No ambiente conturbado, de
aguçamento da crise econômica mundial e de seu rebatimento na economia
nacional, a crise política instaurada desde a reeleição de Dilma Rousseff à
presidência da República e todas as suas consequências, tem sido comum, entre
os setores mais consequentes da esquerda, dos quais faz parte o PCdoB, a
repetição de que, em períodos de crise, oportunidades aparecem para o
crescimento partidário.
O exame detalhado da história de
nosso país, e dos comunistas, confirma essa possibilidade. Afinal de contas, é
fato o crescimento partidário obtido por volta dos anos 30 e 40 do século XX,
períodos em que a grande crise de 29, a ascensão do nazifascismo e a II Grande
Guerra deram o tom do que viriam a ser aquele período.
No Brasil, a repressão, perseguição
e preconceito que sofriam o PCdoB naquele momento não impediram os comunistas
de obter resultados eleitorais significativos, conquistando bancadas
parlamentares em grandes cidades, candidaturas a presidente, além de uma
expressiva participação na Constituinte de 1946. Aliado a isso, uma inserção
significativa entre os sindicatos e os movimentos sociais da época, além da
atuação na ANL. A essa atuação, embora inimigos principais tenham sido
combatidos, soma-se a diversidade de temas que nossas lideranças se propuseram
a tratar em suas intervenções: educação, liberdade religiosa, questão racial
etc.
Nesse sentido, mesmo entendedores
de que os fatos que estão postos hoje são diferentes dos de outrora, é
importante realçar a ousadia com a qual os comunistas devem se portar em tempos
difíceis: preservar a identidade partidária, garantir nossa sobrevivência, mas
jogar a rede em busca de novos adeptos às nossas ideias e práticas é urgente.
Por isso, as eleições municipais de 2016 cumprem sentido estratégico na
trajetória de acumulação de forças partidárias. Para tal, entender a natureza
da crise política em que vivemos e utilizar os meios necessários para
superá-la, sobretudo no que concerne ao entendimento da classe trabalhadora,
são pontos nodais de nossa atuação.
A atual crise política do Brasil
é, essencialmente, fruto da radicalização da luta de classes, aqui e no mundo.
Fruto de incontáveis lutas históricas que desaguaram na eleição de Lula em
2002, mas que teve seus desdobramentos na insatisfação das classes dominantes com
as tentativas de perdas de seus privilégios
e conquistas de direitos das classes trabalhadoras. Dessa forma, na tentativa
de desqualificar o projeto, as classes dominantes utilizaram-se, como em
variados momentos da história, da criminalização da atividade política e da sua
correspondente judicialização.
A obra dessa criminalização,
iniciada desde o primeiro dia do Governo Lula, é um efeito perverso na
superestrutura político-ideológica de afastamento das pessoas da atividade
política; quando não, aliados ao niilismo do século XXI, ao modo
pós-modernista, individualista de encarar o mundo, há um preenchimento das
atividades políticas por grupos ditos setoriais, ou minoritários.
Diante desses fatos, antes de
encarar quaisquer juízos de valor, haja vista entendermos o que é central em
nossa atuação política, é necessário termos a mínima correspondência com a
forma com que os movimentos sociais se organizam atualmente e incorporar essa
forma de atuação à nossa tática eleitoral.
Se é verdade que a corrupção e os
acordos políticos escusos não acabarão nem tão cedo, visto que é parte
constitutiva do sistema capitalista, é verdade também que os comunistas e as
forças mais avançadas não podem abrir mão da consciência de inúmeros militantes
que, mesmo não enxergando nos partidos seu modelo de organização, militam por
causas justas.
Nesse sentido, aos comunistas, e
não a outrem, cabe o papel de apresentar à sociedade os homens e mulheres que
lutam pela igualdade de gênero, os que lutam pelo fim do racismo, pela
emancipação feminina, pelo direito à cidade, etc. As eleições devem ser momento
de convergir as várias práticas sociais que deságuam num Novo Projeto Nacional
de Desenvolvimento.
As eleições, dessa forma, cumprem
o papel de mostrar à sociedade que é possível construir opiniões para os mais
diversos setores da sociedade sem desqualificar a atuação política, entendendo
que é possível construir plataformas avançadas, para os trabalhadores, nas mais
diversas áreas de atuação e que o descrédito para com a classe política precisa
ser combatido, fazendo com que os mais diversos segmentos da sociedade se
sintam representados nas chapas próprias
a vereador Brasil a fora. Essa maneira de traduzir a luta específica para a
luta geral é capacidade inerente aos comunistas, portanto a oportunidade de
construí-la a partir do jogo eleitoral não pode passar. É fundamental, é
estratégico.
2 comentários:
O quarto parágrafo sistematiza o conteúdo de nossa tática, no atual contexto da luta de classes no Brasil, complexa e mascarada pela mídia. Com determinação e compromisso estratégico expresso na ousadia dos comunistas acumularemos força. Parabéns Nilson, muito bom.
O quarto parágrafo sistematiza o conteúdo de nossa tática, no atual contexto da luta de classes no Brasil, complexa e mascarada pela mídia. Com determinação e compromisso estratégico expresso na ousadia dos comunistas acumularemos força. Parabéns Nilson, muito bom.
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