Falta
a marcha fúnebre, os olhos embargados, as flores e seus cheiros, além das
vestimentas escuras. Mas não há nada que me convença de que ao ver uma mudança
de “status de relacionamento” nas redes sociais não exista a subentendida placa
“Aqui jaz um coração”.
No
mundo das relações virtuais, ter um facebook é praticamente a mesma coisa do
que ter RG. As pessoas nem se preocupam mais em saber onde as outras moram, ou
pedir o telefone. O critério é o facebook. Afinal de contas, como vou saber com
quem ele/ela anda, o que ele/ela faz, ou como se veste, ou pra onde sai¿
Nessas
relações, ter facebook é exigência. Sem ele, não há como controlar, não há como
levantar outra placa, cujas inscrições dizem o seguinte: “propriedade privada
de fulano de tal”. Nas relações pós redes sociais, as declarações de amor são
intensas, com foto-mensagens, frases feitas e copiadas. É o reino da Clarice
Lispector, do Caio Fernando Abreu, e também daqueles que fingidamente se
declaram felicíssimos ao viverem sozinhos.
É
a sociedade do controle invadindo nossas máquinas, são as câmeras das ruas, são
as senhas e portas com detectores de metal, é o facebook lhe obrigando a fazer
o “check-in” a fim de que o companheiro acredite onde você está. Os
relacionamentos foram invadidos pela necessidade da prova de inocência. Não há
inocência presumida. No facebook somos sempre culpados em potencial. À espera
de pagarmos pelo crime que não cometemos.
São
prisões, pintadas de azul e branco, que não lhe permitem “curtir” ou
“compartilhar” momentos de felicidade que precisam e querem ser lembrados.
Relacionamentos de 140 caracteres, que não aceitam o que é clássico. É tudo
dito brevemente. Sem olhos, sem olhares. São frases soltas, copiadas e sempre
bem utilizadas como indiretas. São armas, apontadas pra você a cada hora que a
luz do seu computador acende.
São
velas, dum velório presumido do que chamamos relação. Proteja-se!
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