Em ano de mais uma eleição
presidencial, na qual, além de obviamente elegermos o projeto que conduzirá o
Brasil nos próximos quatro anos, decidiremos também como serão governados os
estados brasileiros e como serão formados os parlamentos que fiscalizarão o
executivo e proporão as leis de que o país precisa para avançar em reformas
estruturais rumo a um novo projeto nacional de desenvolvimento. Mas, como
vencer e qual o papel das estruturas de poder para, de fato, realizarmos essas
reformas?
A pergunta, embora genérica,
remete a, primeiro, a consciência que o povo brasileiro precisa ter em
distinguir a existência, hoje, de dois projetos bem distintos: um neoliberal,
entreguista e alinhado ao imperialismo estadunidense e outro nacionalista,
desenvolvimentista e com preocupação em acabar com as desigualdades regionais e
sociais (isso para ficar só por aqui). Em episódio recente, por exemplo, a
banca internacional, claramente, através de extratos bancários para possuidores
de contas milionárias no banco Santander, pede para não votar em Dilma por essa
prejudicar seus lucros. Além, é claro, das mentiras e absurdos todos os dias
passados pela mídia e oposição.
Para além de fazer a propaganda
dos governos populares de Lula e Dilma, é importante salientarmos a importância
que o voto tem no atual estágio da luta de classes no Brasil. É comum ouvirmos,
principalmente entre a classe média, o discurso de que as coisas “só vão
melhorar quando o voto deixar de ser obrigatório”. Muitos acham que, da maneira
como são as regras, o voto é exercido por uma ampla camada de pessoas
“incapacitadas para tal”. Ora, além de elitista e preconceituosa essa visão,
ela ignora o histórico de lutas que, tanto no Brasil como em outros países,
foram feitas para que tivéssemos esse direito. Obviamente, o voto não
obrigatório beneficiaria os mesmos que são contra os programas sociais, contra
mais vagas em universidades para filhos de trabalhadores etc.
É salutar relembrar o papel do
voto por que, mesmo acreditando que o sistema eleitoral e a democracia burguesa
não nos satisfazem plenamente, foi através dele que vimos as principais
mudanças pelas quais o Brasil passou em seus 514 anos de história. Foi através
desse modelo de democracia – falho – que realizamos mudanças no plano econômico
(com aumento do passivo externo líquido, fim da dívida com FMI, geração de
empregos); sociais (bolsa família, vagas em universidades, escolas técnicas,
mais médicos etc.) e políticas (intervenção soberana do país perante a
geopolítica mundial, criação do BRICS, integração latino-americana e mais). Foi
e será através do voto – a talvez mais burguesa das instituições e pela qual
derramamos sangue – que poderemos avançar nas mudanças necessárias.
As mudanças também são locais
Essas mudanças, tendo em vista a
diminuição das desigualdades regionais, precisam ser refletidas também nos
estados. Por isso, é importantíssimo elegermos projetos que conectem os estados
com as mudanças geradas no curso da luta política. Deixo, então, três exemplos
distintos de como as particularidades nos estados pesam na hora de decidir o
voto. Em São Paulo, estado com a maior economia do Brasil, os dois projetos
acima citados estão em disputa quase que em paralelo à disputa nacional: de um
lado, o PSDB que dirige o estado há 20 anos e que resume a forma tucana de
governar – para poucos; lá a centralidade da esquerda no projeto da eleição de
Padilha é fundamental para aprofundarmos as mudanças naquele que detém a maior
economia do país. No Maranhão, a conjuntura não é simples: com a finalidade de
derrotar uma oligarquia que governa o estado há décadas e que interfere
politicamente no plano nacional, além de colocar o rico estado do Maranhão com
índices sociais sofríveis; une-se um amplo espectro de forças políticas,
reunindo partidos como o PSDB, do presidenciável Aécio Neves, e o PSB do
presidenciável Eduardo Campos, sob liderança do PCdoB. A justeza desse projeto
justifica a amplitude de alianças em torno da melhoria da vida do povo
maranhense. Aqui, na terrinha, não menos complexo, temos, de um lado, um
projeto que nos últimos sete anos elevou a autoestima do povo pernambucano,
melhorou quase todos os índices sociais e econômicos do estado, elevando a
qualidade da educação, seu acesso e
diversificando a economia local, dando cabo a todos os projetos nacionais que
pretendem a diminuição das desigualdades regionais, mas que tem como principal
padrinho o ex-governador e candidato a presidente, Eduardo Campos; do outro
lado, mesmo estando no palanque de Dilma, Armando Monteiro, empresário, com
formação política de direita e que, em sua atuação no Senado, votou várias
matérias contra a classe trabalhadora. Esse é o cenário de uma eleição
regionalizada, cujas particularidades estaduais precisam ser levadas em
consideração.
Acumular forças é necessário
Por isso, para nós, comunistas,
mesmo considerando o momento eleitoral como o mais importante do exercício da
democracia no nosso país, sabe-se que não podemos nos contentar com isso. Nosso
programa deixa bem claro que é preciso acumular forças em três frentes
essenciais: a frente institucional, a luta de massas e a luta de ideias, sem as
quais será impossível conduzir o país a um Novo Projeto Nacional de
Desenvolvimento. É preciso, portanto, entrelaçar as três frentes de atuação na
hora de decidirmos o projeto e o rumo para o qual devemos apontar. Um partido,
qualquer que seja, dirigido apenas pelos interesses eleitorais, é um partido
sem essência, pragmático, sem programa. Da mesma maneira, um partido que
desconsidere o papal que o exercício do poder político exerce para realizar
mudanças não passa de um movimentismo vazio, pois é no exercício do poder
político no Estado Nacional que podemos exercer poder real sobre a sociedade.
Por fim, é preciso aliar essas formas de luta às ideias, a saber se vamos rumar
para, por exemplo, a política de pés descalços com os Estados Unidos e FMI, ou
se vamos marchar rumo a um mundo multipolar e com relações mais equânimes. No
mais, ideias sem práticas tornam-se objeto de museu, pura tese de quem não vive
a vida real.
É dessa forma, com o discurso
afiado, a disposição na mente e no corpo para lutar em torno de um projeto
justo e a consciência na hora do voto que poderemos conquistar o Brasil que
queremos, que estamos construindo e que iremos ter. Sigamos!
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