Uma das características incontestes do último ciclo virtuoso da economia brasileira, golpeado em abril de 2016, foi o combate às desigualdades regionais, promovido por uma política do Estado Brasileiro de descentralização dos investimentos públicos, levando obras estruturais para diversos lugares antes esquecidos do país. Pernambuco foi um dos grandes alvos desses investimentos.
Para se ter ideia dessa mudança de paradigma, o PIB do estado de Pernambuco cresceu em torno de 50% no acumulado entre 2004 e 2012, enquanto o brasileiro acumulou, no mesmo período, um crescimento de 27%. Nos anos de 2013 e 2014, mesmo com a desaceleração da economia nacional, ainda houve um crescimento do PIB de 3,2% e 2%, respectivamente.
*retirado de http://blogs.ne10.uol.com.br/jamildo/2015/06/04/pib-de-pernambuco-cresce-2-em-2014-menor-resultado-dos-ultimos-10-anos/
Essa característica foi reforçada, obviamente, por um papel do Estado brasileiro como indutor do desenvolvimento econômico em âmbito nacional, mas também, a partir de 2006, com a eleição de Eduardo Campos como governador, por uma visão desenvolvimentista aplicada no estado. Foi, no período entre 2007-2010 que Pernambuco alcançou as mais altas taxas de crescimento. Nesse período, investimentos como a Refinaria Abreu e Lima, fábrica da Fiat, estaleiro Atlântico Sul, Hemobrás e transposição do São Francisco, passaram a se tornar realidade. Isso, sem contar com a também descentralização praticada por aqui. A participação no PIB do estado de municípios como Jaboatão e Cabo, beneficiados pela indústria, cresceu no período, enquanto a do Recife diminuiu [1].
Não por coincidência, o estado de Pernambuco, a partir do agravamento da crise cujo vértice maior está relacionado à desnacionalização da economia, desidratação da indústria, sobretudo de engenharia pesada e setor de óleo e gás - setores fundamentais para o crescimento recente do estado -, o estado passa a sentir os efeitos e acumula retração de sua economia de 3,5% [2] em 2015 e 3,6% [3] em 2016. De acordo com a Ceplan, ainda é esperada uma retração de 2,5% [4] da economia do estado em 2017, fruto da paralisação de obras importantes do estado devido à antinacional Lava-Jato e ao ajuste fiscal draconiano que a banca impõe ao país e que o governo golpista impõe aos estados e municípios. Felizmente, como a situação fiscal do estado é razoavelmente controlada, não entramos numa crise semelhante a de estados como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
No plano político, o golpe é uma reedição das empreitadas oligárquicas da elite paulistana. Para as lideranças regionais, resta o papel de "solicitantes" de benevolência do Governo Federal para que se liberem recursos aprovados anteriormente ou até mesmo emenda parlamentares, que passam a ser quase que as principais fontes extras de recursos para o estado. Faz parte do jogo golpista manter os estados "de pires na mão" para que tudo se resolva no varejo da micropolítica que se tornou o Parlamento brasileiro.
Ponto agravante dessa situação é a forma como a direita do estado se organizou no Brasil pós-golpe. Quatro ministros pernambucanos, eleitos deputados graças ao projeto desenvolvimentista liderado pelo PSB no estado agora voltam as atenções para a disputa do Governo do Estado de Pernambuco, querendo reeditar a famigerada União Por Pernambuco e ressuscitar lideranças políticas que tanto mal fizeram ao estado de Pernambuco.
Por isso, diante de uma quadro geral adverso, dois movimentos hão de ser feitos: 1) aos movimentos e às esquerdas do estado em geral, é fundamental identificar o alvo central, que é a direita entreguista alojada no governo central do país e com as armas viradas ao comando do estado; 2) juntar forças em torno de uma frente ampla, que reúna as forças produtivas do estado - setor agroaçucareiro; construção civil etc -; os progressistas, desenvolvimentistas, patriotas e democratas em torno de uma agenda que neutralize a direita entreguista do estado e retome uma agenda de crescimento para o estado que, assim, possa superar a crise.
Não há como isolar a situação local da questão nacional presente. Por isso, clareza nos objetivos e daqueles que são nossos aliados e inimigos é central. Formar uma frente ampla para combater o Governo Temer e encontrar saídas para o Brasil deve encontrar sua materialidade nos estados, arena central das lutas de classes no país. É um bom exercício de tática que deve-se realizar. Pernambuco e o Brasil merecem.
NOTAS:
[1]: http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/economia/pernambuco/noticia/2015/12/19/a-riqueza-produzida-em-pernambuco-esta-concentrada-em-17-municipios-213347.php
[2]: http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2016/03/em-2015-pib-de-pernambuco-teve-maior-queda-dos-ultimos-28-anos.html
[3]: http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/economia/2017/02/16/internas_economia,689572/monitor-do-pib-da-fgv-aponta-queda-de-3-6-em-2016.shtml
[4]: http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/economia/pernambuco/noticia/2016/12/15/pib-de-pernambuco-devera-cair-25_porcento-em-2017-superando-o-brasil-263612.php
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