quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Perder pra jogar no mundo da CBF e dos inocentes úteis



Ontem à noite me preparei completamente para assistir ao primeiro jogo oficial do Santa Cruz contra um time estrangeiro em uma competição internacional, a Sul-Americana. Cerveja, tiragostos e o amor pelo clube do coração para presenciar esse momento histórico.

Retirando as expectativas frustradas de um futebol que há muito o Santinha não consegue demonstrar, cala fundo, também, a latente desorganização do futebol brasileiro. Afinal de contas, paralelo à participação de quatro clubes brasileiros na segunda mais importante competição de clubes da América Latina, acontecia a Copa do Brasil, a segunda mais importante competição de clubes do Brasil. E é, justamente, a existência paralela dessas duas competições e seus respectivos regulamentos que representam uma das coisas mais bizarras do futebol brasileiro.

Para os clubes brasileiros, classificados para a Copa Sul-Americana através de suas participações no campeonato brasileiro, além da Copa do Nordeste e Copa Verde, efetivarem sua participação nessa competição precisam perder (isso mesmo!) na Copa do Brasil. Essa aberração gera outras aberrações, como a participação mal intencionada de vários clubes, que entregam seus jogos para poder jogar a competição internacional. Ou seja, o regulamento legaliza entregar o jogo, já que não é nem dada a opção de o clube decidir, antes das competições começarem, qual ela deseja jogar.

Esses absurdos do futebol brasileiro só me fazem lembrar da quantidade de inocentes úteis que foram às ruas pedir o impeachment da presidenta Dilma vestindo a camisa da CBF, exemplo de dignidade e eficiência. Eficiência que sempre é questionada pela classe média em relação aos serviços públicos, como se nas iniciativas privadas - a CBF é uma - existisse o reino da eficiência.

A CBF é um arremedo de ladrões e incompetentes. São do tipo dos quais nem se pode dizer "rouba, mas faz", afinal de contas, do ponto de vista financeiro, a organização está repleta e bem paga. Os contratos de patrocínio são altíssimos, enquanto os clubes nacionais e jogadores têm de conviver com aberrações como essa e um calendário ridículo.

A CBF e a forma como se (des)organiza o futebol brasileiro é um retrato do Brasil que a classe média emburrecida e colonizada almeja: uma colônia, cheia de capitães do mato, vendendo barato aquilo que mais precioso temos e auferindo suas gordas gorjetas pelos campos do país. Uma vergonha, simplesmente.

domingo, 11 de setembro de 2016

Nenhum lugar me pertence

Viver é procurar lugar em que repousemos os pés
não há lugar pra ficar
sem ser o lugar de quem vence
majestade, alto, lar
nenhum lugar me pertence

andar é buscar em nós
o caminho que nos faz existir
pedra mágica elixir
pra quem não deseja sumir
sabedoria que convence
que nenhum lugar me pertence

então calar pra saciar
o ar que falta ao sorrir
estratégia um tanto vulgar
de quem não sabe partir
pra onde não consegue, nem que todo dia pense
em achar um lugar
que sabe que não lhe pertence

sábado, 3 de setembro de 2016

Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!


A consolidação do golpe de estado perpetrado pelas forças mais conservadoras do país é, sem sombra de dúvidas, um dos episódios mais tristes da história republicana brasileira. Este blog já emitiu opiniões acerca das causas e desdobramentos dessa ruptura democrática, no entanto, as discussões afloram de rapidamente, procurando, agora, principalmente, reunir forças e estratégias para, num momento de defensiva tática, para que as forças de esquerda sobrevivam ao grande ataque - ainda maior - que vem por aí.

As primeiras impressões, mesmo antes do golpe se efetivar oficialmente (já que o fatídico dia 17 de abril é o verdadeiro dia do golpe), sempre foram catastróficas. O golpista Michel Temer, ainda interino, já promovia uma limpeza nas políticas sociais realizadas nos últimos 13 anos; em pouco mais de 30 dias , conquistas que demoraram décadas para se consolidar, como o aumento real do salário minimo, o direito à moradia e à universidade pública foram ameaçadas ou extintas. No entanto, o interino fazia questão de afirmar que "medidas impopulares" ainda precisariam ser tomadas; como se fosse possível fazer pior do que já estava fazendo. E sim, é possível.

Não obstante, o que gera mais indignação é que o golpe, em determinado momento, foi apoiado por uma parcela considerável das camadas médias urbanas e trabalhadores em geral. Muitos sem saber - ou sem acreditar - que o que estaria por vir seria tão prejudicial às conquistas obtidas nos últimos anos, aliás, no último século, já que a pretensão dos golpistas é concluir a obra que FHC tentou e não conseguiu: acabar com a era Vargas - leia-se acabar com  CLT, a Petrobras e o patrimônio nacional. Além, é claro, de jogar uma pá de cal na jovem democracia brasileira.

Sendo assim, o após a consolidação do golpe e as reais intenções sendo desmascaradas graças às redes sociais, cabe à classe trabalhadora e as camadas médias urbanas voltarem, através das organizações progressistas do país organizarem a resistência que, duramente terá  de ser travada.

É preciso, no momento atual, acabar com qualquer aparência de neutralidade na sociedade. O momento, embora muitos não acreditem, é tão grave quanto o vivido pelo país em 1964. 

Talvez por não acreditarem na capacidade das classes dominantes altear a regra do jogo que sucessivos erros tenham sido cometidos por todos os atores das forças progressistas nacionais, principalmente de 2013 pra cá.

Pra citar alguns exemplos, podemos lembrar da forte queda na taxa de juros promovida pela Presidenta Dilma Rousseff ao final de 2012, início de 2013; alterando aquilo que era central para a oligarquia financeira e rentista do país e de fora, e o silêncio do movimento sindical sobre o assunto naquele momento. Nenhuma manifestação corajosa de defender as medidas que o governo estava tomando.

Mais recentemente, o que se viu foi uma perplexidade geral. O povo, incluindo os beneficiários de programas sociais, assistiram a todas as mais recentes cenas da política brasileira atônitos, sem nenhuma reação. Uma parte - grande, por sinal - da responsabilidade sobre isso, deve-se à própria força hegemônica que, nem educou as massas o suficiente para fazerem sentir-se partícipes da mudança social ocorrida no Brasil e que, no período mais atual, primeiro negou-se a reconhecer que um golpe estava em curso e que, posteriormente, negou-se a buscar alternativas viáveis para enfrentar a situação no Brasil, negando-se a defender o que agora defendem: o plebiscito sobre novas eleições.

A esquerda brasileira, como um todo, é parte responsável por isso. Em muitos momentos faltou identificar o inimigo principal, tal qual a esquerda que, por muitas vezes, patinou no período da morte de Getúlio e a deposição de João Goulart.

No entanto, como sabemos que a história não acaba por aqui, é sempre tempo de rever as práticas e organizar a resistência, nucleada pela esquerda, mas apoiada pelo mais amplo leque de forças possíveis que defendam a democracia e o Estado Democrático de Direito. Tempos difíceis virão, mas a história está em nossas mãos, apenas começamos!

sábado, 27 de agosto de 2016

As Olimpíadas e o fim do respeito às regras do jogo




Amanhã fará uma semana que as Olimpíadas do Rio de Janeiro foram encerradas e, junto com ela, foi-se um grande aprendizado que só o esporte pode dar.

Afinal de contas, ultimamente, aqui no Brasil, só através do esporte podemos conviver com as diferenças e com as regras do jogo e da democracia como vivemos nas Olimpíadas. Poderíamos dizer que os jogos são uma grande lição para os senadores brasileiros que essa semana julgam a honrada, honesta e ilibada presidenta Dilma Rousseff.

Os esportes não deixaram a grande imprensa mentir - embora tenham tentado - como mentem na narrativa sobre o golpe que está sendo dado no Brasil. Os atletas, dos mais variados esportes, usaram os microfones para agradecer a oportunidade que os governos Lula e Dilma deu a eles de aumentarem seus rendimentos e ter a oportunidade de competir. O COB, mesmo sem citar Lula e Dilma, pediu para que o modelo de financiamento do esporte no Brasil fosse mantido e, mesmo assim, nenhuma palavra da grande mídia sobre as conquistas realizadas pelos governos Lula e Dilma sobre os esportes.

Alguns atletas foram mais longe. Denunciaram a onda reacionária no Brasil e seus representantes como Bolsonaro e Feliciano. E mesmo assim, silêncio total da grande imprensa, que preparava ansiosamente seu show de horrores que começou no último dia 25.

As Olimpíadas, mais do que uma lição aos políticos e aos brasileiros em geral, bem que podia ensinar alguma coisa a nossa imprensa, algo sobre honestidade e defesa de bons princípios, sobre convivência democrática e respeito às diferenças. Algo que passou longe nesses últimos treze anos para a imprensa brasileira, partidária e cheia de ódio. 

As Olimpíadas poderiam ter ensinado, através dos exemplos mais variados, que ao se perder uma competição, outra virá quatro anos depois, e então pode-se preparar e voltar com novas técnicas, mais bem preparado, para ganhar o jogo.

Nossa elite não aprendeu isso nunca. Abreviaram o "ciclo olímpico" e no tapetão tentam levar a medalha de ouro que o povo brasileiro há quatro eleições não lhe concedeu. E dessa forma, com um judiciário e demais instituições "dopadas", levam-nos a medalha mais suada de nossa história: a democracia.

E do mesmo jeito que tentaram esconder as causas do melhor desempenho do Brasil na história das Olimpíadas, tentam esconder - muito mal - o que o mundo todo já sabe: que esse processo de impeachment se trata de um golpe.

E desse jeito vamos vivendo e resistindo, com alguns espasmos de convivência democrática e respeito às regras do jogo como vivemos nas Olimpíadas, uma grande lição para senadores e imprensa brasileira, que desconhecem esses princípios.

Mas, tais como as Rafaelas, Isaquias, Thiagos e os Robsons, os brasileiros resistirão e voltarão ainda mais preparados para, novamente, fazer o povo sorrir. Resistiremos.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O problema não é nas pernas


Futebol, para o povo brasileiro, passa muito longe de ser uma brincadeira, é das coisas mais sérias que podemos levar. Não existe exagero algum quando afirmamos que muitos trabalhadores sacrificam suas vidas pessoais para acompanhar seu time do coração ou a seleção canarinha de futebol, objeto de orgulho para o povo brasileiro, esporte que, pouco a pouco, no decorrer do século XX foi capaz de fazer diminuir o complexo de vira-latas que abatia nossa população.

Nos gramados brasileiros, desvirginados por um inglês, Charles Müller, vivemos episódios dos mais felizes de nossa história. Mais felizes ainda os que vimos pelas recém-chegadas televisões em 58, 62 e 70 nas copas da Suécia, Chile e México. Vimos um herói negro, símbolo do nosso povo chegar ao patamar que nenhum outro negro havia chegado na nossa história, posto o racismo existente em nosso país. Vimos grandes times regionais como o Botafogo e Santos das décadas de 60 e 70, Flamengo de 80, além do movimento cívico-esportivo-popular que foi a Democracia Corintiana em plena Ditadura Militar.

Dessa forma, as expectativas criadas pelo povo brasileiro para com a seleção de seu país, sempre são as melhores possíveis, mesmo que os resultados mais recentes digam o contrário. Como já afirmado neste blog, nenhum outro país pode reunir em sua seleção olímpica talentos como os que reunimos na nossa. Mas então por que o "fracasso"?

Não pude acompanhar os dois primeiros jogos da seleção masculina de futebol nas Olimpíadas, mas pude acompanhar a repercussão, e as entrevistas. Sim, as entrevistas de nossos "ídolos" são sofríveis, cheias de chavões e de pouquíssima, para não dizer nenhuma, consciência autocrítica. "A bola não quis entrar" e "jogamos muito bem, mas eles vieram fechadinhos" são os maiores exemplos de uma geração à qual não falta talento, mas sobra desconhecimento do que significa a seleção para os 200 milhões de técnicos existentes em nosso país.

Esse vazio em suas declarações reflete o vazio em que são formados. Não por culpa dos jovens recrutados cada vez mais cedo, são doutrinados a buscar um estilo europeu, colonizado, cujo principal objetivo não é representar seu país, mas fazer parte do mainstream mundial da bola. Europa e seus grandes clubes tem, cada vez mais, se tornado o objetivo principal.

Em tempos como os de agora, em que a democracia brasileira é assaltada, é lamentável não ver, no mundo do futebol, algo que mobiliza milhões e milhões de pessoas semanalmente, não vermos nenhum posicionamento sobre as questões nacionais, como se o futebol, aquilo a que tantos se dedicam, passasse à margem de tudo que está acontecendo no país. Ah, que saudade do que não vi na democracia corintiana.

É assim, com as chuteiras lustradas e a cabeça na Europa, que nossos jogadores aceitam jogar às 22h, mais de 70 jogos por temporada, a mando de gangs como a CBF e a Rede Globo de televisão. Por isso, reafirmo, o problema do futebol brasileiro não está nas pernas dos jogadores, mas na cabeça dos que mandam no futebol e na ideologia colonizada a que todos os maiores talentos do mundo estão submetidos. Parece exagero, mas não é.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Voo

Esta é a vida a que estamos condenados
procurando nos baús de nossas almas
confortos, consolos, vida

Esta é a liberdade que nos devora
sem, ao menos, poder partir

a partida é covarde, não passa impune
enquanto todos te apunhalam pelas costas

e te dizem querer bem

é na estrada, do normal de cada dia que devemos passar

pássaro, então, de asas quebradas
pede abrigo, chora e canta

com a esperança de que um dia            r
esse nó na garganta desfalecerá          a
                                                         o
e falecerá a vontade de partir e     v

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

As Olimpíadas e a chance do futebol brasileiro se redimir


Nesta sexta-feira, um símbolo do Brasil que vivemos nos últimos 13 anos será inaugurado em pleno Rio de Janeiro: as Olimpíadas do Rio 2016. Fruto de um país que, comandado por um operário e por uma mulher, mostrou que é capaz de sediar grandes eventos e mostrar a forma ativa e altiva de se inserir no mundo, seja comercialmente, economicamente ou desportivamente.

Para além da questão de ser uma sede, foi nesse período mais recente que a competitividade dos atletas nacionais passou a ser levada a sério, com a Lei do Incentivo ao Esporte e iniciativas como o Bolsa Atleta, que proporcionaram aos atletas de alto rendimento dedicarem-se integralmente às suas práticas esportivas. Além disso, programas como o Segundo Tempo, elevaram a importância da prática esportiva na vida das pessoas, desde sua infância.

Sem pormenorizar cada aspecto político - relevantes, é claro - e dos demais esportes, cabe ressaltar a estreia do futebol brasileiro nas competições - masculina e feminina - de futebol, uma rara oportunidade que a pátria de chuteiras tem de se reencontrar com sua seleção e com a paixão de voltar a torcer por seu país nos gramados, e que a organização do futebol brasileiro - CBF, técnicos e jogadores - têm de se redimir com os torcedores.

Hoje, logo menos, a Seleção Feminina de Futebol estreia contra a China. Guerreiras, sem nenhum incentivo dos organizadores do futebol brasileiro, mas com um time de craques, esperam - elas sim - que o futebol brasileiro se redima com elas e, quem sabe, serem mais levadas a sério e terem a oportunidade de serem tratadas de maneira equitativa.

No futebol masculino, de estreia marcada para amanhã entre Brasil e África do Sul, uma maneira de se redimir com todos aqueles que, há dois anos, depositaram a esperança de gritar um título de Copa do Mundo em solo nacional.

Naquele período, mesmo com toda a oposição que o evento sofreu, o povo brasileiro se mobilizou e carregou uma grande esperança de ver jogadores de renome como Neymar, Willian, Marcelo e Daniel Alves levantarem a taça. Infelizmente, por questões táticas e técnicas, mas sobretudo, reflexos da nossa organização, sofremos o maior vexame da história do nosso futebol, nem de longe comparável ao Maracanaço da copa de 1950.

Hoje, com uma nova geração, em sua maioria menores de 23 anos (três acima dessa idade), podemos novamente cantar a esperança de levantar um título importante para a história do futebol brasileiro - dessa vez a inédita medalha de ouro olímpica. 

Talentos, nessa geração, são muitos. Diferentemente do que alguns comentaristas esportivos da nossa mídia colonizada afirmam, não temos uma crise de "formação de craques", afinal de contas, que outra seleção tem ao luxo de, na sua seleção que não é a principal, contar com talentos como Marquinhos, Rafinha Alcântara, Felipe Anderson, Gabriel, Gabriel Jesus e Luan? Qual é o outro país que, ano após ano, emplaca 4 jogadores na seleção mundial da FIFA?

Dessa forma, se o problema não é de geração, temos, diante dos nossos olhos, uma ótima oportunidade de ver a recuperação nascente do futebol brasileiro, que, mesmo maltratado pelos seus gestores, tem, na esperança de cada jovem o amor pela bola desde cedo e a vontade de vê-lo bem tratado, começando pelos técnicos e passando aos gestores. Obviamente, um título não significa a mudança que queremos ver, mas ajuda a, pelo menos, esquecermos a tristeza de dois anos atrás. Vejamos.