sexta-feira, 24 de março de 2017

Ainda nos resta a Seleção


Em meio a golpe de estado, crise econômica sem perspectiva de se encerrar, crise política aguda e entrega do patrimônio nacional e perda de direitos, uma coisa, pelo menos, tem alegrados os brasileiros nesses dias sombrios: a Seleção Brasileira de Futebol.

A seleção comandada por Tite tem dado uma aula de futebol. Alia-se, na seleção, o movimento tático atual, de compactação das linhas, participação marcante dos atacantes de lado de campo na marcação e dos "volantes" na situações ofensivas, com o toque de classe e habilidade que só o jogador brasileiro tem. Além disso, um quê de entrega maior e de um grupo que parece ter comprado a ideia do professor. Enfim, tem sido bonito ver os jogos da seleção, há 7 jogos ganhando de todo mundo que aparece.

Essas coisas me fazem lembrar de um episódio recente, em que, numa loja de materiais esportivos, me neguei a comprar a camisa da seleção brasileira por me lembrar da palhaçada que os coxinhas fizeram nos movimentos pró-golpe, usando a camisa da seleção como símbolo do "nacionalismo" e da "recuperação do Brasil" que eles queriam: um Brasil para poucos, que comia filé mignon na Paulista e tomava Chandon. Todos eles vestiam o amarelo da seleção brasileira, estampada com frases misóginas e escudo da CBF.

No entanto, a Seleção Brasileira, cujo primeiro jogo aconteceu em 1914 contra o Exeter City da Inglaterra e em que pese a influência nefasta da CBF para o futebol brasileiro - incluindo-se aí casos e mais casos de corrupção e ligação umbilical com a Ditadura Militar e o sistema Globo de Televisão - não é e nunca será símbolo da intolerância, falta de democracia e entreguismo. Foi na seleção brasileira que o Brasil pôde ver a ascensão de um negro ao topo mais alto de sua profissão e virar majestade; foi na seleção brasileira que figurar como João Saldanha fizeram sua carreira e defenderam a democracia e é, na Seleção Brasileira, que temos um pingo de orgulho nacional a cada vez que a vemos jogar.

O jogo de ontem, mais uma vez, reafirmou meu orgulho de ser brasileiro. E isso não tem nada a ver com alienação, com pão e circo. Tem tudo a ver com sentimento nacional, vontade de ver, qual no futebol, o Brasil despontando mais uma vez e sendo motivo de orgulho para os milhões de brasileiros e brasileiras que gostam do Brasil. O Brasil que apoia o golpe detesta o Brasil, morre de vontade de morar em Miami e acha que aqui nada presta, igual ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que antes de se enrolar com a Interpol, morava nos "States". 

Por isso, ao sentir esse fio de alegria e esperança, reafirmo: a CBF - e os coxinhas -  não pode ser dona das nossas emoções com a amarelinha. A Seleção Brasileira de futebol é patrimônio do povo brasileiro, assim como a Petrobras. E ela ainda nos resta. Viva o futebol brasileiro. Viva o Brasil.