A luta de classes, no Brasil e no mundo, não começou ontem. No Brasil, não começou treze anos atrás e, no mundo, vem deixando suas marcas há muitos séculos. Ela, como fruto das contradições entre os possuidores e os despossuídos, tem séculos de existência e um vasto repertório de vitórias e derrotas para ambos os lados.
Para o nosso campo, obviamente, as derrotas são maiores numericamente, afinal de contas, no jogo da história, ainda estamos perdendo, mas nem por isso deixamos e deixaremos de lutar. Imaginem, por exemplo, como deveria ter sido dura a derrota dos jacobinos ao ver o rumo que a Revolução Francesa tomaria. Do fruto da luta daqueles homens e mulheres que viram a grandiosa revolução desaguar num período de terror de estado, monarquia e imperialismo, foram retiradas as lições que influenciaram as ideias socialistas que até os nossos dias nos inspiram.
É preciso pensar no comportamento de Lênin após a fracassada tentativa revolucionária de 1905. Recolhidos da derrota, motivaram-se e reinventaram-se para, doze anos depois, liderar forças e conduzir a Rússia ao maior acontecimento da história mundial no século XX. A Revolução Russa, mais do que uma vitória específica de um país específico, levou os capitalistas mundiais a derrotas profundas, a ter de, obrigatoriamente, garantir conquistas para os trabalhadores do mundo inteiro que, sem a Revolução, nunca teriam sido realizadas.
Lembrem como foi difícil para os comunistas brasileiros, nos seus 94 anos de história, terem seus líderes perseguidos - Prestes, João Amazonas, Maurício Grabois - por tantos governantes diferentes (Getúlio Vargas, Dutra, Militares). Ou como teria sido o baque que os comunistas sofreram ao tomar conhecimento dos documentos secretos do XX Congresso do PCUS, gerando impacto no movimento comunista em todo o mundo, inclusive aqui no Brasil.
Como seria o Brasil e sua posterior redemocratização se tivéssemos perdido o rumo e desistido da luta após a derrota no Araguaia, ou após a derrota das Diretas Já no parlamento brasileiro? Imaginem se os comunistas no mundo tivessem sucumbido ao decreto neoliberal do fim da história, após a Perestroika e o fim da URSS.
Em todos esses acontecimentos, vários foram os que abandonaram a luta e a crença no destino justo e vitorioso da humanidade. Uns, pela marca do derrotismo, sucumbiram às ideias neoliberais e ao niilismo dos fins do século XX; outros jogaram no lixo o legado que a história do movimento comunista nos colocou diante de 100 anos de luta, rejeitaram unilateralmente as nossas conquistas e sob verniz "de esquerda" passaram a adotar "novos métodos", "novas lutas"; lutas que diziam intensificar o caráter de esquerda, consumidos pelo tão antigo esquerdismo - o esquerdismo que combatera Marx na ocasião da unificação da Alemanha, o esquerdismo que combatera Lênin no início da Revolução, e que combateu Stálin em plena luta contra o nazifascismo.
No entanto, diante de tantas derrotas que a história já nos proporcionou, a bandeira comunista mantém-se firme, com a certeza de que a história, assim como a luta de classes, não acabou com o fim desses episódios. Os que acreditam na superação da sociedade de classes, mantiveram-se firmes e fortes, atualizando-se e reiterando a necessidade da construção de um mundo mais justo.
Em todos esses momentos, um exame minucioso de todas as experiências foram feitos. Alguns repetem o mantra da necessidade de "se reinventar", sem, contudo, reconhecer que é preciso fazê-lo sem perder o rumo, sem perder o sentido estratégico de nossa acumulação de forças e nossos objetivos reais.
No momento da derrota, vários se apegam à forma das lutas. Exigem mudanças de comportamento, posturas que reafirmem "o caráter de esquerda das organizações", e esquecem o conteúdo. Esquecem que o conteúdo das posturas esquerdistas é o conteúdo contrarrevolucionário, neoliberal, do individualismo, do niilismo e da falta de crença na superação da luta de classes com protagonismo do proletariado, conduzido pelas ideias mais justas. Esquecem que o conteúdo das posturas esquerdistas, é o da falta de qualquer compromisso que não seja com a "sua imagem" e com os seus "princípios", como se a Revolução fosse feita por jogos de cena e pelo "comportamento". Esquecem que o conteúdo dos esquerdistas é o da traição, do abandono aos princípios emancipadores da classe trabalhadora.
Nas horas mais difíceis, cujo destino da humanidade e dos povos estava em jogo, foi a amplitude - e não o contrário - , a calma, a perseverança e o aguçamento do exercício tático que proporcionaram as mais belas viradas da história. Assim fez Lênin em 17; esse era o sentido do pacto Molotov - Ribbentrop na Segunda Guerra; assim os comunistas chineses fizeram para garantir os rumos da Revolução ao pactuar com Chiang Kai-Shek, assim foi praticado pelos comunistas no Brasil para derrotar os militares no colégio eleitoral. Tudo isso feito, com muita calma, com muita certeza no sentido estratégico das lutas que estavam sendo travadas.
Diante disso, aos lutadores de agora, é preciso manter essa calma e perseverança necessárias para atravessarmos o vendaval. Ser radical, com o perdão do clichê, é atacar a raiz do problema, sua essência. E no Brasil de hoje, a essência do fenômeno consiste em nos defendermos como forma de, num futuro próximo prepararmos as forças para a retomada do poder político, esse sim, o mais importante instrumento de transformação social. Mais uma vez, com amplitude, sem falsos moralismos e na busca incessante de unir o povo e dividir o inimigo. Só assim será possível mais uma vitória da humanidade, no rumo do socialismo. Por isso, estar vivo já é o suficiente para continuar lutando. Contra o esquerdismo de cada dia, calma, paciência e perseverança são atributos revolucionário.
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