terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Era um sonho. Fazer aquela viagem, poder viajar de avião e comprar tudo que pudesse. Sua noiva não gostava da idéia de deixá-lo ir sozinho, sem companhias ou alguém para vigiá-lo. Não confiava nele, como naquele tempo em que sua filha nasceu.
Minutos antes da viagem, eles discutiram, disseram o que cada um deveria dizer durante todo o tempo em que estiveram juntos, mas nunca tiveram coragem; mas mesmo assim, antes de ir, Ele disse: "Te amo".

As palavras soaram estranhas aos ouvidos dela, uma miscelânea de amor, ódio e remorso invadiram seu coração, deixando-a sem reação. Sua única reação foi levar a mão ao rosto, esfregando a sua vergonha e o sangue agitado, e depois, indo se lavar na pia do banheiro. Não deu tempo de se despedir, a porta foi fechada, com grande estrondo.

Lá, Ele foi buscar seus contatos, foi atrás da realização de seus sonhos; o primeiro emprego no exterior, Ele era capaz, tinha feito o Doutorado em Ciências Sociais, falava cinco línguas e era bem relacionado. Ao começar o trabalho, tinha percebido que seria difícil, mas a tentativa de fazê-la feliz superava todos os problemas pelos quais Ele passava. Lutou com unhas e dentes para que se pudesse conquistar o sucesso lá.

Um ano se passou, e foram poucas as ligações entre Ele e Ela, quase todas recheadas de acusações de traição e de desprezo, e Ele se escondia, para chorar copiosamente.

Mais meio ano se passou, e Ela recebe a notícia: nunca mais estarão. Junto com a noticia, todos seus pertences, documentos e roupas, e um único sinal de bens materiais: a chave de uma casa. Ela, finalmente, conseguiu viajar para vê-lo, consegui, também viajar de avião. Usou a chave que recebera para abrir o imóvel, era lindo, bem estruturado. Entrando, só foi possível ver duas coisas: um quadro com diversas fotos dos dois e uma carta não acabada em cima da mesa de canto:

"Finalmente meus objetivos aqui foram cumpridos, consegui comprar a casa que você tanto sonhava, mandarei a passagem para que você venha morar comigo..."

Não conseguiu ler mais, e lá, sonhou mais uma vez...

Febre, fome e frio


Fica fácil falar, quando farto
Fingir fatos feitos à faca
Fabricar falas com faísca
Na facúndia facínora
sem febre, fome ou frio

Fica fácil a falácia
falecendo toda a fé
na voz falha que só falta
a quem tem febre, fome e frio

Há fantasmas farejando
sem fastio e sem favores
só com febre, fome e frio

Mas está feito e fecundado, feroz e fascinante
a fome, a febre e o frio

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Quarenta anos e uma história

Quarenta anos. Em março de 1968, morria o estudante Edson Luís de Lima Souto. Esse ano não ficaria marcado apenas pela morte desse estudante de dezesseis anos, mas sim por uma grande explosão dos movimentos sociais brasileiros; em especial, o Movimento Estudantil.

Inspirados em manifestações estudantis espalhadas por todo mundo (Espanha, Itália, Alemanha), os estudantes brasileiros, liderados pela UNE, tiveram seu momento de maior destaque dentro dos movimentos sociais brasileiros: a passeata dos cem mil, que foi uma grande manifestação em protesto à morte do estudante Edson Luís de Lima Souto e que ocorreu antes do AI-5 ter sido editado. Frases como Morreu um estudante, e se fosse seu filho? Cobriam as cidades sujas pelo sangue da Ditadura Militar.

A UNE, entidade máxima de representação dos estudantes, fez-se presente, de forma protagonista, em todas as lutas e mobilizações contra a Ditadura. Mas, muito tempo antes e também depois, ela já representava o anseio dos estudantes de todo o Brasil; desde a luta pelo fim da Ditadura do Estado Novo, a campanha do petróleo é nosso, e posteriormente, as Diretas Já e o impeachment de Collor. Todos esses momentos nos fazem reforçar a idéia de vanguarda e ousadia que o Movimento Estudantil adotou através dos anos; um movimento combativo e de luta, que levanta bandeiras que espelham a necessidade de todo o povo brasileiro.

Atualmente, o Movimento Estudantil depara com adversários diferentes dos que outrora foram enfrentados. Atravessamos um momento em que é preciso dar perspectivas aos estudantes, um momento em que a universidade seja só o começo. É preciso realizar as reformas de que o Brasil tanto precisa, sendo uma delas a Reforma Universitária. E em Pernambuco, precisamos levantar uma bandeira tão forte quanto todas as outras acima citadas, é preciso dar força ao estudante que clama pela gratuidade da Universidade de Pernambuco, é preciso fazer diferente. O Movimento Estudantil precisa se unir em torno de uma só voz: a voz de todos os estudantes. E, já que citamos 1968, vale recorrer ao que disse Caetano Veloso: para ser tão boa quanto a juventude de 68, é preciso ser diferente... Vamos à luta!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Prêmio Dardos


Postando só pra informar e divulgar essa iniciativa de um grupo de blogueiros para premiar seus blogs favoritos. Esse prêmio consiste na indicação dos próprios blogueiros...

Meu blog foi indicado pelo meu vereador, Leo Bulhões, de quem sou leitor assíduo do "Boteco Socialista". Como é de praxe, o blog indicado deverá: i) colocar a imagem do selo em seu blog ii) Indicar mais 15 blogs iii) favoritar o blog de quem recebeu a indicação iv) avisar aos indicados

Aqui vão meus indicados:

http://juliomeloem.blogspot.com/
http://dashistorias.blogspot.com/
http://espacogregoriano.blogspot.com/
http://vistadecima.blogspot.com/
http://sembarato.blogspot.com/
http://nenhumaimagem.blogspot.com/
http://digressaopassional.blogspot.com/
http://asminhasmaltosidades.blogspot.com/
http://meusdanos.blogspot.com/
http://ivaldojr.blogspot.com/
http://vermelhopurpura.blogspot.com/
http://umes-pe.blogspot.com/
http://balaiodeletras.blogspot.com/
http://cafeinaliteraria.blogspot.com/
http://a-antropofagica.blogspot.com/

Aos indicados, só repetir isso que eu fiz...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Quem são eles?

Durante grande parte da minha vida, fizeram-me acreditar, ou talvez eu próprio fiz acreditar que não havia distinção alguma entre esquerda e direita (mas não é a distinção entre mão esquerda e mão direita!). Talvez a dinâmica de alguns governos ditos de esquerda me fizessem enxergar por essa ótica, a ótica mais óbvia e fácil, a que todos querem que usemos. Mas eu mudei... ainda bem:

Durante a história, vimos confrontos memoráveis entre o que se chama direita e o que se chama esquerda, conceito esse que foi criado desde a Revolução Francesa e "iluminou" a cabeça de muita gente, que quando via injustiça e exploração levantava a bandeira da esquerda lá no alto e lutava pela liberdade. Esquerda nunca foi tão bem usado e próximo do que se convencionou quanto na Revolução Russa; o Socialismo e a luta por dias melhores esteve presente em vários momentos daqueles tempos, e a Esquerda se fazia representar. Talvez, esses tenham sido os tempos em que a distinção Esquerda-direita tenha ficado mais clara.

Só que aí veio Hitler e a exterminação de toda liberdade pra quase todos setores da sociedade (Judeus, negros, homossexuais). Mas o que mais me chama atenção é que muito das lutar de Hitler eram movidas pelo slogan de luta contra os diabos vermelhos dos comunistas, como se o comunismo fosse o verdadeiro mal da sociedade. Era o medo que o status-quo tinha de uma mudança profunda nas práticas sociais. Dessa mesma forma, as Ditaduras que ocorreram na América Latina tratavam os comunistas: diabos vermelhos, comedores de criancinhas, e o medo de uma ruptura em relação ao sistema vigente pairava na mente das elites domiantes. Sem falar na batalha que a CIA, junto ao Santíssimo Papa JP II, travaram contra a expansão do comunismo.

O Brasil e grande parte do mundo redemocratizaram-se, e foi, nesse momento, que a distinção de que falo ficou mais obscura, mas não deixou de existir: FHC, presidente do Brasil por dois mandatos, manteve a política de responsabilidade ZERO do Estado sobre os setores da sociedade: educação, saúde... as privatizações correram soltas, dando cada vez mais poder às elites e sucateando os serviços públicos; além de cercear por completo todos os movimentos sociais (estudantil, sem-terra, sindical), inclusive recebendo-os debaixo de cacetetes.

Escrevi esse post porque, na verdade, duas coisas me chamaram muito a atenção: Há algun dias, postei sobre a lei dos cibercrimes que o senador Eduardo Azeredo(PSDB-MG) está tentando aprovar perante o Senado, disso eu sabia há tempo, só que, recentemente fui pego de surpresa, quando soube que o mesmo senador é autor de outro projeto de lei que determina uma quota para o uso das carteiras de estudantes no Brasil(40%). Com o discurso de "regularização" das mesmas, o tal senador pretende mais uma vez, pretende cercear o direito de milhões de jovens. E o pior: a serviço de quem? E ainda tem gente que diz que não existe esquerda/direita...

Hoje, cientistas políticos de plantão, economicescos e pessoas que ganham dinheiro pra dar opinião (leia-se Arnaldo Jabour) fazem de tudo para desmistificar essa distinção entre esquerda e direita, desmistificam as teorias de Marx, desmistificam o sonho de uma nova ordem mundial; fingem não ver o que está sob seus olhos, mas é completamente interessante e visível a quem eles servem.

Aí, me recordo do que uma menina que leu meu blog comentou, usando Gessinger, muito bem usado, por sinal:

"Vender...comprar...
Vedar os olhos...jogar a rede...contra a parede
Querem nos deixar com sede,
Não querem nos deixar pensar!

Quem são eles?
Quem eles pensam que são?"

Alguém sabe?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Última Reflexão

Mais um passo, sempre mais fraco
Num quarto escuro, manchado pelos meus sonhos
que nunca irão dizer de onde vem o som

Mais um beijo, mais um veneno
mais um fermento pra minha loucura

O Kafka nunca me disse que eu não posso me transformar

dá-me uma xícara de chá
dá-me tua mão, quem sabe eu possa alcançar
traga-me um remédio, que cure todo o mal
traga-me a solução, uma reação para eu buscar

Agora não tem jeito, apagaram toda luz
só vejo desespero e eu me tornando só mais um
desligaram o aparelho para eu não respirar
tiraram todas as portas que eu sonhava derrubar
sedaram o meu corpo, minha mente entorpeceu
colocaram-me na cama, me encaminharam a Deus
pedi mais uma chance pra poder te enxergar
negaram-me a visão, ofereceram-me um lugar
Nos meus sonhos vi o dia em que eu brincava no "noir"
amanhacer de mais uma chance que já vi desperdiçar
cantarolei o que podia em minha última canção

Lira louca, vôo em notas, minha última reflexão...