quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Ausência


“Tchau, pai!” – Dizia eu ao avistar o avião por cima da cabeça.

Andávamos em fila, do maior ao menor, todos acenando com a mão para os seus pais no avião.

Tudo era ausência, ausência presente! Ausência que marca, e que faz parte do cenário. É como o silêncio que diz, como o negro da noite. É tudo ausência.

Ausência gritando por mais atenção, ausência que dá febre!

E de lá de baixo, eu ainda gritava: “Tchau, pai!”.

Ausência, nada mais que ausência, respondendo às chamadas da escola, explicando a excentricidade alheia. Ausência nos gritos de gol, ausência de voz...

E o avião passava, todos os dias... Mas já não achava graça em dizer o “tchau, pai!”

Adeus, a Deus eu pedia, que fosse adeus. Adeus para a ausência, cruzando os dedos para ela se fazer ausente, mas a ausência, teimosa, não deixava de se mostrar, de se exibir.

Mas a ausência é discreta, vez em quando vem me atormentar, nas palavras traiçoeiras de quem te protege, e a gente se acostuma, a gente se ausenta...

Aquela criança do “tchau, pai” tornou-se ausente, ausente dos abraços exagerados, dos sorrisos escangalhados.  Aquela criança, ao ver os aviões passarem, só lembra o quanto de ausência existe no mundo.

E lembra, como se desculpando, que todos somos um pouco de ausência.