esforço do executivo para o legislativo, que tende a querer avançar com suas pautas, e não o contrário. O Legislativo, por sinal bem definido atualmente, oposição e situação, tem por finalidade equilibrar as forças, manutenciando o não consenso absoluto, que é por sua vez, a razão de ser de um regime democrático. Deste modo, querer aliar-se há um campo distinto, até ontem, cujo qual, várias vezes rechaçado e estigmatizado, pela própria esquerda enfurecida e em polvorosa, sob o "argumento" de que é preciso ser feito um "pacto sincero e transparente entre a maioria e a minoria parlamentar com o objetivo de resgatar o papel do parlamento.
", é no mínimo, contraditório.

Creio tão somente que, o papel da esquerda, na atual conjuntura e em frente, tende a ser o de fazer oposição programática ao atual governo e tudo oque ele representa em todas as suas esferas. Obviamente que com responsabilidade e consciência, diferente dos anos que antecederam o golpe e que contribuíram significativamente e intencionalmente para esta bancarrota econômica, ética e política.

No mais, para que haja dialogo entre os setores, não é preciso que haja aliança, mas sim, maturidade para dialogar e fazer o embate quando necessário for. Então, não precisa apoiar uma candidatura para que haja o dialogo. A não ser claro,que, inocentemente, se espere que isto, e apenas isto, vá garantir o respeito as diferenças. E mesmo que assim o fosse, já seria este um indicio da contradição aparente, afinal, respeitar apenas os aliados, não é lá uma atitude democrática.