quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Educação brasileira: os próximos passos

A chegada de Lula ao poder em 2003, mesmo guardando a devida prioridade ao fim da miséria, através, sobretudo, de programas de transferência de renda, não poderia deixar a segundo plano aspectos fundamentais para a constituição de uma nação soberana; dentre esses aspectos, a sociedade brasileira clamava por uma mudança profunda na educação. Hoje, a educação não sai das bocas e dos discursos de candidatos, sociedade e movimentos sociais. As mudanças aconteceram, mas por que tanta gente ainda clama por mudanças na educação?

Se pudermos olhar um pouco mais para trás, reconheceremos as inúmeras medidas para as conquistas recentes: a ampliação do número de escolas técnicas federais - com a criação dos IF's -; aumento do número de vagas nas universidades federais, com criação de mais universidades e sua interiorização; criação do PROUNI, cotas e REUNI.

Podemos, dessa forma, afirmar sem nenhum medo, que a pauta do acesso, embora hoje ainda seja de 16% a taxa de jovens nas universidades, foi de certa forma superada, mas seus resultados passarão a ser sentidos mais a médio ou longo prazo. Essas conquistas foram efetivadas graças à imensa mobilização dos movimentos sociais, sobretudo da UNE e UBES, que imediatamente depois à conquista de elegermos um operário presidente tinha uma pauta de reivindicações a ser entregue e seus resultados vemos hoje.

A constatação de que muito foi conquistado ao proporcionarmos o acesso não nos imobiliza; muito menos a de que muito há pra fazer nos desespera. É preciso, agora, discutirmos que educação queremos.

O desafio atual, a médio prazo, é discutir o modelo educacional brasileiro, levando em conta, principalmente, a elevação da condição social de mais de 30 milhões de brasileiros. Esses brasileiros, são, em sua grande maioria, jovens que, além de beneficiários dos programas de transferência de renda, beneficiaram-se com programas educacionais como PRONATEC, cotas e PROUNI. Como para cada passo dado uma nova necessidade é criada, é preciso refletir sobre que formação essa "nova classe média" está recebendo. Exemplo maior dessa reflexão é saber que mais de 1 milhão de jovens ingressaram nas universidades através do PROUNI que, junto ao FIES e outras bolsas, contribuem para que a maioria dos estudantes universitários do país estejam em instituições de ensino particulares, cuja lei do mercado regula o tipo de educação dada; muitas vezes - na grande maioria - de baixa qualidade e formadora de cidadãos cujas principais referências são o senso comum: ódio à política; pouca formação crítica e baixíssimo conhecimento de mundo; interessando-se pura e exclusivamente pelas suas áreas de conhecimento e tendo como fontes de informação - quando tem - Veja e Jornal Nacional, ajudando a explicar o fenômeno conservador das eleições recentes

Cabe ao movimento educacional, portanto, incluir na sua agenda o tema da Reforma Universitária com mais afinco, pois, conquistados os recursos, é preciso definir o seu uso: professores valorizados, discussão dos currículos no ensino fundamental, médio e superior, infraestrutura de qualidade. A disputa por um modelo de universidade democrático e de qualidade para o próximo período não se resume à vida universitária, mas influencia no modelo de sociedade e de desenvolvimento que queremos, inclusive na educação básica.

A reforma educacional que queremos deve perseguir a formação de cidadãos críticos, interessados na soberania nacional e em desenvolver o país. Para isso, garantir a permanência dos estudantes nas universidades, instituir os ciclos básicos e acabar com os departamentos são pautas que crescem em importância para os debates vindouros. Transformar a educação brasileira é condição basilar para um novo projeto nacional de desenvolvimento. Suas mudanças são lentas, graduais, mas duradouras, permanentes e sólidas. Bases essenciais de uma nação forte e soberana.

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